Resenha Crítica do Livro “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago, Correlacionando Com a Atual Conjuntura da Pandemia do COVID-19.
Por: Larissa Mattos • 3/6/2020 • Resenha • 677 Palavras (3 Páginas) • 602 Visualizações
Resenha crítica do livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago, correlacionando com a atual conjuntura da pandemia do COVID-19.
Larissa M. Pereira
Ensaio sobre a cegueira, livro escrito por José Saramago em 1995, traz a história de uma epidemia de cegueira que se espalha por uma grande cidade, gerando caos e isolamento.
Um homem em seu carro não avançou o sinal quando o semáforo ficou verde, pessoas vão até ele para entender o que está acontecendo e o encontram apavorado dizendo “estou cego”, assim se inicia a chamada cegueira-branca, este nome se deu, pois, diferentemente das outras cegueiras, esta é descrita como se estivesse mergulhado de olhos abertos em um “mar de leite”.
Após este senhor procurar um oftalmologista, o mesmo fez diversos e exames e não encontrou o motivo para tal cegueira e, na manhã seguinte também estava cego. Imediatamente o médico procura avisar as autoridades de tal possível epidemia. Uma ambulância fora busca-lo juntamente com sua mulher, que fingiu estar cega para poder acompanhar e cuidar de seu marido. Ambos foram levados para um manicômio desativado, sendo este um ambiente sujo e precário, em que estes receberam orientações de que não poderiam ter contato com o mundo externo, se tentassem fugir morreriam imediatamente, e diversas outras orientações abruptas foram fornecidas quanto à higiene, segurança, alimentação e, em caso de morte, os próprios deveriam enterrar uns aos outros à beira da cerca.
Após a chegada de tantos outros infectados, o caos dentro do manicômio aumenta, em que cada cego luta pela sua sobrevivência, entregando-se de tal forma ao desespero que acabam por abandonar qualquer traço de humanidade. Criam grupos, hierarquias, um procurando tirar vantagem no outro, criou-se um cenário de terror, com doenças, estupros, brutalidade e egoísmo. Tais pessoas não estão doentes somente pela cegueira, mas sim pela falta de humanidade.
Dito isso, é possível compreender o que o livro traz sobre a cegueira, de que “o pior cego é aquele que não quer ver”, aquele que em meio ao caos, fecha os olhos para tantos outros problemas, passa a enxergar apenas aquilo a que te diz respeito, ignorando as dificuldades dos outros, deixando de ter um cuidado acolhedor e de respeito para com o próximo, sendo aqueles que tiram proveito das situações, buscando somente o bem pessoal, sem se importar com o que tais atitudes podem acarretar para o próximo.
Trazendo para a atual realidade, quando nos deparamos com o COVID-19, encontramo-nos, de certa forma com uma realidade muito parecida, em que autoridades tomam atitudes impensadas, buscando ignorar ou isolar o problema ao invés de estuda-lo e tomar medidas cabíveis para cuidar, proteger e auxiliar aqueles que se encontram em estado de fragilidade em meio a atual conjuntura. Regras são quebradas, pois ninguém mais vê quem está agindo certo ou errado; os mais fortes abusam do poder; e o instinto de sobrevivência vão tomando conta dos homens.
Os seres humanos, tanto no livro quanto na realidade atual, mostram-se moralmente e culturalmente selvagem, egoístas e dominados por apetites bárbaros, tiram proveito da necessidade do próximo, aumentam consideravelmente os valores de alimentos, itens de higienização e proteção, pensando somente nos lucros pessoais, ignorando as necessidades daqueles mais frágeis e sem condições.
Em meio a tudo o que foi relatado até o momento, é possível levantar a compreensão de que os seres humanos estão cada vez mais doentes não só fisicamente, mas principalmente, mentalmente.
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