Modernidade e modernização: o espetáculo do séc. XIX ao XX
Por: Roberto Lagarto • 6/4/2018 • Resenha • 1.603 Palavras (7 Páginas) • 247 Visualizações
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Departamento de Linguagens e Comunicação
Programa de Pós Graduação em Estudos da Linguagem
Modernidade e modernização: o espetáculo do séc. XIX ao XX
Professora: Naira de Almeida Nascimento
Aluno: Roberto Wagner Rocha Junior
Memória de Leitura – Do grotesco ao Sublime. HUGO, V.
Victor Hugo em seu prefácio de Cromwell apresenta as suas teorias: das três idades do mundo e da literatura, sua teoria sobre o grotesco, sua teoria sobre o drama. Trata também do problema da imitação, do princípio da liberdade na arte, sobre a relação entre natureza e arte, sobre o problema da cor local, sobre o verso dramático. Comenta, obviamente, sobre sua peça, Cromwell, consequentemente aborda da mesma forma o problema da representação. E, por fim, ocupa-se da nova crítica.
Teoria das três idades – “A mesma sociedade não ocupou sempre a Terra.” (HUGO, 2007, p.16).
Segundo Hugo, a história do mundo e da literatura pode ser dividido em três idades: primitivos, antigos e modernos. A idade primitiva é quando o ser humano desperta a sua consciência no mundo. Segundo Hugo (2007) é a época em que Deus, a alma e a criação se confundem e envolvem tudo sem distinção. É uma época nômade que proporciona a contemplação solitária e a fantasia. Nessa época a primeira palavra do ser humano é um hino.
“A prece é toda sua religião: a ode é toda sua poesia” (HUGO, 2007, p.17).
Mas a partir que a humanidade vai crescendo e “o acampamento da lugar à cidade, a tenda ao palácio, a arca ao templo” a religião começa a se formar, os ritos aparecem em conjunto com os dogmas e tudo se torna épico. Homero é o principal representante da idade antiga. A epopéia e a tragédia despontam como principais formas de expressão dessa idade da humanidade onde o teatro, culto e história se misturam. Segundo Hugo (2007) todos os heróis, fábulas e catástrofes se motivam sempre na Ilíada e na Odisséia até se desgastar dando origem à nova era.
A idade moderna surge a partir do cristianismo, do surgimento de uma religião espiritualista que “cimenta profundamente a moral” (HUGO, 2007, p.21) que o ser humano descobre que tem duas vidas, “uma da terra, a outra do céu” (ibdem). Essa época diminui o ser humano pra engrandecer Deus, coloca um abismo entre Deus e o Ser humano. E nisso surge um sentimento novo: a melancolia, e, ao mesmo tempo, a curiosidade.
De um lado a melancolia e a meditação, de outro a análise e a controvérsia, um gênio e um demônio respectivamente completam a dualidade dessa nova idade. E de uma nova religião, urge nascer uma nova poesia, o drama.
Teoria do grotesco – “Assim (...) um novo tipo introduzido na poesia (...). Eis uma nova forma que se desenvolve na arte. Este tipo, é o grotesco. Esta forma, é a comédia” (HUGO, 2007, p.27)
Enquanto os antigos não misturavam comédia e tragédia, Hugo (2007) vai dizer que é da união entre o grotesco e sublime que nascerá o gênio moderno. Se na antiguidade o grotesco e o cômico ainda apareciam de forma tímida, na idade moderna ele tem um papel crucial, se de um lado cria o horrível, do outro cria o cômico.
O grotesco aparece criando contraste com o Sublime e abre-se então uma fonte abundante para a arte. Sublime pelo sublime cansa “tem-se necessidade de descansar de tudo, até do belo” (HUGO, 2007, p.33). Na nova poesia o sublime canta a alma purificada do ser humano cristão, o grotesco canta sua parte bestial. Enquanto só existe um tipo belo, existem milhares de tipos feios.
Teoria sobre o drama – “Os dois gênios rivais unem sua dupla chama, e desta chama brota Shakespeare” (HUGO, 2007, p.40).
O drama é a característica da poesia da terceira idade, da literatura do século XIX. Enquanto os primitivos cantavam a eternidade em odes, a antiguidade solenizava a história por meio da epopéia, e o drama? “O drama canta pinta a vida” (HUGO, 2007, p.40). Enquanto os personagens da poesia antiga são colossais, os personagens do drama são homens e mulheres comuns. O drama vai fundir “o grotesco e o sublime, o terrível e o bufo, a tragédia e a comédia” (ibdem). Ao unir características tão opostas que o drama vai se encher de profundidade, relevo, filosofia, sem deixar de ser pitoresco. “O drama é poesia completa” (HUGO, 2007, p.43). Os seres humanos ao cantarem o que pensam, cantam o drama. O drama canta o real, e o real é a união entre sublime e grotesco. Sua harmonia são os contrários, da bestialidade e da alma humana. A distinção de gêneros é arbitrária, e é da mistura entre eles que se evita monotonia, ”ora lança riso, ora lança horror na tragédia” (HUGO, 2007, p.51), o drama é a mistura.
O problema da imitação – “Há neste caso duas espécies de modelos, os que se fizeram segundo as regras, e, antes deles, os que segundo os quais, se fizeram as regras” (HUGO, 2007, p.62).
O grande problema da imitação segundo Hugo (2007) é sua paradoxalidade frente a crítica. Se de um lado a critica urge para que se imitem os modelos, as regras, de outro ela costuma proclamar que os mesmos são inimitáveis. O que o leva ao princípio da liberdade na arte.
O princípio da Liberdade na arte – “Destruamos as teorias, as poéticas e os sistemas.” (HUGO, 2007, p.64).
O único conselheiro do poeta deve ser a natureza, a sua própria imaginação e inspiração. Hugo (2007, p.64) clama “Derrubemos esse velho gesso que mascara a fachada da arte”. É preciso que a poesia e a arte sejam livres para se expressarem para além dos modelos a fim de que não se coloque a memória de regras e modelos a frente da imaginação e da inspiração.
A relação entre a arte e a natureza – “Qual é o limite intransponível (...) que separa a realidade segundo a arte da realidade segundo a natureza?” (HUGO, 2007, p.67)
A natureza e a arte, apesar de distintas entre si, são indissociáveis. Uma não existiria sem a outra. Ao contrário de simplesmente refletir a natureza, o teatro dramático deve ser um espelho côncavo que “reúna e condense os raios corantes, que faça de um vislumbre uma luz, de uma luz uma chama. Só então o drama é arte”. A finalidade da arte é criar, não reproduzir.
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