Paul Singer
Ensaios: Paul Singer. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: karinadireito • 22/9/2013 • 2.760 Palavras (12 Páginas) • 544 Visualizações
Paul Singer: "Economia solidária pode ser saída para a crise"
publicado em 23/04/2009
Por Luciana Lima, de Brasília, para a Agência Brasil
Se a crise econômica bate mais forte para os mais pobres, é também nas comunidades carentes que surgem iniciativas que provocam maior dinamismo para as atividades comerciais locais. Clube de trocas, cooperativas de trabalhadores e de consumidores e bancos comunitários são fenômenos da chamada economia solidária que vêm experimentando no Brasil um verdadeiro boom e têm dado condições de sobrevivência a comunidades das periferias das grandes cidades, do campo e de cidades menores.
O economista Paul Singer está à frente da Secretaria de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e Emprego. Ele avalia que, em momentos de dificuldades, há a tendência de que as pessoas busquem alternativas ao modo de produção excludente. “O que menos se troca em um clube de trocas é mercadoria. Troca-se afeição, trocam-se histórias”, cita o economista em entrevista à Agência Brasil, destacando o caráter inclusivo da economia solidária. “O desemprego é horrível porque ele tira as pessoas do meio social delas”, considerou.
Singer evitou previsões sobre o futuro próximo, tentou se esquivar de responder se o pior da crise já passou, mas acabou revelando que vê no atual cenário econômico brasileiro sinais de recuperação. “As vendas no varejo estão crescendo, a indústria automobilística bateu recorde em março, mas não ouso dizer que o pior já passou. Primeiro, porque eu não tenho bola de cristal, segundo, não estou falando como economista profissional. Mas acho que a chance é boa. Saberemos disso daqui a alguns meses”, disse.
Agência Brasil – A economia solidária pode ser vista como alternativa para comunidades que sofrem com o colapso da economia de mercado?
Paul Singer – Com certeza. A economia solidária surge no Brasil em um momento de forte crise. Uma crise à qual eu chamaria de tragédia, que foi a abertura do mercado nos anos 1990. Essa abertura começou no governo de Fernando Collor e depois continuou no governo de Fernando Henrique Cardoso. Nessa época, cerca de 7 milhões de postos de trabalho foram eliminados, porque começamos a importar em uma quantidade maluca todo tipo de mercadoria. Importávamos desde ursinho de pelúcia até guarda-chuvas, da China, da Coréia do Sul e de outros lugares onde o custo era menor. Foi uma tragédia para os trabalhadores brasileiros. O desemprego subiu a patamares nunca vistos. Os salários baixaram e também houve mais pobreza. Nesse contexto é que surge a economia solidária. Ela surge como reação a isso, como estratégia de sobrevivência. As pessoas precisam sobreviver e surgiram experiências na época quase desconhecidas.
Que experiência lhe chamou mais a atenção nessa época?
Surgiram as empresas cooperadas, que iriam fechar, mas os trabalhadores conseguiram se juntar e ficar com ela. De empregados passaram a ser donos. Isso é o sinal mais concreto de que a economia solidária é uma solução para a crise. Ela evita deixar pessoas sem meios e sem trabalho. Milhares deixaram de ser empregados e passaram a ter participações. Na economia solidária, não há emprego. O que existe é participação. Essa é também uma experiência internacional, mas acho que nós, brasileiros, estamos na frente.
Qual a importância da economia solidária no Ministério do Trabalho?
Exatamente por causa dessas empresas cooperadas, que surgiu diretamente da iniciativa dos sindicatos. Quando há uma falência, os trabalhadores são credores da empresa, seja porque ela não pagou os últimos salários, as contribuições para o INSS [Instituto Nacional de Seguridade Social]. No fundo, os trabalhadores têm um crédito e, com esse crédito, se candidatam a ficar com a empresa e mantê-la funcionando. Todas as empresas cooperadas no Brasil, e são muitas centenas hoje, se formaram a partir de iniciativas dos sindicatos. Por isso é que o movimento da economia solidária faz parte do movimento operário e camponês.
O senhor acha que os efeitos da crise no Brasil já estão sendo superados ou essa crise é mais profunda do que se imagina?
Se as pessoas acreditarem que estamos saindo da crise, elas vão agir como se estivéssemos mesmo já saindo. E aí sairemos mesmo. Esse é um ponto que as pessoas, em geral, entendem logo, mas não descobrem sozinhas. A previsão faz o futuro. Se as pessoas forem pessimistas, o futuro será ruim, porque elas vão se preparar para esse futuro ruim. Os mais conservadores estavam exigindo que o governo cortasse gastos. Mas se o governo fizesse isso com a previsão de que iria arrecadar menos, iria mesmo arrecadar menos. O governo está gastando por conta. A arrecadação subiu um pouco, mas o governo está gastando mais. Agora, claramente a economia está se recuperando. As vendas no varejo estão crescendo, a indústria automobilística bateu recorde em março, mas não ouso dizer que o pior já passou, primeiro porque eu não tenho bola de cristal, segundo, não estou falando como economista profissional. Mas acho que a chance é boa. Saberemos disso daqui a alguns meses.
Em que pontos a economia solidária se distingue da economia capitalista?
A economia solidária tem tudo ao contrário da economia capitalista. A economia capitalista se baseia essencialmente na propriedade privada, de meios de produção, ou seja, as fábricas, os escritórios, as clínicas, tudo tem dono. Esse dono é quem emprega trabalhadores em troca de um salário e que os trabalhadores façam o que ele manda. Na economia capitalista, a empresa está inteiramente a serviço dos interesses do dono, que é maximizar o lucro. Nem consumidores, nem trabalhadores têm poder. Quem tem poder é quem tem o capital. Na economia solidária não tem isso. Os donos dos empreendimentos são os trabalhadores ou os consumidores.
Mas como isso funciona?
Dois tipos de empreendimentos podem ser formados na forma de cooperativas, mas não necessariamente. No entanto, o cooperativismo foi a forma legal mais fácil de se organizar. As cooperativas podem ser de produção, que são também chamadas de cooperativas de trabalhadores. Nesse caso, não tem patrão. Os próprios cooperados administram o empreendimento de forma coletiva, dividem o capital entre eles, por igual, e nas decisões que precisam ser tomadas, cada um tem um voto. Esses são os princípios básicos de qualquer cooperativa e da economia solidária. Há cooperativas que fazem suas assembléias
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