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Uso das aguas

Por:   •  24/5/2015  •  Abstract  •  12.511 Palavras (51 Páginas)  •  227 Visualizações

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Lição 12

Um Recurso Essencial

Prof. Dr. Arnaldo Carlos Muller. / PUCPR


A água é utilizada pela humanidade para diversas finalidades, como o abastecimento de cidades e usos domésticos, a geração de energia, a irrigação, a navegação e a pesca. Na medida em que os países se desenvolvem, crescem as demandas das águas, devido às exigências da agricultura e pelas indústrias, atividades que mais consomem água.

Esse consumo, por sua vez, pode gerar conflitos pela escassez, que pode ter origem em duas razões principais: chuvas insuficientes ou mal distribuídas ao longo do ano, associado ao aumento da demanda em várias atividades que dependem dela, ou provocado pela poluição e perda das qualidades essenciais aos usos necessários.

Em ambos os casos podem gerar conflitos, impondo decisões sobre quais serão os usos prioritários das águas disponíveis. Essa situação, porém, pode ter repercussões muito mais graves, quando as disputas ocorrem entre as nações, em casos de bacias hidrográficas transnacionais.  

Isso poderia soar estranho, porque nosso planeta possui mais de 65% de sua superfície coberta por águas. Por conta dessa predominância até, por certo, teria que ser chamado de Planeta Água. A grande extensão das águas, ocupando 97,313% da hidrosfera, são oceanos, portanto, extensões imensas de águas salgadas. Outras águas – que as mu danças climáticas estão transfor mando em salgadas – estão nos glaciares e geleiras, acumulando 2,045% do volume hí drico terres tre, este, de águas doces.

Em terceiro lugar vêm os depósitos subterrâ neos de águas, doces, salobras e salgadas, que possuem 0,593% dos volumes hídricos planetários. As águas accessíveis aos usos e interesses humanos, em rios e lagos, representam uma percentagem ínfima das águas planetárias, da apenas 0,014%.

Há, na contabilidade hídrica do pla neta, uma porção de águas suspensa na forma de vapo res atmosféricos, que repre senta 0,035% dos volumes das águas da Terra.

As águas contidas nos rios e lagos continen tais, não bastassem ser a menor par cela dos vários corpos hídricos do Planeta, apresen tam-se com uma distribuição extre mamente irregular ao longo dos continentes. A Tabela 01 mostra, em suas colunas, onde se distri buem os volumes de águas doces mundi ais.

Tabela 01: Distribuição das águas doces

Continente Volume %  América do Sul 10.380 Km3 26,6  Ásia 9.544 Km3 24,5  América do Norte 5.960 Km3 15,5  Rússia 4.384 Km3 11,3  África 4.225 Km3 10,9  Europa 2.362 Km3 6,1  Austrália 1.965 Km3 5,1  Total: 38.820 Km3  100  

Essa distribuição irregular poderá se tornar uma fonte conflitos potenciais, quando a crise pelas águas chegar ao seu auge, o que não deve demorar.

O Ministério do Meio Ambiente cita que a falta de água atinge cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo e, se não forem adota das medidas para conter o consumo, dentro de 25 anos cerca de 4 bilhões de indivíduos não terão água suficiente nem para as suas necessida des básicas.  Aquele Ministério enfatiza que o Brasil, “que detém 11% da água doce do mundo não pode fracassar na tarefa de prote ger e preservar os seus bens naturais, dos quais a água se destaca” (CAPRILES, 2004).

A realidade do déficit hídrico já é realidade em muitos países. Os países africanos da bacia do Nilo estiveram recentemente em vias de um conflito armado por causa de um projeto de irrigação que reduziria a disponibilidade das águas aos usuários de jusante (AGUAONLINE, 2004).

Por outro lado, foi notícia o fato que na Venezuela a água já é mais cara do que a gasolina. Há, certamente, que se levar em conta que o combustível tem incentivos fiscais que lhe reduzem o custo aos usuários, o que não acontece com a água. Lá, encher um tanque de gasolina com 70 litros custaria cerca de US$ 2,50; essa mesma quantidade de água potável engarrafada custaria US$ 6,50 (VENEZUELA, 2006).

Esse recurso essencial, contudo, ainda não tem recebido a consideração que merece. Há pouco mais de duas gerações não se falava em poluição das águas, muito menos em se cobrar pelo uso da água. Em nossa sociedade perdurava a cultura da abundância. Desperdí cio era coisa normal.

Os números do desperdício da água, nos sis temas de distribuição urbana brasileira ainda hoje são impressionantes: a média de perdas de águas potáveis pelas redes públicas nacio nais é da ordem de 40%. Água tratada, boa para o consumo humano. A média aceitá vel da Organização das Nações Unidas é de até 20% de perdas de todo o volume tratado. Na Amé rica do Sul, somente a Argentina e o Chile possuem índices de perdas menores.

As perdas não se resumem à rede de distri buição, mas também incluem as devidas à falta de saneamento e de tratamento de água, desperdício nos sistemas de distribuição e mau uso da água pelas pessoas.

Tabela 02: Consumos de água per capita

País  Volume (L/dia/pessoa)  EUA 500  Brasil  185  Nigéria 120  índia 25  Madagascar 5,4  

A ONU considera que para a quali dade de vida aceitável, uma pessoa deve dis por de um mínimo de 80 litros de água por dia, para atender suas necessidades de higiene e ali mentação. Essa disponibilidade, entretanto, tem custos que, para muitas são inacessíveis.  A Tabela 02 mostra que nas nações mais ricas é muito maior a disponibilidade a cada pessoa.

Também é significativo saber que dos cerca de 3 mil Km3 de águas doces “oficial mente” empregadas no mundo, a maior parte destina-se à agricultura, onde 73% das águas são usadas na irrigação, um uso consuntivo.

Em artigo, Brown (2006) ressalta a questão da exportação da água através de produtos agrícolas, ao afirmar que “a escassez hídrica atravessa fronteiras por causa do comércio internacional de cereais. Produzir uma tonelada desses alimentos consome 1.000 toneladas de água. Assim, importá-los é a maneira mais eficiente de importar água. Os países usam cereais para balancear suas contas hídricas. De modo semelhante, comercializá-los é, de certo modo, fazê-lo com a água no futuro.”.

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