Globalização e Metalinguagem do Street style dos jovens japoneses
Por: Edgar Alves • 15/2/2016 • Artigo • 3.148 Palavras (13 Páginas) • 392 Visualizações
Globalização e Metalinguagem do Street style dos jovens japoneses
Edgar Alves, edgalves@hotmail.com
Joana Teixeira, joana.rrct@gmail.com
Universidade do Minho
Resumo: O presente artigo é uma análise social dos jovens consumidores japoneses e das várias subculturas presentes no Japão. Com a tecnologia e a Internet, os adolescentes difundem facilmente um estilo ou uma ideologia por todo o mundo. Com o avanço da tecnologia as barreiras das distâncias diminuíram a uma velocidade inigualável, promovendo à globalização e ao avanço da integração mundial. No presente artigo, com o uso da expansão do estilo Lolita, confirma-se que quando ocorre a globalização sucede-se inconscientemente a práticas de interação, de interface e de apropriação cultural. Nesse sentido, quando uma cultura se torna transnacional, o processo de localização é provavelmente envolvido.
Palavras-Chave: Moda; Adolescentes Japoneses; Street style; Comunicação
O ato de vestir não é um processo tão simples nem tão automático quanto aparentemente parece ser. O ser humano, para além de utilizar a roupa para proteger o corpo, expressa a sua identidade através de códigos intrínsecos no visual. A indumentária é um dos fatores que torna as sociedades funcionais. É através do vestuário que reconhecemos imediatamente um polícia, um médico, um juiz, ou um sem-abrigo e adquirimos um comportamento e postura adequada perante cada um deles. Este processo de identificação e de organização social procede-se desde a pré-história quando os assírios, povo guerreiro e relativamente nómadas, usavam lã e os egípcios vestiam peças convencionadas em fibras do linho que era cultivado nas margens do rio Nilo (Moda, necessidade e consumo, 2013). Nestas civilizações já é possível compreender que as roupas estão relacionadas com a matéria-prima e com a tecnologia disponível e espontaneamente com a diferenciação das classes sociais.
O consumo de roupa, executa um papel cada vez mais relevante na construção da identidade pessoal. O número ascendente de estilos de vida disponíveis contemporaneamente permite aos indivíduos, especialmente aos mais jovens, associarem-se a um da sua preferência e consequentemente a uma identidade pessoal e visual significativa.
Os gestos, os comportamentos e as expressões, incluindo aqueles praticamente incontroláveis dos quais não temos noção que exercemos, juntamente com o visual comunicam ideias, intenções, propósitos e pensamentos que facilmente são interpretados pela sociedade. Porém é importante relembrar que a “homogeneidade da mensagem não implica a heterogeneidade da receção” (Wolton,2004)
Brian Mc Veugh descreve o Japão como “a sociedade mais uniforme no Mundo”, onde o vestuário de cada indivíduo está idealizado para a prescrição hierárquica inequívoca de um papel social. Os uniformes oficias foram introduzidos pela primeira vez no Japão, como parte da sua política de modernização e atualmente existem em profunda relevância. Todas as escolas no Japão estabelecem uniformes, que diferem consoante o grau de ensino. Em determinadas escolas além de imporem uniformes obrigatórios determinam o estilo de corte de cabelo e de roupa interior.
Devido à natureza conformativa intrínseca no vestuário da cultura Japonesa, a intensidade do desejo de uma imagem individualista é altamente agravada. Nos anos 90, as jovens estudantes, na procura de alternativas nos seus uniformes para a construção da sua identidade, criaram um novo estilo conhecido como Kogal. Caracterizado pela saia do uniforme consideravelmente mais reduzido, os primeiros botões das blusas desbotados, as meias brancas de meia perna deliberadamente descidas até ao nível da canela originando visualmente uma espécie de polainas, cachecóis da Burberry, telemóveis meticulosamente personalizados, cabelos de várias cores e make-ups e unhas extremamente elaboradas. Através do visual, as Kogal queriam transmitir uma imagem de rebeldia compilada com elementos sofisticados que conduzissem a identidades ativas e peritas em moda.
As roupas utilizadas pelas Kogal não eram comercializadas por profissionais, mas executadas cuidadosamente pelas próprias adolescentes, a fim de se inserirem numa identidade com normas visíveis e distintas das tendências de moda mainstream.
De 1977-1998 na rua principal de Harajuku, Ometesando, foi declarado proibido o movimento de carros aos Domingos. Desde então, os jovens reuniam-se nessa área para interagirem e exporem os seus estilos distintos. Um dos primeiros estilos que criou a tradição de ocupar Ometesando, aos Domingos, foi o Takenoki-zoku, caracterizado por vestes brilhantes de cores fortes e acessórios baratos como apitos de plástico, longos colares de pérolas falsos, crachás e sapatos de kung-fu. Os intervenientes nesta comunidade executavam movimentos de dança coreografados por longas horas, criando uma esfera vibrante de inclusão, onde a sua autoimagem construída tornava-se intensamente visível.
Rapidamente, Harajuku, tornou-se uma rua popular e de atração turística, devido ao grande número de artistas de rua e de jovens com roupas extravagantes, divididos por tribos, que se reuniam, aos Domingos, quando a rua principal se encontrava fechada ao trânsito. Lolitas, Gyaru, Ganguro, Decora, Visual Kei, Dolly kei, Fairy Kei Manba e Mori Girl eram algumas das subculturas que se juntavam às Kogal e aos Takenoki-zoku.
Yuniya Kawamura, autora do artigo “adolescentes japoneses como produtores de Street Fashion”, numa das suas entrevistas questionou a uma jovem se considerava Mamba, ao que ela responde: “Não, eu sou uma Celemba, Celemba é uma combinação de Mamba com a visão de uma celebridade. As Celembas, tendem a usar marcas caras, enquanto as Mambas não. As Mambas usam sombra branca ao redor dos olhos, enquanto as Celembas usam sombra prateada. Relativamente ao vestuário, as Celembas apresentam uma imagem mais madura e sofisticada e não dispensam um cachecol ou um xaile em torno do pescoço. “ Os estilos são muitos ecléticos para serem categorizados como uma única subcultura, e apenas pequenos detalhes podem diferenciar a designação e a transmissão dos significados pretendidos nas inúmeras subculturas existentes no Japão. Estas subculturas não foram cultivadas organicamente mas foram adaptando-se retrospetivamente numa atenção obsessiva aos detalhes da roupa, dos acessórios, da maquilhagem, da música e de todos os outros elementos estilísticos que possuem evidência na identidade visual e pessoal.
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