Resenha Cheios do Espírito
Por: Lucas Tucci • 24/9/2020 • Resenha • 1.751 Palavras (8 Páginas) • 127 Visualizações
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LUCAS RODRIGUES TUCCI
RESENHA CRÍTICA
ALGUSTUS NICODEMUS – CHEIOS DO ESPÍRITO
Resenha feita sob as exigências da disciplina de TS4, do professor Presb. Solano Portela, do curso matutino de Teologia
SEMINÁRIO PRESBITERIANO
REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
SÃO PAULO
2020
RESENHA
LOPES, Augustus Nicodemus, Cheios do Espírito. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998.
Nesta obra o Rev. Augustus se dispõe a combater os falsos ensinos e práticas da igreja brasileira no que se refere a pessoa do Espírito Santo. Em primeiro lugar o autor trata uma zelosa análise bíblica da carta de Paulo aos Efésios. O contexto revelado aponta a centralidade da doutrina do Espírito Santo nos diversos assuntos da Carta. Existe nisto um aspecto central não simplesmente pessoal, mas eclesiástico. As diversas recomendações e assuntos são dirigidos ao coletivo, ou seja, a igreja, e isto deve ser mantido em perspectiva.
Nicodemus argumenta então sobre a pessoalidade do Espírito Santo. O Espírito de Deus não é uma força impessoal sujeita ao controle humano, é, porém, controlador daqueles em quem habita. A primeira evidência disso é a santidade, processual, sob obediência a palavra de Deus. Reações físicas descontroladas não remetem então a presença do Espírito Santo, ainda que sua presença possa causar reações visíveis, fruto da profunda convicção de pecado. Há uma dissonância destes ensinos com a narrativa de Atos, por ser aquele um período transitório que aponta propósitos específicos na história da salvação, e não ações normativas do Espírito Santo.
Entende-se, entretanto, que a ordem de Paulo a plenitude do Espírito Santo deve ser obedecida. Esta ação por parte dos crentes está no campo da santificação, onde a presença do espírito santo é inversamente proporcional a vida de pecados. Para buscar a santificação e a plenitude do espírito Santo, não é exido pela palavra qualquer rito estranho, senão aos crentes fazer uso dos meios de graça expostos na palavra de Deus.
A discussão passa então ao conceito de batismo no Espírito Santo. Sob os ensinos de Lloyd Jones e Stott, Nicodemus mostra as experiências contidas em seus ensinos, considerando o contesto do tempo. Assim, compreende-se que o batismo com o Espírito Santo é o ato de inserir o crente no corpo de Cristo. Isto, porém não anula o aspecto contínuo do crescimento em santidade, bem como os avivamentos que conduzem a santidade. Após uma cuidadosa análise gramatical, a decisão final fique a cabo da teologia contida. Logo, para uma conclusão exata sobre receber o Espírito e ser por ele batizado, é necessário um aprofundamento nos estudos dos Evangelhos e de Atos.
O primeiro fato relevante a abordagem do Rev. Augustus, ainda em sua apresentação, aponta o método histórico gramatical para expor a teologia contida neste assunto. Quando o tema é a pessoa do Espírito Santo, há uma mistificação do assunto, tornando a argumentação subjetiva e baseada em experiências pessoais. Porém quando o meio de investigação está cativo a bíblia, a análise comprova ou reprova a experiência a luz das escrituras.
Sua primeira linha de argumentos tira a atuação carisma individual dos leitores de Efésios. A primeira linha de pensamento apresentada insiste na perspectiva de que a atuação ordinária do Espírito Santo ocorre no contexto da igreja, e consequentemente desdobra-se aos indivíduos. Prova disso, são as exortações práticas da carta, que sempre corroboram o coletivo. O ensino do Rev. Augustus confronta já em sua primeira exposição a vida cotidiana dos movimentos carismáticos de nossos dias, bem como os de todos os tempos. Pois nota-se uma atividade sacerdotal de homens que são conhecidos por serem “cheios do espírito”. Dentre os possíveis frutos deste pseudo sacerdócio, não se encontra edificação, santificação, ou unidade da igreja de Cristo, senão apenas confusão. Neste ensino a obra é diretamente aplicável a nossos dias.
A glória de Cristo na ação do espírito santo também é um forte indício da enfermidade das igrejas contemporâneas. Entende-se que na economia da trindade há atuações específicas das pessoas, porém uma unidade intrínseca no ser de Deus. Quando os homens, supostamente sob o “poder do espírito” contradizem a pessoa, a obra e o ensino de Cristo, é revelada uma incongruência. Ou não há harmonia entre a primeira e a segunda pessoa da trindade, ou o Espírito de Deus não está de fato agindo por meio desta pessoa. Esta relação intra trinitária é exposta novamente ao abordar a plenitude do Espírito. Nicodemus aponta que “Ser cheio do Espírito é a mesma coisa que ter a palavra de Cristo”[1]. Assim, qualquer ação atribuída ao Espírito que incorra em dissociação da trindade, é claramente errônea.
Parece haver em nossos dias pessoas que possuem um monopólio do Espírito, sendo dominadores deste, porém isto não encontra subsídio nas escrituras. Nem mesmo os discípulos dominavam a capacidade de operar milagres, senão eram pelo Espírito conduzidos a fazê-los. Este argumento que não recebeu um título específico, mas está contido no texto em pequenas incisões do autor como é de que as ações extraordinários do livro de Atos não se repetiram com constância no ministério dos apóstolos. [2] Isto revela que tanto o poder quanto o momento para fazê-los, não são decisão dos apóstolos, mas sim fruto do controle do Espírito. Evidência própria disso é o apóstolo Paulo ser incapaz de livrar-se de um espinho em sua própria carne (2Co 12), ou mesmo receitar uma espécie de remédio as dores estomacais de Timóteo (1 Tm 5.23). De fato, Paulo não domina o Espírito Santo, senão é por ele mesmo dominado. A forma de criticar este assunto é sucinta no texto.
O efeito visível da plenitude do espírito santo, é então ser por ele dominado, e não o dominar. Esta é uma clara vertente do autor apontar a relação bíblica com a pessoa do Espírito Santo. Uma vez que o Espírito domina alguém, o resultado desta submissão é Santidade. As escrituras apontam como evidência da ação do Espírito a profunda convicção do pecado, o arrependimento, e a conversão a obediência de Cristo. Oposto a isso, movimentos avivalistas apontam para manifestações físicas como símbolo da presença do Espírito Santo. Nicodemus assim expõe a falácia das exibições públicas de choros, risos, síncopes, línguas desconhecidas, entre outros descontroles, como falsas manifestações do espírito, pois em nada produzem santidade. Certamente há reações físicas e choros, porém estes são “resultado de uma percepção das grandes verdades de Deus”[3]
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