Sobre Aprender e Ensinar Matemática: Internet, Sala de Aula e Experiências Outras
Por: Marcelo Batista • 1/4/2019 • Resenha • 2.148 Palavras (9 Páginas) • 186 Visualizações
Sobre Aprender e Ensinar Matemática: Internet, Sala de Aula e Experiências outras
Marcelo Batista de Souza*
MENDES, R. de O. Sobre Aprender e Ensinar Matemática: Internet, Sala de Aula e Experiências outras. 2017. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2017.
A tese de Mendes teve como principal objetivo compreender as implicações da comunicação hipermidiática (baseadas na internet) na construção do conhecimento matemático em uma sala de aula do ensino presencial.
O autor destaca que a sua pesquisa diz respeito ao ensino e a aprendizagem em matemática, com vistas nas “experiências” em uma disciplina de introdução ao Cálculo Diferencial e Integral, e suas aplicações, que foi ofertada para alunos do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Estadual Paulista – Campus Rio Claro. Mendes ressalta que ela nasceu qualitativa, com o foco voltado para as potencialidades das tecnologias digitais na educação escolar, mas que, ao longo do seu desenvolvimento, foi dando lugar às problematizações acerca do ensinar e do aprender matemática.
Em seu trabalho, ele ressalta que professores e alunos são compreendidos não como sujeitos ativos e responsáveis pelo processo educativo, mas como sujeitos da experiência, reforçando que, deste modo, o ensinar e o aprender a que se refere estão mais próximos do exercício de potencializar a capacidade de afetar e de ser afetado. Na sua visão, trata-se de um ensinar e de um aprender que não são propriedades de ninguém e só fazem sentido na atualidade dos acontecimentos.
Para apresentar a sua pesquisa, o autor dividiu a tese em cinco capítulos. No primeiro, ele aborda o que se espera de uma pesquisa. Mendes ressalta que a inquietação do pesquisador pela descoberta de algo é o que o faz caminhar em torno de uma pergunta ou de um problema. Por essa razão, ele apresenta como se deu o movimento da sua pesquisa e a escolha dos procedimentos adotados, ao mesmo tempo em que coloca em interrogação o modo hegemônico de compreensão acerca do conhecer, a partir dos significados de pesquisar, ensinar e aprender.
No segundo capítulo, o autor traz um questionamento para a reflexão do leitor, “ensino e aprendizagem: no compasso da desilusão?”, que emergiu a partir das suas observações na sala de aula. Mendes compreende que aprender está, comumente, associado ao conjunto de conhecimentos acumulados pelo aprendiz, construídos ou transferidos, e à competência de colocar em ação esses conhecimentos. Ou, ainda, à capacidade de solucionar problemas por meio de saberes acumulados. Ele destaca que, aprender, geralmente, está associado ao desenvolvimento de competências e habilidades a partir desses conhecimentos acumulados.
Em seu texto, no entanto, quer desenvolver uma tese na qual aprender não se refere a acumular conhecimentos, seja por transmissão ou por construção, tampouco desenvolver competências. Mais especificamente, ele se propõe a elaborar uma tese na qual aprendizagem está associada à invenção, a pensar o não pensado, a produzir o não produzido, isto é, uma aprendizagem como produção de vida. O autor reforça que ao se referir à aprendizagem quer valorizar aquilo que “passa” e não o que “fica” ou é acumulado pelo aprendiz, construído ou transferido.
Mendes traz o exemplo do aprendiz de flauta para falar sobre a aprendizagem, afirmando que para aprender a tocar esse instrumento não há a necessidade de seguir regras. Para ele, quando a relação simbólica é transformada em acoplamento direto do corpo com o instrumento, que elimina o intermediário da representação, a aprendizagem se dá verdadeiramente. O autor concorda com Kastrup (2008) quando ela afirma que aprender não é adaptar nem obter um saber, mas experimentar, inventar, no mesmo movimento, o mundo e a si mesmo, tal como um artista.
No terceiro capítulo, o autor problematiza o conceito de hipertexto e sua suposta “aproximação” com o conceito filosófico de rizoma, de Deleuze e Guattari (1977). De pronto, já lança no título da seção uma questão para a reflexão do leitor: “Caiu na net: e agora?”. Recorrendo às ideias desses dois filósofos acerca do rizoma e a uma experiência de pesquisa realizada na disciplina de Matemática Aplicada, ele provoca ao dizer que os conceitos de hipertexto e rizoma nos colocam em movimento e questiona se: “É possível estudar Cálculo Diferencial e Integral sem pré-requisitos ou sem uma estrutura hierárquica de conteúdos?”. Ele afirma que esse questionamento norteia todo o movimento de pesquisa que originou a construção da sua tese.
O autor admite que recorreu a Lévy (1993) para pensar em algumas das várias questões que envolvem hipertexto, internet, outras tecnologias digitais e conjunto de nós ligados por conexões. Mendes alerta para o que Lévy chama de redes transitórias de significado, construídas na mente daquele que ouve uma frase e imediatamente a tem ativada por uma rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, mas também de imagens, sons, odores, sensações proprioceptivas, lembranças, afetos, etc. Mendes ressalta que quando uma única palavra dá lugar a um encadeamento de palavras a rede se constitui centrada em uma delas, ativando os nós em associação com as outras palavras.
Desse modo, ele acrescenta que para Lévy, dar sentido a um texto é construir uma rede de imagens, outros textos, sensações, etc. Segundo o autor, as ideias de Lévy têm uma conexão com o conceito de “rizoma”. Rizomas “são caules subterrâneos que acumulam substâncias nutritivas e em alguns deles ocorre acúmulo de material nutritivo em certas regiões, formando tubérculos, podendo ser distinguidos de raízes pelo fato de apresentarem gemas laterais”. Ele traz a grama como exemplo de planta rizomática, que se expande e dá origem a outras formações aéreas, constituindo assim um emaranhado que não tem começo e nem fim, mas que tende a ocupar todo o terreno sem depender de uma unidade central.
O autor ressalta que Deleuze e Guattari ao se apropriarem desse termo da botânica criaram um conceito filosófico para rizoma, enumerando características que serviram de inspiração para os seis princípios do modelo de hipertexto enunciados por Lévy. No entanto, ao contrário de Lévy, ele sustenta que falar de rizoma não se trata de utilizar uma metáfora e nem, tampouco, se reduz às dimensões da realidade em que estejam em jogo as significações.
Ainda nesse mesmo capítulo, ele ressalta que o hipertexto digital se refere a blocos de informações (textos, imagens, vídeos, etc.) disponibilizados em meio digital, conectados por links, e que rizomas se fazem com hipertexto tanto quanto se fazem com livros ou qualquer outra coisa. Ele acrescenta que os questionamentos acerca do hipertexto e do rizoma começaram a ocupá-los (ele, pesquisador, e o professor da turma), após terem iniciado um trabalho de pesquisa com o foco voltado para as tecnologias digitais em Educação Matemática. Nesse sentido, aponta que a discussão na sua tese ficará em torno de duas pesquisas com o mesmo enfoque: internet e cálculo diferencial e integral.
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