MUSICA NA REABILITAÇÃO DA AFASIA
Projeto de pesquisa: MUSICA NA REABILITAÇÃO DA AFASIA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Penelopemimi • 27/8/2014 • Projeto de pesquisa • 1.015 Palavras (5 Páginas) • 391 Visualizações
No livro É preciso cantar, os autores fazem a seguinte pergunta: “Se existe uma distribuição geográfica cerebral que registra em hemisférios diferentes, os „sons e análise de palavra‟, onde se situam as letras das canções?” (Milleco & cols. p. 82). A canção tem como característica ser a união da música (linguagem musical) com o texto (linguagem verbal). Então poderia a música atuar como reforço para o texto?
O trabalho com o canto pode ser benéfico observado sobre vários aspectos. Meu interesse aqui está na memória articulatória dos sons da fala. A impostação usada no canto requer um maior empenho do aparelho fonador. Temos com o canto um trabalho de respiração, articulação e de expressividade – ao cantar é necessária uma maior carga de expressão, os músculos faciais são mais utilizados e a gama de freqüências produzidas é bem maior no canto do que na fala.
Luiz Tatit estuda as relações da dicção do cantor com a prosódia (melodia da fala). “Cantar é uma gestualidade oral, ao mesmo tempo contínua, articulada, tensa e natural, que exige um permanente equilíbrio entre os elementos melódicos, lingüísticos, os parâmetros musicais e a entoação coloquial” (Tatit, 1996, p. 9).
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Aparentemente uma função mais complexa do que a fala, o canto não necessita da formulação de um discurso, que exige todas as funções cognitivas íntegras, as músicas já vêm gravadas na memória. Ainda em Tatit: “a fala pura é, em geral, instável, irregular e descartável no que tange à sonoridade. Não mantém ritmo periódico, não se estabiliza nas freqüências entoativas e, assim que transmite mensagem, sua cadeia fônica pode ser esquecida” (op.cit. p.12).
Em vista da condição geral em que se encontra um afásico, é perfeitamente normal alterações de humor e de afeto. De fato, a labilidade emocional é um dos sintomas mais comuns entre os afásicos. Na afasia motora apesar da compreensão preservada, existe uma incrível dificuldade em se expressar e pode ser angustiante para o afásico tentar se fazer compreender. É como uma prisão. Quando ele consegue cantar é como uma libertação: “a voz humana tanto vibra para lançar perto a palavra como para lançar longe o som musical. E quando a palavra quer atingir longe, no grito, no apelo e na declamação, ela se aproxima caracteristicamente do canto e vai deixando aos poucos de ser instrumento oral para se tornar instrumento musical” (Andrade apud Tatit, p. 14).
Para um paciente com dificuldade de expressão, a possibilidade de cantar pode reforçar as memórias articulatórias, auxiliando na produção da fala.
Caso clínico:
Carmem, 50 anos, sofreu em julho de 2003 um AVE isquêmico. Após o acidente apresentava hemiplegia à direita e não conseguia emitir nenhum som. Parecia compreender o que era falado. Comunicava-se gestualmente. Em duas visitas ainda no hospital fiz algumas estimulações sensoriais – olfativas e táteis. Recordo a alegria de Carmem quando conseguiu sonorizar sentindo a vibração de minha garganta. Após a alta hospitalar, acompanhei Carmem por mais dois meses, trabalhando percepção corporal, respiração e reabilitação da linguagem verbal (leitura e fala).
Em outubro de 2003 iniciou tratamento em um centro de reabilitação, indo para a ABBR em janeiro de 2004. Após a avaliação foi encaminhada para os setores de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoterapia e musicoterapia. Carmem começou no setor de musicoterapia em fevereiro do mesmo ano, integrando um grupo de 10 pacientes.
A afasia de Carmem era predominantemente motora. Atualmente comunica-se bem oralmente e consegue andar relativamente bem sem apoio. O maior déficit motor permanece no braço direito. Carmem falou sobre seu processo de reabilitação:
- Como foi depois do acidente?
- Olha, eu passei uma semana sem conseguir falar nada...eu não conseguia ler...acho que a música que me ajudou muito. Como você sabe, eu fiquei escutando música, prestando atenção e repetindo...tentando repetir alguma coisa...mas eu não conseguia falar. Eu não conseguia (como é que se diz?) cantar uma música toda.
- O que você mais gosta no grupo de musicoterapia?
- Olha, eu acho que tudo que a gente aprende lá é importante pra gente.
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