OGX - Perdas E Danos (Eike Batista)

“A única coisa certa no mundo dos negócios é que você vai errar. Se tiver humildade para reconhecer esta verdade, terá meio caminho andado para aprimorar suas práticas como empreendedor.”

As palavras do empresário Eike Batista, presentes em sua biografia “O x da Questão”, já soavam em 2011 como uma profecia dos erros que estavam por vir. Hoje sua empresa de petróleo OGX enfrenta um processo de recuperação judicial. Com uma base de 52 mil acionistas pessoas físicas – segundo dados do fim de abril -, investidores que não abandonaram a empresa se apegam à esperança de um desfecho favorável para salvar os recursos aplicados.

Mas os erros cometidos por Eike e sua equipe têm custado caro aos investidores, cada vez mais isolados no percurso da empresa. Aos poucos, corretoras e gestoras deixam de acompanhar papéis que chegaram ao ápice de R$ 23,27 em outubro de 2010 e hoje são cotados a meros centavos. Ainda que com menor apelo dentro da bolsa, especialmente após deixarem o Ibovespa, as ações seguem demandadas por acionistas confiantes no plano de recuperação. É o caso do administrador de empresas Willian Magalhães, minoritário que comprou mais papéis da OGX após o anúncio do pedido de recuperação judicial.

Mas passado um momento de forte turbulência da petroleira OGX em bolsa, o período pode ser oportuno para o mercado financeiro questionar as lições deixadas pela derrocada dos papéis e o que pode ser feito de diferente de agora em diante. Muitos investidores que hoje lamentam a situação vivida pela empresa deixaram de lado preceitos básicos para operar no mercado de capitais.

Um dos primeiros pontos destacados por Jurandir Macedo, doutor em Finanças Comportamentais e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é o de que quem comprou ações da petroleira deveria saber que estava entrando em um negócio de risco extremamente elevado. Macedo também faz menção ao desrespeito do investidor à regra básica de diversificação das aplicações e ainda chama atenção para o movimento de “contaminação” coletiva, com o efeito manada que impulsionou os papéis da OGX.

O excesso de otimismo foi outro fator que prejudicou os investidores, principalmente com a visão de que, quando uma ação enfrenta forte queda, não pode sofrer ainda mais desvalorização. “Não é porque a empresa é grande que não pode quebrar”, comenta o professor.

A administração, contudo, também contribuiu para o quadro nebuloso da companhia hoje. “Desde o início, a empresa deu indícios de baixa governança corporativa”, afirma Macedo, que cita a nomeação do filho de Eike, Thor Batista, para a diretoria da holding EBX.

O educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, alerta que os investidores de forma geral precisam tomar cuidados no mercado de capitais, como pensar no longo prazo e não colocar todos os ovos na mesma cesta. “No caso da OGX, muitos investiam mais por conta da figura do Eike que pela empresa”, diz.

Além disso, muitos deixaram de lado os números do balanço e se fixaram mais atentamente ao volume e ao preço de negociação das ações em bolsa para assumir suas posições, afirma o educador. “Limitou-se a análise a fatores muito superficiais de curtíssimo prazo.”

Dentre as recomendações que não devem ser esquecidas pelo investidor, Calil cita a aplicação com regularidade e o reinvestimento de ganhos com dividendos e juros sobre capital próprio, quando a empresa é lucrativa. O educador financeiro também aponta que o pequeno investidor deve buscar companhias com crescimento. “Dentro de uma carteira, o investidor deve ter pelo menos cinco empresas e, no máximo, 20% [de aplicação] em cada”, diz.

Por fim, o educador assinala a importância de o investidor se manter atualizado e atuante. E isso inclui realizar o prejuízo quando não se vê mais possibilidade de recuperação da aplicação.

E o que fica de aprendizado desse caso? Na visão dos especialistas, muito pouco, dada a visão de que em breve a história tende a cair no esquecimento dos investidores. “Talvez a culpa seja da falta de educação. As pessoas precisam entender o tamanho do risco”, diz Macedo, que bate na tecla da diversificação e reforça a necessidade de análise do longo prazo. “Se você quiser ganhar dinheiro no mercado de ações, tem que investir e desinvestir aos poucos, para pegar a tendência de longo prazo”, afirma.

Assim como Macedo, Calil não mostra confiança com relação a uma mudança de postura após o “episódio X”. “Acredito que grande parte desses investidores dificilmente volta para a bolsa.”

O engenheiro aposentado da Vale Vicente Marotta, 67 anos, tem ações da OGX e está bastante frustrado com o mercado de capitais no momento. Ele investiu nas ações da petroleira em novembro de 2010, pouco depois de elas atingirem seu ápice.

“À medida que o papel foi caindo, meu preço começou a ficar muito distante de uma possível retomada e fui obrigado a comprar mais ações para buscar fazer um preço médio”, diz Marotta, ressaltando que tem hoje uma quantidade de papéis muito maior do que o previsto. A última compra foi realizada no mês passado.

E o que o motivou a acreditar na empresa? O engenheiro civil tinha confiança na competência e seriedade de Eliezer Batista, ex-presidente da Vale, pai de Eike e vice-presidente do conselho de administração da OGX, da MMX, da OSX e da CCX.

A equipe de funcionários da OGX também transmitiu segurança a Marotta, assim como a participação da companhia em sua primeira rodada de licitações de blocos de exploração de petróleo do governo. “E é muito raro no mundo surgir uma empresa de petróleo. E elas, em princípio, são muito lucrativas”, afirma.

Marotta começou a operar no mercado de capitais quando se aposentou, há cerca de dez anos, e hoje