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O nascimento da Psicologia Clínica

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Por:   •  16/6/2013  •  Tese  •  3.147 Palavras (13 Páginas)  •  812 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Podemos dizer que da Psicologia Clínica, sabemos muito sobre aquilo que ela não é, mas muito pouco sobre aquilo que é ou se torna, uma vez que esta disciplina, apesar de seus cem anos de existência é recente e, como a própria Psicologia, está em construção. Parece, entretanto que estar em construção significa estar em crise, estar inserido no caos que é característico da pós-modernidade em que vivemos. O caos, portanto, não é visto como negativo, mas sim como tendência a uma evolução contínua, que vai criando rupturas nas estruturas existentes e produzindo novas diferenciações e paradigmas, como resultado de uma sociedade complexa, rápida e ansiosa por mudanças.1

Ao falarmos em crise na Psicologia, não podemos esquecer que desde o seu nascimento como ciência independente, a Psicologia, ao lado de outras ciências humanas, vive uma crise permanente. Figueiredo (1991) considera que a crise da Psicologia se deve a extraordinária diversidade de posturas metodológicas e teóricas em irredutível e interminável oposição.

As reiteradas tentativas de unificar a Psicologia, a fim de lhe dar o status de verdadeira ciência, têm se mostrado frustradas e acabam por revelar lacunas epistemológicas, legítimos vazios acerca do processo histórico e da constituição da Psicologia como uma ciência que se propõe a relativizar o conhecimento e, portanto, aberta à interdisciplinariedade do saber.

Da mesma forma que a Psicologia, a Psicologia Clínica sofre distorções em seus fundamentos epistemológicos e vem sendo a disciplina que mais se presta a alterações, confusões, falsificações, ou ainda, ignorâncias acerca de seu verdadeiro papel dentro da ciência Psicologia. Pensamos, portanto, que para resgatar a Psicologia Clínica do lugar em que ela se encontra, é necessário conhecermos a sua história , a fim de identificar que razões levaram a clínica a se limitar a uma área de atuação, a uma técnica ou a um modelo teórico.

O nascimento da Psicologia Clínica

A expressão Psicologia Clínica foi usada pela primeira vez em 1896, por Witmer ao se referir a procedimentos de avaliação empregados com crianças retardadas e fisicamente deficientes. É, portanto, no século XIX que ocorre a gestação do espaço psicológico, como menciona Figueiredo (1995).

Conforme este autor, a configuração cultural contemporânea impôs à Psicologia Clínica o lugar de escuta dos excluídos, do dejeto, do não-positivo. Este fenômeno ocorreu devido ao Zeitgeist da época na qual três pólos de forças dominavam o campo do saber, das artes, da cultura, da sociedade em geral.

O primeiro pólo, chamado de liberalismo, continha a idéia de proporcionar meios de representação e interação do excluído, de forma a ampliar o seu autodomínio e sua autonomia. Esse ideal fortemente vinculado aos princípios da Revolução Francesa, pregava que todos os homens eram livres e iguais em seus direitos. O segundo pólo, o romantismo, encontrou sua maior expressão no campo da filosofia e das artes (em todos os gêneros, a diferença ganha o reconhecimento e a expressão do eu, do singular e da subjetividade passa a ser a meta a ser alcançada). Nesse sentido, o romantismo objetivava dar vias de expressão ao excluído.

O terceiro pólo - as práticas disciplinares - construíram-se, a partir da fracassada visão de homem construída pelo liberalismo e romantismo, ou seja, a ilusão de um homem livre, fraterno, com direitos inafiançáveis à diferença, à singularidade, à privacidade e à propriedade, cai por terra com as guerras e transformações do século XIX, fazendo com que o que fosse outrora exaltado, agora fosse o expurgo. É exatamente neste cenário que se descobre a possibilidade de avaliar, controlar, normatizar o homem a fim de ajustá-lo em prol da sociedade. Assim, o pólo disciplinar visava reduzir o excluído, isto é, curar seus sintomas.

Outro fato histórico iria marcar fortemente a Psicologia Clínica. Após a Segunda Guerra Mundial, a Psicologia conhece sua época de maior avanço. Os contatos com a medicina ocorreram quase que na totalidade e as atividades de psicodiagnóstico ganham lugar de destaque na sociedade (Stubbe & Langenbach, 1988).

Partindo deste raciocínio, entendemos que a Psicologia Clínica veio ocupar um lugar determinado, não por ela, mas pela configuração cultural de uma época. Entretanto, o que isto representou num primeiro momento (auto-afirmação e pretensa independência), acarretou para a Psicologia Clínica uma trajetória de distorções e uma complicada definição do que seja seu campo de conhecimento.

Em 1935, uma declaração do American Psychological Association anunciava que a Psicologia Clínica tinha como finalidade:

"definir capacidades e características de comportamento de um indivíduo através de testes de medição, análise e observação e, integrando esses resultados e dados recebidos de exames físicos e histórico social, fornecer sugestões e recomendações, tendo em vista o ajustamento apropriado do indivíduo" (Meiras, 1987, p.186).

A situação atual

As definições acerca do que seja a Psicologia Clínica não estão muito distantes da divulgada em 1935. Macedo (1984), coloca que a Psicologia Clínica está relacionada à compreensão e intervenção nos problemas do homem, visando o bem-estar individual e social e, nesse sentido, a atividade do clínico está popularmente vinculada à psicoterapia.

A grande parte das definições caracteriza a clínica como o estudo do comportamento, abrangendo a psicoterapia. Meiras (1987) expõe que a psicologia clínica é, muitas vezes, definida como o uso de métodos de teste mental, de inteligência, considerando em muitos casos a psicometria como sinônimo de clínica. Num outro momento, a clínica passa a ser o estudo do indivíduo subnormal e anormal e, por fim, surge a definição ligada à medicina.

Lo Bianco, Bastos, Nunes e Silva (1994) consideram que a própria definição do que seja Psicologia Clínica é uma tarefa difícil. Inicialmente, a clínica caracterizava-se por um sistema de atenção voltada ao indivíduo com foco na compreensão e tratamento da doença, vinculada fortemente ao modelo médico, sobretudo na década de 30 com a evolução do psicodiagnóstico. A concepção clássica de psicologia clínica afirma ser esta uma disciplina que tem como preocupação o ajustamento psicológico do indivíduo e como princípios o psicodiagnóstico, a terapia individual ou grupai exercida de forma autônoma em consultório particular sob o enfoque intra-individual com ênfase nos processos psicológicos e centrado numa relação dual na qual o indivíduo

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