Resenha Dimensões de uma Pandemia
Por: Felipe Ferreira Isabel • 5/1/2021 • Resenha • 979 Palavras (4 Páginas) • 191 Visualizações
As últimas décadas do século XX trouxeram para o seio das pesquisas realizadas pelas ciências sociais os temas saúde e doença, estes que anteriormente discutidos apenas pelas ciências biomédicas. A motivação para o estudo das doenças pelas ciências sociais e humanas se dá pelo fato de que é necessário entender o contexto social no qual a patologia está inserida.
O advento de uma epidemia traz consigo a urgência de inovações médicas, bem como se faz necessária a criação de políticas públicas de combate à doença, o que pode ser utilizado para estudos além daqueles realizados pelas ciências biomédicas, se inserindo neste rol as ciências humanas e sociais.
As epidemias causadas por doenças contagiosas são fatos recorrentes na historia humana, sendo estudada pela tanto pela história da medicina quanto pela historia sociocultural. As interações entre o Estado, suas políticas econômicas e de saúde públicas, o conhecimento médico e a sociedade são os pontos em comum estudados pela historiografia.
A epidemia da gripe espanhola que teve início em 1918, que entre agosto e dezembro do referido ano se alastrou pelos continentes, é tema recorrente em pesquisas historiográficas realizadas no Brasil e no mundo.
Um dos trabalhos realizados sobre a epidemia da gripe espanhola é o livro: A gripe espanhola em São Paulo, 1918: epidemia e sociedade, de autoria de Cláudio Bertolli Filho, publicado pela Editora Paz e Terra em 2003, obra na qual é analisada o impacto da doença na cidade de São Paulo.
Para a realização da pesquisa o autor não se ateve apenas a documentos oficiais, vez que estes não eram suficientes para a análise do impacto social proveniente da doença, desta forma o autor utilizou-se documentação administrativa, publicações médicas, dados estatísticos, relatórios hospitalares e de organizações religiosas, fontes iconográficas, narrativas de memorialistas, depoimentos orais, jornais diários, além da bibliografia específica para realizar seu estudo.
A obra é dividida em dez capítulos onde são narrados os impactos da epidemia na capital paulista.
No primeiro capítulo o autor analisa as conseqüências da doença dentro da sociedade da capital, traçando um perfil patológico da metrópole, analisando a realidade dos estratos sociais que ali residiam. Segundo Bertolli Filho, a quantidade de óbitos por doenças infecto-contagiosas estava diretamente ligada à condição socioeconômica de cada grupo social e à infra-estrutura presente no local onde residiam
No segundo capítulo o autor versa sobre a imprecisão dos dados do Serviço Sanitário quanto à doença e sua mortalidade, tendo ele considerado que os dados computados, não correspondiam com a realidade. Tal disparidade entre dados e realidade se dava pelo fato de que a gripe não era uma doença que deveria ser notificada obrigatoriamente, nem todos os enfermos tinham acesso à saúde pública, a falta de funcionários no órgão responsável pelas estatísticas sanitárias, bem como pelo fato dos médicos não registrarem a influenza como causa da morte de pacientes.
Desta forma a fim de criar uma quadro mais realístico quanto ao numero de vítimas, Bertolli Filho utilizou-se de livros de cemitérios das dez necrópoles que existiam na capital, comparando os dados nestes livros com os obtidos nos registros Serviço Sanitário do Estado de São Paulo.
Realizada a pesquisa e estabelecido um numero aproximado de vítimas da gripe espanhola na capital paulista, Bertolli Filho confronta tais dados com sua teoria apresentada no primeiro capítulo. Para Bertolli a mortalidade da doença não está ligada a relações de sorte ou azar, estando verdadeiramente ligada às condições socioeconômicas de cada grupo social, Ao desenhar um mapa da mortalidade por influenza na cidade de São Paulo, o autor encontra um elevado número de mortos no distrito da Consolação, região que abrigava a elite paulista, o que vai de encontro à sua teoria, que dizia que era nas camadas sociais mais pobres onde estariam o maior número de mortos.
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