Resenha: "Muito Além Do Peso"

MUITO ALÉM DO PESO

MUITO Além do Peso. Direção: Estela Renner. Produção: Maria Farinha Filmes. Brasil, 2012. 84 min. Color, Digital. Documentário, Livre.

Estela Renner, paulista, 40 anos, é diretora e roteirista, mais conhecida por seu trabalho com cinema documental. Morou 7 anos nos Estados unidos, onde trabalhou com cinema e conquistou seu Mestrado em Motion Pictures com especialização em direção e roteiro. No Brasil, dirigiu campanhas publicitárias para a Master Card, Coca-Cola, e outros mais, bem como dirigiu o média-metragem “Criança, a Alma do Negócio” em 2008, além de dirigir alguns trabalhos para televisão. “Muito Além do Peso” é seu primeiro longa-metragem.

O documentário “Muito Além do Peso”, dirigido por Estela Renner, entrou em cartaz em novembro de 2012, sendo exibido em três sessões da 36° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em um contexto de amplo debate sobre a qualidade da alimentação das crianças e os efeitos da comunicação mercadológica de alimentos dirigida a elas, os seus idealizadores apontam para a questão da epidemia de obesidade infantil, atentando-se para o fato de que, em consequência desse problema, as crianças estão apresentando cada vez mais doenças tidas como “de adultos”, tais como, problemas cardíacos, respiratórios, diabetes tipo 2, entre outras. Com isso, os autores procuraram elucidar o papel e o envolvimento do governo, dos pais, das escolas e da publicidade na temática, na busca de sensibilização e mobilização da sociedade sobre os problemas decorrentes do consumismo na infância.

A obesidade infantil já atinge quase 40% das crianças brasileiras, se configurando como um dos problemas de saúde pública mais grave do século XXI, e nesse sentido, merece uma abordagem ampla e interdisciplinar na discussão de suas causas e consequências. Nessa perspectiva, os idealizadores do documentário buscaram reunir uma série de depoimentos de especialistas em várias áreas do conhecimento, além de consultar profissionais para a elaboração do material exibido, apresentando, ainda, entrevistas com famílias e casos de obesidade infantil oriundos de variadas regiões do nosso país.

Em resumo, o documentário compartilha de forma plausível aspectos político-econômicos que permeiam a problemática da obesidade infantil. Ocorre a exposição de forma crítica sobre a influência gigantesca e desleal das indústrias de alimentos e bebidas nas decisões de governo e da população em seu dia-a-dia, polemizando a questão da publicidade voltada para o público infantil, bem como a falta de educação nutricional e o grande número de produtos industrializados na merenda escolar, além da falta de incentivo a prática de exercícios físicos, aliado a grande quantidade de horas desperdiçadas em frente à TV e a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis. Na tentativa de provocar uma reflexão maior, por parte dos entrevistados, assim como nos telespectadores, as quantidades de açúcar e gordura existentes em vários alimentos industrializados são apresentadas, causando espantos e impactos negativos nos entrevistados.

O documentário nos convida a abrir os olhos e enxergar a realidade a qual nos encontramos. De fato, os autores conseguiram trazer a tona, de forma louvável, a questão da publicidade e sua influência frente às escolhas da população, principalmente no que diz respeito ao marketing de alimentos e bebidas, de elevada densidades energéticas e pobres em micronutrientes, induzindo as crianças relativamente às suas escolhas, consumos e preferências alimentares, assim como, compras de alimentos e bebidas e pedidos que fazem destes produtos aos pais, contribuindo para a obesidade infantil pela sua influência negativa nos padrões de consumo alimentar das crianças. Indo de acordo com o que Rodrigues et al. (2011) coloca:

“Apesar dos níveis crescentes da prevalência da obesidade infantil, a maior parte dos alimentos publicitados dirigidos a crianças são ricos em calorias, gordura, açúcar e/ou sal, o que levanta sérias preocupações Éticas e de Saúde Pública, já que as crianças representam um alvo bastante vulnerável pela sua incapacidade de percepção das intenções persuasivas da publicidade” (RODRIGUES et al., 2011, p.180).

Entretanto, embora o documentário se mostre bastante pertinente e tente nos repassar o ponto de vista dos seus idealizadores num contraste que revela tal realidade o mais próximo possível da nossa vivência, realizando, por exemplo, entrevista com crianças, identificando-as por nome e idade, e apontando as complicações destas resultantes da condição de excesso de peso, o mesmo ainda fica devendo no que diz respeito aos aspectos psicológicos envolvidos na obesidade infantil.

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