A Herança de Stanislavski no Teatro Norte-Americano: Caminhos e Descaminhos
Por: Rafael Rodrigues • 1/10/2019 • Dissertação • 996 Palavras (4 Páginas) • 247 Visualizações
O trabalho de Stanislávski é considerado inconcluso pelo próprio, para ele seu trabalho permanece aberto para pesquisa e o que temos são partes de um todo. E com isso existe uma dificuldade em discutir Stanislávski hoje em dia, pois seu sistema é levado como uma verdade imutável.
Os motivos disso acontecer não se dão somente pelas traduções desordenadas e tardia divulgação. Muito dessas distorções ocorreu pelos seus discípulos, atores, assistentes e alunos russos ou estrangeiros que foram transformando o sistema em método.
Para contarmos sobre a herança stanislavskiana nos Estado Unidos devemos citar Richard Boleslávski, que junto com os demais Leopold Sulierjitski, Mikhail Tchékhov, Ievguênie Vakhtangov, foram os maiores entusiastas pela pesquisa do “sistema” e se tornaram os maiores divulgadores.
Confiou em Vsévolod Meyerhold, considerado um de seus maiores atores, a direção de um estúdio, porém o extremismo de Meyerhold e a diferença de propostas cênicas causou um choque entre os dois.
R. Boleslávski era seu seguidor menos fanático em relação ao “sistema” e quando em 1919-1920 começa sua trajetória no estrangeiro, mais especificamente em Varsóvia, cria um grupo de teatro experimental trabalhando como diretor e pedagogo com um importante diretor polonês Leon Shiller. Passa também por Praga, Berlim e Paris indo parar em Nova Iorque em outubro de 1922. Em janeiro de 1923 Stanislávski convida Boleslávski para ser assistente nos ensaios dos espetáculos que o TAM faria na turnê em Nova Iorque.
Muitos atores americanos estavam interessados nas conferências e aulas, curiosos na metodologia russa para a arte do ator. Boleslávski considera Stanislávski “um dos maiores gênios vivos”, atribuindo ao mestre a descoberta de uma metodologia que fazia do ator um verdadeiro criador a partir de um trabalho “consciente” e “científico”.
Em junho de 1923, Boleslávski junto com um grupo de atores americanos cria The Laboratory Theatre. E para Boleslávski o ator deveria dominar uma espécie de gramática de atuação cênica, um sistema básico de jogo interpretativo inspirado nos exercícios stanislavskianos que agora passa a ser conhecido como “método”.
Surgiu a questão, como conseguir que o ator pudesse criar a personagem e “revivêla” de forma intensa a cada representação? Tratava-se de alcançar com técnicas conscientes o inconsciente da criação. Tentava estruturar então um conjunto de normas que auxiliassem o ator a provocar em seu interior o “sentimento criativo”. Boleslávski manteve a memória emotiva, círculo interior e a concentração emocional em seu laboratório.
Com duvidas similares Boleslávski e Stanislávski caminham para o sentimento do ator, sentimento criativo e sentimento da verdade.
Boleslávski traz para o ambiente teatral norte-americano: a necessidade de uma emoção genuína, de uma concepção do papel e de seu estudo psicológico e ideológico. Essa metodologia voltada à disciplina interior do ator, ao mais alto grau de inteligência artística e a um domínio perfeito de todos os seus meios provocará ressonâncias específicas no ator norte-americano. E ainda se questiona como fazer com que toda essa metodologia nascida e criada no ambiente teatral russo possa se adequar aos objetivos e à tradição teatral norte-americanos?
E assim Boleslávski tem como objetivo adaptar o sistema russo ao ambiente artístico norte-americano levando em conta a natureza e psicologia dos atores americanos. Chegando então no caráter universal do sistema de Stanislávski. Seu Laboratory Theatre torna-se a escola de arte dramática mais importante e muitos nomes importantes passam por lá.
Maria Uspénskaia, que também fora atriz no Teatro de Arte de Moscou, era um desses nomes que ministrava aulas de interpretação, com a difícil tarefa de ensinar aos alunos norte-americanos a arte de representar, segundo o “sistema russo”. Nos anos 30 ela cria seu próprio estúdio e mais tarde morre vítima do alcoolismo.
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