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Um estudo sobre a gramática do culto português no Brasil

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Por:   •  26/5/2014  •  Artigo  •  702 Palavras (3 Páginas)  •  348 Visualizações

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Todo mundo fala assim

Vem aí uma gramática anistiando os principais desvios da linguagem

oral. Mas atenção: o português continua a merecer respeito

Leonardo Coutinho

Deu dez horas ou deram dez horas? Hoje é quinze ou hoje são quinze? Assisti o filme ou assisti ao filme?

A vida é cheia dessas dúvidas, principalmente quando se quer caprichar. Quem se angustia diante dessas questões vai ter uma surpresa e um alívio: vem aí um habeas-corpus para uma infinidade de pecados gramaticais, principalmente na língua falada. Será lançada no segundo semestre a Gramática do Português Culto Falado no Brasil, dando um carimbo acadêmico ao verdadeiro português utilizado pelos brasileiros. Preparado por especialistas de doze universidades, o trabalho não revoga as normas da boa sintaxe. Apenas identifica a lógica gramatical praticada no dia-a-dia por pessoas instruídas até o curso superior. Numa comparação simples, as gramáticas tradicionais baseiam suas regras nos textos dos melhores autores do idioma, enquanto esse novo trabalho desvenda o português que as pessoas de fato andam falando por aí. Pela tradicional lei da gramática, trata-se de um compêndio que analisa a estrutura da fala coloquial. Dito à maneira do estudo: é um livro que mostra o jeito como a gente conversa.

"O objetivo era descobrir como se fala corretamente no Brasil", diz o coordenador do projeto, Ataliba de Castilho, presidente da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina. Isso deu um trabalhão. Em quase trinta anos de pesquisa, 32 estudiosos dissecaram mais de 1.500 horas de gravações feitas em cinco capitais brasileiras. Foram entrevistadas 2.356 pessoas com formação superior, cujos pais também nasceram nas capitais escolhidas para pesquisa: Salvador, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A escolha não se deu porque se supunha que nessas cidades se fale mais corretamente, mas, sim, porque elas foram consideradas as que têm as características claramente identificáveis. "Dá para dizer: é assim que se fala em tal lugar", exemplifica Ataliba de Castilho. As gravações serviram para encontrar os desvios mais freqüentes, em relação à norma culta, e depois destrinchar a lógica que rege essas construções. Graças a essa análise, os brasileiros se tornarão o primeiro povo, entre os que falam línguas derivadas do latim, a ter sua linguagem oral debulhada e sistematizada.

No ano passado, a professora Maria Helena de Moura Neves, da Universidade Estadual Paulista, lançou sua Gramática de Usos do Português (Editora Unesp, 1.037 páginas, R$ 70,00), que analisa as estruturas mais correntes usadas nos jornais, na dramaturgia e na literatura moderna. Ela integra o grupo que preparou o novo projeto e diz que a virtude dessas iniciativas é admitir que a língua vive em transformação, ao contrário do que se vê na maioria das gramáticas tradicionais. "Ninguém tem autoridade para dizer o que é certo ou não em um idioma", afirma Maria Helena. Isso cutuca o vespeiro dos beletristas.

O professor Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras e considerado um dos maiores gramáticos brasileiros em atividade, dá sua apreciação sobre o resultado do projeto Norma Urbana

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