Leitura Transtextual de Imagens - Ana Calzavara e a Gravura "do lado de lá"
Por: Raqueli Cades • 15/9/2016 • Trabalho acadêmico • 1.126 Palavras (5 Páginas) • 494 Visualizações
Leitura Transtextual de Imagens (LTI)
Ana Calzavara nasceu em Campinas, São Paulo, no ano de 1971, agora vive e trabalha na capital São Paulo. É bacharel em Artes Visuais pela Unicamp, pós graduada pela Byam Shaw School of Art em Londres e Mestre e Doutora pela ECA/USP. Também participou dos ateliês de pintura de Paulo Pasta, de gravura no Museu Lasar Segall e no Museu de Arte Contemporânea e também o ateliê de fotografia com João L. Musa. Ajudou a fundar o Ateliê Piratininga e atualmente faz parte da Associação Jatobá, que é um coletivo de artistas que visa promover a ação cultural do artista na cidade, por meio de exposições, encontros e cursos em Artes Visuais. Participa de mostras no Brasil e no exterior com seus trabalhos de fotografia, gravura e pintura.
Em uma entrevista realizada para Fabrício Lopez no ano de 2014 a artista fala sobre sua vida cotidiana, como a pintura está incorporada em seu dia a dia e o modo como ela se relaciona com as coisas ao seu redor, relatando
[...] meu olhar, talvez mais que isso, meu corpo, é sensível a esse tipo de situação – me refiro às relações de cor, luz, enquadramento, veladuras, planos. Procuro instintivamente essas relações quando olho as coisas, sejam elas um muro, uma janela, uma fachada, uma pessoa, a natureza ou mesmo uma imagem. (CALZAVARA, 2014, [s.p.])
A gravura "Do lado de lá" foi produzida no ano de 2012 com a técnica de xilogravura a cores e monotipia, impressa sobre papel kozo.
[pic 1]
A imagem acima é representada em perspectiva por uma estrada em meio a linhas curvas e quebradas formando montanhas, as quais são símbolos da segurança e lembram fortalezas. Na medida em que elas são altas, verticais, elevadas e próximas do céu participam também do simbolismo da transcendência, são o encontro do céu e da terra, a morada dos deuses e objeto de ascensão humana. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2002, p. 616)
Segundo Dies, citado pelos autores Chevalier e Gheerbrant
Um pico que se eleva contra o céu [...] não é apenas um belo motivo pictórico; ele simboliza a residência das divindades solares, as qualidades superiores da alma, a função supraconsciente das forças vitais, a oposição dos princípios em luta que constituem o mundo, a terra e a água, bem como o destino do homem (ir de baixo para cima). Um ponto culminante de uma região, o cimo de uma montanha – que se imagina banhando-se no céu como os picos rochosos do famoso quadro do Louvre (Ana, Maria e Menino Jesus, de Leonardo da Vinci) – simbolizam o termo da evolução humana e a função psíquica do supraconsciente, que é precisamente conduzir o homem ao cume de seu desenvolvimento. (DIES, apud CHEVALIER; GHEERBRANT, 2002, p. 619)
Mesmo que a imagem seja assimétrica, a forma e a intensidade com que as cores de suas montanhas e seu céu azul foram utilizadas a deixam equilibrada. A luz e a sombra presentes na imagem nos transmitem uma textura visual, mesmo que seja um plano. A linha reta do cercado que segue ao lado da estrada da a impressão de que é uma força vinda de fora, fazendo com que o ponto se mova numa determinada direção, criando a primeira espécie de linha, que mantém a direção tomada, com a tendência de continuar direto ao infinito. Os pontos espalhados por toda a imagem são um pequeno mundo a parte, mantém suas posições e não mostram nenhuma tendência de movimento para nenhuma direção, nem horizontal, nem verticalmente, não avançando, nem recuando. (KANDINSKY, 1997, p. 25-50)
Seu imenso céu de diferentes tonalidades da cor azul torna possível mergulhar o olhar sem encontrar qualquer obstáculo, nos perdendo até o infinito, como diante de uma perpétua fuga da cor, sendo a mais profunda das cores e que de acordo com Chevalier e Gheerbrant
O azul é a mais imaterial das cores: a natureza o apresenta geralmente feito apenas de transparência, i. e.; de vazio acumulado, vazio de ar, vazio de água, vazio do cristal ou do diamante. O vazio é exato, puro e frio. O azul é a mais fria das cores e, em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro. [...]
[...]Os movimentos e os sons, assim como as formas, desaparecem no azul, afogam-se nele e somem, como um pássaro no céu. Imaterial em si mesmo, o azul desmaterializa tudo aquilo que dele se impregna. É o caminho do infinito, onde o real se transforma em imaginário. Acaso não é o azul a cor do pássaro da felicidade, o pássaro azul, inacessível embora tão próximo? Entrar no azul é um pouco fazer como Alice, a do País das Maravilhas: passar para o outro lado do espelho. Claro, o azul é o caminho da divagação, e quando ele se escurece, de acordo com sua tendência natural, torna-se o caminho do sonho. O pensamento consciente, nesse momento, vai pouco a pouco cedendo lugar ao inconsciente, do mesmo modo que a luz do dia vai-se tornando insensivelmente a luz da noite, o azul da noite. (2002, p. 107)
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