A Gerência de Unidades Básicas de Saúde
Por: tanila28 • 18/12/2020 • Resenha • 572 Palavras (3 Páginas) • 138 Visualizações
Aperfeiçoamento em Gerência de Unidades Básicas de Saúde, Gestão da Clínica e do Cuidado | 137O caso MartaAgora você irá conhecer o caso da Marta, relatado por um apoiador de equipes de ESF, em um município de médio porte, e acessar algumas reexões sobre a condução do caso pela equipe. Ao chegar a uma unidade, me deparei com a enfermeira e a agente comunitária de saída para visitas domiciliares. Iriam fazer busca ativa de crianças com vacinas em atraso e de mulhe-res que não “estavam em dia” com o preventivo ginecológico. Uma dessas mulheres, apesar de sucessivos agendamentos, quase nunca aparecia às consultas, resultando em vacinas de rotina e seu próprio preventivo ginecológico atrasados. “Não sei mais o que fazer. É uma mãe muito relapsa, e vou lá ter mais uma conversa com ela”, disse a técnica de enfermagem com ares de reprovação. Perguntei se poderia acompanhá-las e sugeri que fôssemos lá para tentar entender possíveis razões para tal atitude, apenas ouvindo e procurando, pelo menos inicialmente, não cobrar as faltas dela e das crianças
Ao chegarmos, Marta estendia roupas no varal e, com ar de “poucos amigos”, veio ao nos-so encontro: “o que vocês querem?”, ela disse, colocando as duas mãos na cintura. Imediatamente, percebi certa hostilidade naquela expressão, pois, como sabemos, os corpos, em seu poder de afetar e ser afetados, se atraem ou se repelem. Havia tensionamento e certo descaso naquele olhar. A enfermeira me apresentou: “Esse é o meu apoiador e viemos conversar um pouco com você”. Eu me aproximei dela e estendi a mão. Ela titubeou, dizendo que estava com as mãos molhadas, mas eu insisti e apertei a sua mão, perguntando se teria um tempo para conversarmos. Se não es-tivesse disponível, poderíamos retornar outra hora. “Tudo bem, já acabei de lavar a roupa mesmo.”Dos movimentos de atração e repulsa, geram-se efeitos. Os corpos são tomados por uma mistura de afetos, muitas vezes díspares. Ob-servando a expressão do olhar de Marta e as suas condições de habi-tação, senti a dureza daquela vida. Era um olhar de cansaço, de “beco sem saída”.“Quanta roupa”, comentei. “Claro, além das roupas daqui de casa, ainda ’lavo pra fora’ para ganhar alguns trocados. A vida não está fácil, doutor. Só aqui em casa são seis bocas para alimentar; e criança, o senhor sabe, suja muita roupa.” Estávamos todos em suspense naquele momento, Marta e nós. Qualquer palavra mal colocada poderia provocar uma ruptura, a impossibilidade de prosseguir o encontro.Neste momento, uma criança se aproximou; de sorriso largo, com pura expressão de en-trega, veio em minha direção de braços abertos. Abraçou-me pela cintura, colocou a cabeça no meu peito e assim permaneceu, sorrindo e mordendo a língua que se movimentava pela boca. Eu me entreguei àquele abraço e acariciei seus cabelos. Diferente dos afetos produzidos até agora no encontro com Marta, sobrava uidez nesse encontro. Uma onda de ternura me inva-diu. Marta explicou: “O Gérson é assim mesmo, doutor, abraça todo mundo, tem problemas, des-de pequenininho, já nasceu assim. Me dá um trabalho danado esse menino, mas é o mais carinhoso. Três vezes por semana levo ele lá no Recreio dos Bandeirantes, em um Hospital para se tratar”.Para chegar no Hospital, que ca a uns 40 Km de sua casa, Marta tem que fazer algumas baldeações de transporte público.Marta
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