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Como a Tecnologia Molda a Música (Resenha)

Por:   •  9/5/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.346 Palavras (6 Páginas)  •  70 Visualizações

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BYRNE, David. Como Funciona a Música. Capítulo 3: Como a tecnologia molda a música / Parte um. Editora Amarilys, 2012.

Esdras Garcia Pereira

Graduando em Música Popular – IA/UNICAMP

Em seu nono livro lançado, o músico, produtor e compositor David Byrne nos traz - a partir de aspectos históricos, culturais, mercadológicos e tecnológicos - uma análise e até mesmo uma reflexão sobre o funcionamento da música. Embora tal escrito não possua e nem busque uma forma totalmente acadêmica, o autor trabalha com afinco e produz uma obra importante como fonte de conhecimento aos músicos, aos acadêmicos e ao público em geral interessado no assunto. Dividido em dez tópicos, o capítulo a ser resenhado aqui perpassa por vários pontos musicais importantes, nos mostrando a produção, a escuta e o consumo musical sempre como resultantes da evolução tecnológica. É importante ressaltar que essa análise musical-tecnológica proposta por Byrne é sabiamente dividida em dois capítulos, separados respectivamente em tecnologia analógica e em tecnologia digital. Portanto, como esta resenha é apenas sobre o primeiro capítulo, será visto aqui desde os primórdios da gravação sonora até aos últimos formatos de LP’s, e fitas cassete.

“Assim como a fotografia mudou o mundo, a tecnologia de gravação alterou a maneira como o ouvimos”. Essa é uma das frases iniciais do texto, e partir dela podemos entender muito sobre a proposta do primeiro tópico do capítulo, onde o autor descreve como e qual era o papel da música em uma época antecedente a gravação: efêmera e subjetiva, pois não haveria na época meios para preservar um som a não ser através da memória. Logo neste início, percebe-se do autor a busca por uma abordagem tangencialmente acadêmica, uma vez que Byrne citará diversas referências e ideias concretas para então direcionar sua análise musical.

Depois, o autor se direcionará aos primórdios da gravação sonora (final do séc. XIX) e sua implicação prática no mundo da música. Descreve ao leitor como funciona os primeiros fonógrafos de cilindro Edison, sua pouca fidelidade sonora e a inviabilidade mercadológica desse tipo de produção. Logo adiante, chega aos novos aparatos de gravação em disco, e aí então sua alta possibilidade comercial. Neste ponto, o texto nos traz um espaço para reflexão além da música, e nos põe a pensar sobre a funcionalismo econômico e comercial da sociedade. Esse espaço reflexivo é gerado a partir dos dados apresentados pelo autor, onde mostra as estranhas – e até mesmo cômicas – estratégias de marketing, denominadas como Tone Tests.

Outro ponto importante abordado no texto é a transformação do modo de se fazer música a partir da gravação musical. Devido a limitação tecnológica de uma época ainda sem microfones, muitas vezes eram necessárias reformatações de uma música para que ela pudesse ser gravada. Além disso, outras mudanças musicais também são trabalhadas pelo autor. (1) A perda do elemento visual, uma vez que não se vê aquele que canta ou toca um instrumento, apenas se ouve. (2) O novo conceito de performance. (3) O surgimento de novas técnicas musicais, e até mesmo o medo dessas “novas máquinas de música” como substitutas para os seres humanos ao se reproduzir música. Este último ponto citado, é visto também como um espaço reflexivo, uma vez que além de ser abordado pelo autor mais adiante, ainda hoje, não só na música, há a dura discussão sobre a “mecanização do mundo” e suas consequências.

No segundo tópico do texto, nomeado de “Estrutura Congelada” é abordado justamente o fato da possibilidade de “congelar a música”, permitindo assim a escuta dela repetidas vezes. Isso possibilitaria o aprendizado de uma música e o modo de sua execução, mesmo que de maneira um pouco limitada.

Ainda neste capítulo é abordado as possibilidades da difusão musical possibilitada pela gravação. Embora seja algo quase que concebido intuitivamente por nós hoje em dia, nos primórdios da gravação analógica isso não era tão comum.  Percebe-se isso através da história narrada sobre personagem Blue, um negro, morador na área rural do Texas.  Este era um dos poucos que compreendia o poder das gravações de levar o som a lugares até então inacessíveis. Nesta parte do texto, Byrne citando a história de Blue e de músicos como Leadbelly acaba nos mostrando também um pouco da realidade social e racial dos EUA, na primeira metade do século XX. E ainda mais, também nos é apresentada a conjuntura econômica da emergente indústria das gravadoras e sua dominação e influência sob os artistas e a realidade musical da época.

“Quanto deve durar uma canção” e “Quando a improvisação vira canção” são os títulos do terceiro e quarto tópico do texto. Neles, nos é dito sobre a duração limitada dos discos (78 e 45 rpm) e o resultado disso:  uma alteração no modo de compor. A partir deste contexto, as músicas com duração de 3 a 5 minutos se torna uma característica universal e fizeram com que as composições até então mais longas tenham de se adaptar seguir o mesmo padrão dessas músicas mais curtas, para não se tornarem desinteressantes. Com isso, até mesmo no âmbito da música erudita começa-se a compor pensando nos fatores citados, a exemplo da “Serenata para piano” de Stravinsky.  

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