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MACUNAÍMA: Fundamentos e crítica social

Por:   •  25/10/2019  •  Resenha  •  519 Palavras (3 Páginas)  •  359 Visualizações

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O escritor brasileiro Mário de Andrade foi um dos maiores nomes da literatura brasileira. Sua principal obra, Macunaíma, foi publicada em 1928 e pertence ao Modernismo, movimento que buscou criar um retrato da identidade nacional baseado em nossas raízes. O Modernismo abandona o estilo Romântico de dar características idealizadas aos personagens para torna-los mais reais. Enquanto em Iracema e em O Guarani, ambos de José de Alencar, o índio é sempre bonito, bom e com a conduta ética de um cavaleiro europeu, em Macunaíma, o índio é feio, preguiçoso e malicioso.

O livro de Andrade conta a história de Macunaíma, um índio da tribo amazônica Tapanhumas que de tão preguiçoso só começou a falar aos seis anos, mas quando se tratava de dinheiro e prazeres amorosos, o índio “dandava pra ganhar vintém” ou “espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus”. Já adulto, Macunaíma força a índia Ci a se tornar sua mulher e ela tem um filho dele, que logo morre. Ci morre de desgosto em seguida, deixando apenas um amuleto chamado Muiraquitã como recordação. Macunaíma perde o amuleto e quem o acha é Venceslau Pietro Pietra, o gigante Piamã comedor de gente, que o leva para São Paulo. Quando Macunaíma descobre o paradeiro da pedra, parte para a cidade com seus irmãos, onde ele precisa mostrar toda sua esperteza e malandragem para se livrar de apuros e recuperar a pedra.

No que diz respeito à compreensão total da obra, ela é comprometida pois apresenta aspectos que desafiam a realidade, como quando Macunaíma atravessa o país correndo ou quando é ressuscitado. Também nos deparamos com muitos simbolismos mascarados de surrealismo, como quando Macunaíma e seus irmãos se banham numa poça, e de negros, cada um sai com um tom de pele diferente. Essa passagem pode ser entendida como uma referência às três etnias que formaram o Brasil: o branco europeu, o negro e o índio nativo. Outro caso de simbolismo pode ser visto na descrição de Macunaíma, que possui um corpo grande como o nosso país, mas é imaturo, simbolizado por sua cabeça pequena. Devido a essa imaturidade, ele é considerado um herói sem nenhum caráter, como o povo brasileiro que ainda está construindo sua identidade.

A linguagem do livro é de longe o que mais dificulta a compreensão do texto por ser um misto de linguagem oral com dialeto indígena e referências folclóricas. Surpreendentemente, a intenção do autor era justamente essa, o próprio meio é a sua mensagem. Ao sentirmos estranhamento com termos da nossa própria cultura mostramos o quão pouco somos familiarizados com ela, apesar de reverenciarmos os estrangeirismos. É como se a cultura indígena fosse muito mais exterior do que a cultura estrangeira. Dessa forma, vemos como a crítica construída por Mário de Andrade à sociedade ainda é válida, mesmo após um século desde a publicação da obra. Portanto, apesar das dificuldades enfrentadas na leitura e do personagem principal não inspirar qualquer simpatia, Macunaíma é uma obra cuja leitura é um bem-vindo confronto com verdades sobre a nossa realidade que muitas vezes não vemos, construída de formal magistral com muita ironia e humor.

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