O LUGAR DOS SABERES TRADICIONAIS NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: ESCOLA OU COMUNIDADE?
Artigos Científicos: O LUGAR DOS SABERES TRADICIONAIS NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: ESCOLA OU COMUNIDADE?. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jujucalderoni • 15/12/2014 • 5.388 Palavras (22 Páginas) • 682 Visualizações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA – VESPERTINO
POLÍTICA EDUCACIONAL E DIVERSIDADE
JÚLIA BORGES CALDERONI
O LUGAR DOS SABERES TRADICIONAIS NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA:
ESCOLA OU COMUNIDADE?
SÃO PAULO
JUNHO DE 2013
JÚLIA BORGES CALDERONI
O LUGAR DOS SABERES TRADICIONAIS NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA:
ESCOLA OU COMUNIDADE?
Trabalho apresentado como requisito de avaliação à disciplina Política Educacional e Diversidade, ministrada pela Prof.ª Drª Rosângela Pietro, no período vespertino do curso de graduação em Pedagogia da Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
SÃO PAULO
JUNHO DE 2013
Resumo
O presente trabalho apresenta um balanço de produções que visou, a partir de levantamento bibliográfico sobre o tema, encontrar em produções diversas, tanto de âmbito acadêmico como governamental e até em bases de um programa educativo televisivo, encontrar as relações entre os saberes tradicionais e a educação quilombola averiguando qual é o lugar destes saberes dentro dos projetos pedagógicos para quilombos. Aborda-se, a partir do que se encontrou nas produções destacadas neste, a conceituação de quilombo, bem como a definição de saberes tradicionais, o âmbito da territorialidade e suas relações com as tradições e cultura quilombola, a educação não-formal, em confronto com a educação formal, questionando-se o lugar ocupado por estes saberes tradicionais e demarcando as possíveis diferenças e semelhanças entre tais saberes e esta chamada ‘educação não-formal’, os valores civilizatórios afro-brasileiros e, por fim, a função sócio-política e econômica do saberes tradicionais para estas comunidades.
Palavras-chave: Educação quilombola; Saberes tradicionais; Políticas de diferença; Cultura; Valores civilizatórios afro-brasileiros; Quilombo; Territorialidade.
Introdução
A educação quilombola é ainda uma política nova no Brasil, bem como um campo recente de pesquisa e produção de conhecimento. A educação diferenciada de grupos minoritários e historicamente excluídos vem sendo reconhecida tanto por pesquisadores como também por órgãos governamentais, como pré-condição para a superação das desigualdades. No caso das comunidades de remanescentes de quilombos tal diferenciação se baseia principalmente em peculiaridades culturais e tradições constitutivas destas culturas de resistência (ALMEIDA; SILVA, 2010).
Simone Ramos de Almeida e Paulo Sérgio da Silva, em seu texto Saberes Tradicionais e Educação Profissional na Comunidade Quilombola do Limoeiro (2010), nos lembram das palavras de Paulo Freire:
Paulo Freire (1980) nos orienta que pensar em educação nos faz acreditar que o homem não é um ser vazio, a quem a escola ou a sociedade vai encher de conteúdos. Este ser que não é completo, é inacabado, carrega saberes, aptidões e capacidade de discernimento e de ação e constitui o fundamento de uma relação que resulta na construção de um conhecimento renovado, ressignificado estimulando o necessário diálogo entre diferentes atores sociais, como é o caso deste estudo. (p.26)
É, portanto, pertinente o aprofundamento no tema dos saberes tradicionais comunitários e suas possíveis relações com a edificação de uma educação quilombola. O objetivo deste balanço de produções é verificar na literatura encontrada se e como se dão tais relações.
Para a seleção dos textos, foi adotada inicialmente a busca nas bases de dados SciELO, teses e dissertações da Universidade de São Paulo (USP), teses e dissertações da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e teses e dissertações da Universidade de Campinas (Unicamp), utilizando-se das palavras-chave “educação quilombola” e “saberes tradicionais”. Foram localizadas nesta busca apenas três produções no SciELO, que uma vez verificadas se provaram não-pertinentes ao trabalho, pois tratavam de outras áreas; a saber Economia, Antropologia e Saúde. Foi então feita uma segunda busca nestas bases de dados, mantendo-se como palavras-chave “educação quilombola” e adicionando-se “cultura”. Mais uma vez nada pertinente foi encontrado.
Foi então feita uma busca no Google Acadêmico , com o primeiro conjunto de palavras-chave e desta vez dezessete resultados, entre artigos, teses, dissertações, entre outras modalidades de produções foi encontrada. Após feita uma triagem, através da leitura de resumos e introduções desses resultados e verificação da aproximação com o recorte objetivado nesta análise (muitos dos textos encontrados apenas citavam os temas “educação quilombola” e/ou “saberes tradicionais”, não sendo desta forma material interessante para este balanço, outros chegavam a tratar o tema, mas de forma tangencial), chegou-se às produções que baseiam este documento.
Escolha de produções
As oito produções escolhidas foram selecionadas por fazerem dialogar, em alguma medida, o tema dos saberes tradicionais com a educação quilombola, seja esta formal ou não-formal. Uma fonte inesperada foi encontrada no Boletim 10 do programa Salto para o Futuro, da rede TV escola , gerenciado pela Secretaria de Educação à Distância. Tal boletim, composto por textos de professores e pesquisadores de referência na área, foi a base para uma série sobre Educação Quilombola que foi ao ar em 2007. Pela pertinência de tal boletim ao tema, foram selecionados deste 4 textos para este balanço. Posteriormente três destes foram encontrados citados como referência em outro texto deste balanço: “Orientações Curriculares Para Educação Escolar Quilombola”, da Secretaria do Estado de Educação do Mato Grosso (SEDUC), escrito por Ângela Maria dos Santos e João Bosco da Silva (s/d).
Procurou-se abranger diferentes tipos de produção,
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