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Musica Nativista

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Por:   •  14/3/2015  •  11.155 Palavras (45 Páginas)  •  239 Visualizações

Página 1 de 45

A Casa das Sete Mulheres - Letícia Wierzchowski

Romance brasileiro

Editora Record

2003, 12ª Edição

ISBN 85-01-06330-4

A Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha (1835-1845) - a mais longa guerra civil do continente, foi uma luta dos latifundiários rio-grandenses contra o Império brasileiro.

As complexas razões do levante estão nos livros de História.

O que não está nos livros de História sobre essa guerra brasileira está neste livro de Letícia Wierzchowski. Porque A casa das sete mulheres é um exercício totalizador sobre a violência da guerra - de qualquer guerra - e sua influência maléfica sobre o destino de homens e de mulheres.

O líder do movimento, general Bento Gonçalves da Silva, isolou as mulheres de sua família em uma estância afastada das áreas em conflito, com o propósito de protegê-las. A guerra que se esperava curta começou a se prolongar. E a vida daquelas sete mulheres confinadas na solidão do pampa começou a se transformar...

Somente um talento literário instintivo e visceral poderia conduzir essa narrativa claustrofóbica e íntima com o sopro épico que varre as páginas do livro. As mulheres daquela casa viviam naturalmente na expectativa das notícias da guerra, que demoravam e eram lentas como as estações que se sucediam. Cartas, recados, bilhetes escritos às pressas trazidos por solitários mensageiros com meses de atraso não bastavam para redimir da solidão. A solidão sufoca. A solidão enlouquece.

As mulheres adoecem de solidão. As mulheres rezam. As mulheres esperam.

Para contar essa história, Letícia transpõe todas as fronteiras.

História e ficção, realidade e fantasia, o natural e o sobrenatural se interpenetram no cotidiano das sete mulheres, cada dia mais violento e sufocante e imutável.

Para contar essa história, Leticia assume a grandeza dos acontecimentos e os transforma em literatura fundadora, edificando um livro sem igual no panorama da literatura brasileira.

O leitor sairá desta experiência transfigurado, tocado pela dor e pela verdade que gemem nestas páginas e pela sutil beleza que a cada momento nos desconcerta.

Tabajara Ruas

Esta história é para ti, Marcelo — todas as histórias de amor são para ti...

E é para João. Pois ele a escreveu comigo nas longas tardes em que também se fez.

''Aprenderam os caminhos das estrelas, os hábitos do ar e do pássaro, as profecias das nuvens do Sul e da lua com um halo.

Foram pastores do rebanho bravio, firmes no cavalo do deserto que domaram esta manhã, laçadores, marcadores, tropeiros, homens da partida policial, às vezes, matreiros; um, o escutado, foi o cantador.

Cantava sem pressa, porque a aurora tarda a clarear, e não alçava a voz. (...)

Certamente não foram aventureiros, mas uma tropa levava-os muito longe, e mais longe as guerras (...)

Não morreram por essa coisa abstrata, a pátria, mas por um patrão casual, uma ira, ou pelo convite ao perigo.

Sua cinza está perdida em remotas regiões do continente, em repúblicas de cuja história nada souberam, em campo de batalha, hoje famosos.

Hilario Ascasubi viu-os cantando e combatendo.

Viveram seu destino como em um sonho, sem saber quem eram ou o que eram.

O mesmo acontece, talvez, conosco."

Os gaúchos — Elogio da sombra

Jorge Luís Borges

No dia 19 de setembro de 1835 eclode a Revolução Farroupilha no Continente de São Pedro do Rio Grande. Os revolucionários exigem a deposição imediata do presidente da província, Fernandes Braga, e uma nova política para o charque nacional, que vinha sendo taxado pelo governo, ao mesmo tempo em que era reduzida a tarifa de importação do produto.

O exército farroupilha, liderado por Bento Gonçalves da Silva, expulsa as tropas legalistas e entra na cidade de Porto Alegre no dia 21 de setembro.

A longa guerra começa no pampa.

Antes de partir à frente de seus exércitos, Bento Gonçalves manda reunir as mulheres da família numa estância à beira do Rio Camaquã, a Estância da Barra. Um lugar protegido, de difícil acesso. É lá que as sete parentas e os quatro filhos pequenos de Bento Gonçalves devem esperar o desfecho da Grande Revolução.

Cadernos de Manuela

O ano de 1835 não prometia trazer em seu rastro luminoso de cometa todos os sortilégios, amores e desgraças que nos trouxe. Quando a décima segunda badalada do relógio da sala de nossa casa soou, cortando a noite fresca e estrelada como uma faca que penetra na carne tenra e macia de um animalzinho indefeso, nada no mundo pareceu se travestir de outra cor ou essência, nem os móveis da casa perderam seus contornos rígidos e pesados, nem meu pai soube dizer mais palavras do que as que sempre dizia, do seu lugar à cabeceira da mesa, olhando-nos a todos nós com seus negros olhos profundos que hoje já perderam há muito o seu viço, a sua luz e a sua existência de olhos de homem do pampa gaúcho que sabiam medir a sede da terra e a chuva escondida nas nuvens. Quando o relógio cessou de soar o seu grito, a voz de meu pai se fez ouvir: "Que Deus abençoe este novo ano que a vida nos traz, e que nesta casa não falte saúde, alimento ou fé." Todos nós respondemos: "Amém", erguendo bem alto nossos copos, e nisso não houve ainda nada que pudesse alterar o curso dos acontecimentos que nos regiam tão dolentemente os dias naquele tempo. Minha mãe, em seu vestido de rendas, os cabelos presos na nuca, bonita e correta como era sempre, começou a servir a família com os quitutes da ceia, sendo seguida de perto pelas criadas, e poucos segundos depois, quando do relógio não mais se ouvia um suspiro ou lamento, tudo em nossa casa recobrou a antiga e inabalável ordem. Risos e ponches. A mesa iluminada por ricos candelabros estava farta e repleta da família: minhas duas irmãs, Antônio, meu irmão mais velho, o pai, a mãe, D. Ana, minha tia, acompanhada de seu marido e dos dois filhos barulhentos e alegres, meu tio, Bento Gonçalves, sua mulher

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