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Sexualidade Feminina Em Revistas

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Por:   •  13/10/2014  •  6.830 Palavras (28 Páginas)  •  364 Visualizações

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Sexualidade feminina em revista(s)

Interface - Comunicação, Saúde, Educação

Print version ISSN 1414-3283

Interface (Botucatu) vol.13 no.28 Botucatu Jan./Mar. 2009

doi: 10.1590/S1414-32832009000100005

ARTIGOS

Luciana Patrícia ZuccoI; Maria Cecília de Souza MinayoII

IAssistente social. Departamento de Política Social e Serviço Social Aplicado, Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rua Bartolomeu Portela, 36/202 Botafogo. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 22.290-190.lpzucco@uol.com.br

IISocióloga. Fundação Oswaldo Cruz

RESUMO

Este artigo é resultado da investigação dos discursos da sexualidade feminina veiculados por revistas para mulheres no período de 2005 e 2006. 'Claudia' e 'Mulher dia-a-dia', foram os documentos analisados em uma abordagem qualitativa de pesquisa. A construção dos dados ocorreu por meio da análise crítica de discurso, sendo a sexualidade feminina abordada com base em uma leitura construtivista. Os principais resultados evidenciaram que as convenções discursivas presentes nas reportagens materializaram posições duais sobre a dinâmica sexual contemporânea e ocidental, como: adoção de práticas sexuais simétricas versus vigência de práticas sexuais assimétricas; autonomia sexual feminina versus dependência sexual feminina; atividade versus passividade; prazer feminino versus prazer masculino. Afirmamos, com isso, que a sexualidade permanece duplamente informada por padrões hegemônicos vigentes na sociedade.

Palavras-chave: Sexualidade feminina. Mídia. Discursos. Publicações periódicas.

Introdução e contextualização

O objetivo deste artigo é evidenciar como as revistas destinadas a mulheres veiculam a sexualidade feminina. Nele apresentamos dados de uma pesquisa finalizada em 2007, em que os documentos analisados foram retirados das revistas 'Claudia' e 'Mulher dia-a-dia', dos anos de 2005 e 2006, ambas de ampla circulação no momento da investigação, e que veiculam conteúdos de interesse da mulher. O relatório da Empresa Unilever (Etcoff et al., 2004) considera, num entendimento global, como "interesse da mulher", matérias sobre beleza, bem-estar e relação entre esses elementos, reforçando o discurso dos que creditam aos meios de comunicação o poder de atingir a individualidade das pessoas. Ao abordar as perspectivas femininas ressaltadas pela mídia, a pesquisa que deu origem a este artigo revelou serem beleza e aparência física os mais relevantes aspectos considerados como imperativos pelas mulheres e recompensados pela sanção da sociedade.

Neste artigo, fazemos um exercício de análise de discurso com as duas citadas revistas, evidenciando que a comunicação atua de forma preponderante na sociedade contemporânea, com repercussões na vida social e, sobretudo, na subjetividade (Thompson, 1998). Esse poder indiscutível tem a ver, entre outros fatores, com os meios técnicos de comunicação, responsáveis pela configuração de valores e símbolos para o público usuário de seus serviços. Eles alimentam o mercado publicitário, definem imagens, ditam padrões e vendem produtos, compondo um mosaico que acaba por integrar a maneira de nos percebermos e de estarmos no mundo.

Estudos (Fujisawa, 2006; Caldas Coulthard, 2005; Mira, 2003; Monteiro, 2000; Medrado, 1997) sobre meios técnicos de comunicação específicos, como televisão e revistas, demonstram, ainda, quanto são paradoxais as mensagens divulgadas à sociedade por esses veículos. Simultaneamente, difundem discursos emblemáticos de novos tempos e outros reificadores de concepções e crenças estabelecidas, assim como discursos educativos e erotizados, atendendo tanto às transformações socioculturais da sociedade como aprofundando estereótipos que garantem o conservadorismo.

Se, por um lado, sua importância na vida cotidiana das pessoas é um fato, por outro, os meios de comunicação se valem desse cotidiano e retiram dele a matéria necessária para criar identificação com o público leitor geram demanda e se mantêm num universo de concorrência. Logo, eles reconstroem a dinâmica cotidiana a seu modo, fazendo dela, quase sempre, um grande espetáculo.

Segundo Melo (2000), nos anos 90, houve no Brasil uma mudança editorial promovida pela grande imprensa. Jornais e revistas de circulação nacional ampliaram os espaços destinados a temas como comportamento, sexualidade, saúde e saúde reprodutiva, bem como deram vez à participação de leitores e leitoras. Atualmente, estes são chamados a se posicionar sobre políticas públicas e serviços, até mesmo sobre a criação de seções voltadas para os direitos do consumidor. Tais mudanças decorrem de uma conjunção de fatores, apontadas pela autora, como: interesses do mercado, evolução editorial, comportamento mais crítico da sociedade, e abertura de temas da agenda social e política a segmentos organizados da sociedade.

No caso das revistas femininas, o influxo da Conferência Mundial sobre a Mulher (CMM), realizada em Pequim, em 1995, manifestou-se como um acontecimento histórico que se soma às mudanças mencionadas e as corrobora. A Plataforma de Ação da CMM1, da qual o Brasil é signatário, traz, no capítulo J, elementos para o debate sobre a relação entre a mulher e os meios de comunicação. Esse capítulo apresenta alguns objetivos: (a) ampliação do acesso da mulher a esses meios e sua participação na expressão de idéias e na tomada de decisões das mídias; (b) acesso às novas tecnologias de comunicação; (c) promoção de uma imagem feminina equilibrada e não estereotipada nesses meios.

No âmbito da Plataforma de Ação da CMM, a área "mulher e meios de comunicação" é considerada estratégica para o fortalecimento das mulheres, embora tenha registrado o menor número de iniciativas e avanços políticos (Melo, 2000). O capítulo J reafirma a necessidade de se realizarem estudos a respeito da temática, e de que esta seja acompanhada de pesquisas e fiscalização2, para que, com um conjunto de informações e novos conhecimentos, órgãos públicos, privados e organizações não governamentais (ONG) possam ser subsidiados em suas intervenções relacionadas ao desenvolvimento da mulher.

Este artigo apresenta a seguinte sequência de temas: aspectos conceituais

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