NOVAS FORMAS DE TRABALHO DA ORGANIZAÇÃO E AUTONOMIAS NO LOCAL DE TRABALHO
Tese: NOVAS FORMAS DE TRABALHO DA ORGANIZAÇÃO E AUTONOMIAS NO LOCAL DE TRABALHO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: kaka123064 • 21/11/2013 • Tese • 5.730 Palavras (23 Páginas) • 717 Visualizações
NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
E AUTONOMIA NO TRABALHO
Ilona Kovács
Introdução
Adesignação “novas formas de organização do trabalho” (NFOT) foi muito utili-
zada na Europa, nos anos 70 do séc. XX. Tratou-se de uma perspectiva centrada no
factorhumanoeinseridanummovimentodehumanizaçãodotrabalhoededemo-
cratizaçãodaempresa.Actualmente,arenovaçãoorganizacionalestánaordemdo
dia, porque é entendida como um dos meios essenciais para a sobrevivência e me-
lhoriadacompetitividadedasempresasnocontextodeconcorrênciaintensificada
da economia global. Não é por acaso que a Comissão Europeia lançou o debate so-
bre a renovação da organização do trabalho em 1997, sublinhando, a este propósi-
to, um conjunto de características interligadas, tais como hierarquias mais planas,
horizontalização das estruturas, conteúdos funcionais mais ricos e diversificados,
trabalho em equipa, centralidade das competências, autonomia na realização do
trabalho, confiança nas relações laborais e envolvimento e participação dos traba-
lhadores. Porém, hoje não se trata da realização de programas de mudança com
baseemvaloresdedemocratizaçãoedehumanizaçãodomundodotrabalho,mas
da prevalência de uma perspectiva centrada na eficiência que fundamenta uma
nova vaga de racionalização a que podemos chamar “racionalização flexível”.
A flexibilização referente às formas de organização das estruturas produtivas, às
modalidadesdeorganização,àsrelaçõesdetrabalhoeàscompetênciasdosrecursos
humanosvisaconferiràsempresascapacidadedeadaptaçãoàsmudanças.Otermo
novas formas de organização do trabalho, utilizado tanto nos discursos políticos
como académicos, é ambíguo porque não distingue estas duas perspectivas.
Rejeitando a tese de mudanças unilaterais e uniformes e da generalização do
trabalho inteligente implicando alto grau de autonomia, defende-se a ideia que o
conteúdo do trabalho e o grau de autonomia no trabalho são muito diferenciados
em função de diversos factores. Entre eles, o tipo de divisão de trabalho entre em-
presas no contexto de uma economia cada vez mais globalizada, as lógicas organi-
zacionaisseguidaspelasempresasesuasopçõesemtermosdetipodeorganização
do trabalho, bem como as situações de trabalho concretas de acordo com os níveis
de formação/qualificação exigidos e o grau de estabilidade do emprego. Os con-
textos sócio-históricos, institucionais, culturais e a natureza das relações laborais,
entre outros, também constituem factores de diferenciação.1
Aautonomia no trabalho, em sentido restrito, refere-se à liberdade no exercí-
cio das funções e na realização das tarefas. No entanto, optámos por utilizar um
sentido mais lato, isto é, entendendo a autonomia no trabalho como um espaço de
SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 52, 2006, pp. 41-65
1
Dadasaslimitaçõesdeumtextodestetipo,apenasseráabordadooprimeirogrupodefactores.
decisão e intervenção nos processos de trabalho, abrangendo também a possibili-
dade de autocontrolo e auto-avaliação, e ainda, a participação na organização e no
funcionamento da empresa, bem como a oportunidade de influenciar as decisões
sobre mudanças na organização do trabalho e nas condições de trabalho em geral.
Muitomaisdoquefalardatendênciageralparaoaumentodaautonomianotraba-
lho, o objectivo deste artigo é defender a tese segundo a qual se verifica uma ten-
dência para a crescente diferenciação das situações concretas de trabalho e, por
conseguinte, para uma maior diversificação e desigualdade, no que se refere à au-
tonomianotrabalho.Asdesigualdadesreferentesàautonomianotrabalhotendem
aagravar-secomaexpansãodeformasflexíveise,sobretudo,comasformasprecá-
rias de emprego, com a diversificação e a individualização das relações laborais.
Perspectivas contrastantes sobre a evolução dos sistemas produtivos
Não há consenso acerca da natureza e da direcção da transformação do modo de
produzir os bens e serviços. Para uns estamos numa nova era, caracterizada pela
passagemdaproduçãoemmassadeprodutoseserviçosestandardizadosemqua-
dros organizacionais rígidos para um novo sistema produtivo caracterizado pela
diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação. Uma abundante literatura am-
plamentedivulgadapelosmassmedia,emrevistasespecializadaselivrosbest-seller
anuncia a substituição do velho paradigma pelo novo paradigma e a chegada de
uma nova era pós-taylorista/fordista. Num contexto de forte competição em mer-
cados globais, as empresas têm de melhorar simultaneamente a produtividade e a
qualidade dos seus
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