A MERCANTILIZAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS
Por: Naor Massarutti Gomes • 20/6/2018 • Artigo • 3.864 Palavras (16 Páginas) • 309 Visualizações
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)[pic 1][pic 2]
A MERCANTILIZAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS
NAOR GOMES DA SILVA
Foz do Iguaçu
2016
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)
A MERCANTILIZAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS
NAOR GOMES DA SILVA
Artigo apresentado ao Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, na disciplina de Etnomusicologia
Prof. (Me.):Félix Ceneviva Eid
Foz do Iguaçu
2016
A MERCANTILIZAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS
SILVA, Naor Gomes da[1]
RESUMO
Este artigo tem como objetivo descrever sobre a mercantilização das festas religiosas e a espetacularização das festas juninas no espaço público das cidades. Para tanto abordou-se os conceitos de festa religiosa e o significado de espetáculo, assim como as cidades onde essas festas conseguem levar multidões. O final do estudo mostra como as festas juninas viraram grandes eventos para melhorar a economia do lugar. Realizou-se uma pesquisa exploratória, com base em fontes bibliográficas.
Palavras-chave: Mercantilização. Festas religiosas. São João. Espetáculo.
1 INTRODUÇÃO
As festas religiosas tradicionais do catolicismo popular, com efeitos de grandes proporções, tem sido motivo de investimento das políticas públicas por parte do estado e dos municípios, como uma forma de desenvolvimento econômico das localidades e que atraem muitos turistas.
Entre as ações realizadas para desenvolver produtos e serviços para esses eventos, pode-se destacar as construções de redes de serviço que proporcionam atividades muito bem planejadas, que propicia o envolvimento de empresários e de toda a comunidade que é composta por artistas, artesãos, famílias e lideres que são responsáveis pelas manifestações culturais e religiosas (SEBRAE, 2008).
Considerando-se que as festas religiosas e sua vinculação com o desenvolvimento de um turismo alavancam a economia da localidade, este artigo apresenta em especial e de forma resumida, a mercantilização em torno das festas juninas, festa essa que é dedicada a um Santo da Igreja Católica (São João Batista), celebrada tradicionalmente no mês de junho.
A escolha do tema se deu pela grandiosidade das festas, juntamente com a diversidade da cultura sertaneja, que se tornou um atrativo turístico em muitas cidades e em torno da mudança de comportamento sobre os simbolismos, tradições, saberes e fazeres das localidades como elementos essenciais da cultura de um povo.
A metodologia utilizada é a pesquisa exploratória e bibliográfica. As informações foram coletadas em livros, monografias, artigos e pesquisas na internet.
O problema a ser resolvido neste trabalho é: Até que ponto essas festas juninas são vistas como símbolos de fé mediante aos interesses econômicos?
Diante desses argumentos, admite-se que, se por um lado, esse turismo religioso em torno das festas juninas tem como base o consumo das particularidades dos locais, seja de ordem natural ou cultural; por outro lado verifica-se que seu estímulo provoca a transformação desses elementos que fazem parte da fé de um povo.
2 A MERCANTILIZAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS
Primeiramente pode-se citar aqui o tamanho desses eventos e do seu raio de alcance. Além de ocuparem espaços grandiosos, a alta concentração de pessoas na festa é um dos aspectos das festas-espetáculo que são bem diferentes das festas simples que a comunidade costumam fazer, não só pelo aspecto dos festeiros, mas também, pela quantidade de pessoas, cuja presença em massa reduz muito os espaços abertos na multidão (BARROS, 2012).
O que se observa nas grandes festas juninas em espaço público e urbano, é uma quantidade enorme de festeiros, que ficam ali passivamente esperando as apresentações nos palcos ou nos grandes telões montados para a ocasião em diferentes cidades do Brasil (BARROS, 2012).
As festas espetacularizadas tornam-se eventos repetitivos, reinventa-se o território da trama festiva e por isso faz-se necessário conhecer o conceito de espetacularização urbana para que se possa entender esse assunto.
2.1 CONCEITO DE ESPETÁCULO E O CONTEXTO DE MERCANTILIZAÇÃO
A palavra espetáculo teve origem da raiz semântica latina spetaculum, que significa: tudo que atrai e prende o olhar e a atenção (RUBIM, 2005). De acordo com o autor citado, as variantes da palavra espetáculo indica sempre para uma visão atenta de uma determinada situação ou evento onde a pessoa assiste ao espetáculo.
Etimologicamente falando Subirats (1989), refere-se a palavra espetáculo a specere que significa contemplação humana, mencionando o caráter expositivo da representação. Sendo assim, é um evento para ser visto e não para ser experienciado ativamente pelas pessoas.
Debord (1997) afirma que a sociedade espetáculo é uma terminologia encontrada para denominar a sociedade de massa e de consumo da atualidade. Sobre esse tema ele diz:
A luta entre a tradição e a inovação, que é o princípio do desenvolvimento interno da cultura das sociedades históricas, só pode prosseguir através da vitória permanente da inovação. Mas a inovação da cultura só é sustentada pelo movimento histórico total que, ao tomar consciência de sua totalidade, tende à superação de seus próprios pressupostos naturais e vai no sentido da supressão de toda separação (DEBORD, 1997, p. 120).
Observa-se que na concepção do autor, a cultura que se torna mercadoria, se torna também mercadoria que é a estrela da sociedade espetacular. Ressalta que o espetáculo estabelece o modelo de vida na sociedade atual, sendo, desta forma, onipresente e permanente como propaganda, publicidade e divertimento.
Para Harvey (1992), é através da concepção dos espaços urbanos espetaculares que os investimentos em propaganda fazendo da imagem um modo de atrair capital e pessoas onde a competição interurbana e o empreendedorismo aumentam. Dessa maneira, a espetacularização da sociedade vem acompanhada da mercantilização e da necessidade de divulgar através dos meios de comunicação, ideias, valores e culturas que anteriormente só faziam parte da comunidade local ou regional. Existe uma tendência para aceitar o efêmero, a descontinuidade e a necessidade de acelerar o tempo de giro na produção de bens para esse eventos quase que instantaneamente.
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