Grimo: A Vida na Morte
Por: valca • 29/10/2024 • Abstract • 14.107 Palavras (57 Páginas) • 16 Visualizações
GRIMO
Autor: “B” (Bruno Rhuan Batista da Silva)
CAPITULO I: ATÉ OS OSSOS
O som do motor preenchia o silencio dentro do carro. Meu relógio marcava 18:48, um fim de tarde. eu já devia estar casa, mas, mesmo assim, a única coisa que eu pensei naquele momento foi: “eles me descobriram de novo?”
O silêncio se quebra quando um dos meus acompanhantes, diz:
— Que sorte hein! Tu chegou a menos de 2 meses e o chefe já tá querendo falar contigo - ele diz enquanto se diverte com a situação.
— Pois é, provavelmente ele já percebeu que eu faço meu trabalho muito bem – respondo com uma leve ironia na voz.
— Mas eai, pra onde que a gente tá indo? – perguntei tentando parecer casual, mas a curiosidade era inevitavel.
O silencio retorna como se nunca tivesse sido quebrado. “Me descobriram pra cassete” pensei. Eventualmente, chegamos em um antigo teatro no sul da cidade, tão velho que faria um museu parecer um carro de luxo.
— É aqui, o chefe ainda não chegou, então a gente vai esperar la dentro – um deles me avisa.
— Ok... Só espero que esse lugar não seja assombrado. O chefe não deve gostar muito de fantasmas, né? — falei, tentando disfarçar a apreensão com uma risada nervosa.
Eles me deixaram sozinho nos bastidores do teatro, enquanto conversavam e fumavam em outro canto, ainda no meu campo de visão. Eu tinha certeza: se alguém estivesse realmente vindo, era para me matar. E, se não estivesse, esses caras são dois psicopatas que estavam se divertindo as custas da minha paranoia.
“Tenho que me preparar, o que eu digo quando eles chegarem?” penso enquanto junto a poeira e serragem velha, marcas do tempo naquele teatro abandonado, e comecei a retirar a pólvora das balas de um dos meus cartuchos reservas.
Meus movimentos chamaram a atenção deles.
— Ou! O que tá fazendo com essas balas aí? — um deles perguntou, o tom de voz mais sério.
— Ah! Deixei cair na banheira hoje de manhã. Só tô conferindo se a pólvora não molhou — respondi, improvisando uma desculpa esfarrapada. Era o melhor que eu conseguia pensar naquele momento.
Eles pareceram ignorar, como se pensassem: "Não é como se ele fosse conseguir fazer alguma coisa."
Poucos minutos se passaram antes que a grande porta do teatro se abrisse com um rangido alto, seguido por passos pesados que ecoaram pelo salão vazio. Uma voz grossa e carregada de sarcasmo preencheu o espaço:
— Leonard, Leonard Grande Homem! Finalmente, a gente pode se conhecer — disse Poul Pax, o chefe de uma organização criminosa que ia desde pequenos furtos até a distribuição de drogas na região.
Eu reconhecia o nome e a reputação. E agora, mais do que nunca, sabia que não estava ali por acaso.
Eu sabia que Poul sempre andava acompanhado de um Seasoner Veraneio, um de seus homens de confiança, conhecido por ser bem esquentadinho. Quando vi os dois sujeitos ao lado dele, fiquei me perguntando qual deles era o Seasoner. Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Poul, grave e direta.
— Leonard, você entrou há pouco tempo, então começamos com serviços mais simples: roubar alguns bêbados num sábado à noite ou vigiar a carga durante as entregas. No entanto, na sua primeira vigília, nossa carga — que nunca antes tinha sido interceptada — foi descoberta pelas autoridades. E, como se não bastasse, nossa rota de fuga também foi comprometida — ele falou com um tom sério, os olhos fixos em mim.
Meu coração disparou. Apertei a poeira e a serragem que tinha pego mais cedo, enquanto pensava na minha próxima ação.
— Eu... eu não sei o que exatamente tenho a ver com isso. Eles quase me pegaram também, e não tinha como eu saber qual era a rota de fuga — tentei me defender, sentindo a tensão crescer. Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, quase um grito abafado.
Mas a expressão de Poul não mudou. Ele esperava por algo mais, algo que eu talvez não fosse capaz de oferecer.
— Você podia até não saber sobre a rota de fuga, mas não tinha como não ter visto os carros de polícia chegando. Além disso, nós já encontramos quem dedurou a rota. Talvez um de seus amiguinhos? — ele disse em um tom sombrio, enquanto um de seus capangas arremessava um homem completamente machucado, com várias queimaduras, amarrado e amordaçado.
Era Jonny Levã, um dos homens mais antigos da quadrilha. Nunca suspeitei que ele pudesse ser algum tipo de informante.
— Eu nem conheço esse cara — disse, surpreso.
— Bem conveniente pra você, não é? — disse Poul, com um ar ameaçador. — Mas adivinha, a gente já estava desconfiando dele há algum tempo. Ao que aparenta, nosso querido Jonny virou a casaca. Ele era o único no lugar que conhecia a rota de fuga, e o fato de você, Leonard, não ter avisado sobre a aproximação dos policiais te coloca como cúmplice desse porco nojento — ele disse, enquanto chutava Jonny no chão, que se encolhia de dor.
— Eu perdi milhões com aquela carga, e metade dos meus homens mais competentes foram pegos. A minha sorte foi que o Vinse conseguiu apagar o Jonny antes dele conseguir fugir. E agora, vocês dois vão cambonizar junto com essa porcaria de teatro — Poul gritou, enquanto Vinse se revelava como o Seasoner, com as mãos em chamas.
Armas foram apontadas para mim e para Jonny, que agora estava na minha frente, tornando-se mais um problema para minha cabeça. Canalizei energia na poeira, arremessando uma nuvem que, ao tocar em dois dos quatro capangas que estavam ali, secava e envelhecia seus corpos até que restassem apenas cadáveres putrefatos no chão. Para minha felicidade, foram os dois imbecis que me trouxeram.
— Que porra é essa? — dizia Vinse, que protegia a si mesmo, Poul e mais um companheiro com uma barreira de ar quente que havia criado.
Em meio à confusão, peguei o corpo de Jonny e um isqueiro que estava no bolso de um dos cadáveres, e me escondi entre as cadeiras de uma das fileiras do teatro.
— Que tipo de Seasoner é você? — questionou Jonny.
— É complicado até pra mim, cara. Agora fica quietinho aí — respondi, enquanto pegava o isqueiro e a pólvora que havia retirado de algumas das minhas balas.
...