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Historia da Arte IV - Baudelaire

Por:   •  14/1/2019  •  Ensaio  •  2.090 Palavras (9 Páginas)  •  218 Visualizações

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Instituto de Artes

Curso: Historia da Arte.

TRABALHO DA DISCIPLINA HISTÓRIA DA ARTE IV:

Hannah Oliveira Coutinho

Professor: Patrícia Guimarães

RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE 2018.

Apontar o século XIX como o período da história em que o homem mais tenha sido desnudado, em que as crenças e as tradições deste mesmo homem tenham sido quebradas para ceder espaço a um novo tipo de vida que se organizava – a sociedade capitalista –, pode parecer lugar-comum; mas foi, sem dúvida, nesse século que o urbanismo e a rua passaram a fazer irremediavelmente parte de nossas vidas. Com efeito, quando as formas de sociabilidade do Antigo Regime foram rompidas, todo um novo processo de reorganização da sociedade entrou em cena: a ruptura das fronteiras sociais, dos privilégios estatutários e o surgimento da cidadania tornam-se, então, elementos cruciais para a consolidação desta sociedade historicamente determinada.

As transformações políticas e econômicas ocorridas no século XVIII, especialmente a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, desempenharam papéis fundamentais para as mudanças ocorridas no século XIX. Esta sociedade historicamente determinada teve – na quebra dos privilégios estatutários e no surgimento da cidadania – pontos decisivos para sua afirmação. Ao se erigir com indivíduo livre, o homem moderno altera todas as estruturas da antiga sociedade feudal, que tinha na hierarquia seu ponto de apoio. As barreiras erguidas pelos estamentos caem junto com as geográficas. A classe operária aparece e se impõe no cenário da História, que agora se move como se Prometeu tivesse sido desacorrentado.

O mundo que se moderniza vai insinuando-se, vai se mostrando transparente e excessivo. Mas a velocidade da vida nervosa das metrópoles, paradoxalmente, torna turva a visão dos contornos e das formas. E cidadão é deixado à deriva; jogado de encontro às multidões das ruas; obrigado a decifrar uma profusão incalculável de sinais e códigos num cenário abarrotado de imagens. O movimento, os adensamentos humanos, o barulho, o tráfego, a vida fervilhante, toda essa atmosfera assinala um modo de vida. E este novo mundo pedia um novo olhar, urgente e necessário para este também novo homem, para que assim ele buscasse se entender frente a tantas transformações.

As errâncias urbanas, a relação afetiva com as ruas e a figura do flâneur, sugeridos pela deriva, aparecem em textos de autores anteriores aos Situacionistas. Sugere alguém não adequado ao sistema, um vadio no contra fluxo, que apesar de exposto aos elementos desumanizantes da cidade insiste em ser perspicaz, um cronista da cidade que a conhece através da observação.

Na análise de Baudelaire e das passagens parisienses do século XIX, Walter Benjamin teoriza sobre a figura do flâneur, apresentada pelo poeta francês: o errante urbano que rebela-se contra a modernidade e gasta seu tempo deleitando-se com o insólito e o absurdo na concentração populacional das metrópoles pós Revolução Industrial.19

O flâneur só pode existir nas grandes cidades – as metrópoles –, pois as pequenas não lhe oferecem o mesmo espaço para os passeios e a observação. Ele passa a maior parte do tempo apenas olhando o espetáculo urbano, em que observa particularmente as novas invenções. Citando o amigo Constantin Guys, Baudelaire nos diz que quem se “entedia no seio da multidão é um imbecil.”

Como um ocioso que circula em Paris – capital do século XIX – como a terra prometida, o poeta transmudado no flâneur tenta levar uma vida paradoxal: estar na multidão sem se envolver nela e, junto com ela, ir ao mercado contemplar as mercadorias. Era como um “observador apaixonado” das cidades e das multidões que as compõem, um olhar sobre a vida ordinária possibilitado pela modernidade.

Em “O Homem na Multidão” de Edgar Allan Poe (1809-1849), é outro exemplo do flâneur pelas ruas, em que o autor é muito atento às pessoas e através da observação especula suas classes sociais, suas personalidades e até mesmo suas profissões. O romance policial entra na França pelas mãos de Baudelaire, uma vez que ele é o tradutor dos trabalhos do americano Poe. A iminência do abismo – característica da consciência da modernidade –, a solidão experimentada em meio à multidão, o perigo à espreita a cada amanhecer, a vida urbana caracterizada pela colisão de sensações fragmentárias e descontínuas, a mecanização da existência, são esses os temas presentes nos breves contos.

Entre os diversos procedimentos situacionistas, a deriva se apresenta como uma técnica ininterrupta através de diversos ambientes. O conceito de deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento de efeitos da natureza psicogeográfica, e à afirmação de um comportamento lúdico-construtivo, o que se opõe em todos os aspectos às noções clássicas de viagem e passeio. O flaneur se lança à deriva renuncia, durante um tempo mais ou menos longo, os motivos para deslocar-se ou atuar normalmente em suas relações, trabalhos e entretenimentos próprios de si, para deixar-se levar pelas solicitações do terreno e os encontros que a ele corresponde.

Indo de encontro ao novo mundo, agora dirigido pela burguesia, a figura do dândi e o boêmio se encontravam. Baudelaire estava nesta posição dúbia: era um dândi no boemismo. Para ser elegante, teria que recusar a natureza; era o artífice se sobressaindo. Em “O Pintor da Vida Moderna”, é clara sua celebração do antinatural: ele glorifica a moda, os cosméticos e a ornamentação pessoal. Para Baudelaire, o dândi deveria “combater e destruir a trivialidade”, eles “participam do mesmo caráter de oposição e de revolta” contra o mundo burguês em transformação.

O dândi também está próximo do apolítico, do anti-social. Há vários aspectos que distanciam Baudelaire do dandismo, não só as polêmicas literárias, mas suas posições políticas, embora, em vários momentos, seja favorável ao afastamento da arte da política.

Para o crítico, a figura do dândi é a característica mais arraigada
à função da máscara na poesia baudelairiana, um artifício que
possibilita a passagem, em Baudelaire, da pessoa à persona. Cabe
salientar que o termo persona, cuja origem etimológica significa
máscara e remete àquelas máscaras fixas usadas nas tragédias
gregas, também está presente na teoria psicanalítica de Jung e
refere-se à personalidade que o indivíduo apresenta aos outros
como sendo a real, mas, que, no entanto, é apenas uma variante
daquela, podendo ser, às vezes, muito distinta da sua verdadeira
personalidade.

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