O ESPETÁCULO ESPÉCIE
Por: Mônica Reis • 30/8/2022 • Artigo • 3.797 Palavras (16 Páginas) • 88 Visualizações
INVESTIGANDO O PROCESSO DO TRABALHO DO ATOR NO ESPETÁCULO ESPÉCIE: diálogos preliminares[1]
Evaldo Andrade da Silva[2]
Orientador: Prof.º Me. Adriel Diniz dos Reis
RESUMO: O presente artigo propõe investigar o processo de construção do trabalho atoral, com o objetivo de analisar: a experiência, a construção e a interpretação do ator durante o desenvolvimento do espetáculo Espécie trazendo ao palco a encenação do corpo expressivo do ator Rodrigo Cunha com direção de Valéria Braga. A fundamentação teórica compreende-se na análise da pedagogia do ator a partir da metodologia de ações físicas de Stanislavski, bem como as influências desse método no teatro pobre de Grotowski e na biomecânica de Meyerhold empregado no processo de construção do ator durante o espetáculo. A metodologia empregada é um estudo de caso, fundamentado em entrevistas, revisão de literaturas e coleta de material artístico do espetáculo, na qual será explorado em sua investigação na análise e discussão da construção atoral no espetáculo Espécie. Conclui-se com este estudo que o corpo do ator é a essência central do espetáculo goiano promovendo uma nova forma de compreensão do teatro contemporâneo e o uso de elementos característicos para a sua realização.
Palavras chaves: Trabalho do Ator. Teatro Goiano. Espécie.
INTRODUÇÃO
O espetáculo Espécie dirigido por Valéria Braga com atuação de Rodrigo Cunha estreou em 2012 no cenário artístico teatral goiano e há quase uma década nos faz compreender enquanto plateia que o teatro executado de maneira física influencia diretamente no corpo do ser humano uma infinidade de movimentos.
A partir desse entendimento o corpo do ator passa a ser objeto de estudo das atividades físicas concretizadas no espetáculo em prol da sua subjetividade, o que também provoca muitas inquietudes na compreensão e representatividade do corpo do ator e o seu processo da criação cênica que serão discorridas no texto em busca de respostas.
O presente artigo propõe a investigar o processo do trabalho do ator com o objetivo de relacionar a experiência, a construção atoral e a interpretação durante o desenvolvimento do espetáculo Espécie. Compreende-se também a análise do trabalho do ator a partir da metodologia de ações físicas de Stanislavski, bem como as influências desse método no teatro pobre de Grotowski e a biomecânica de Meyerhold aplicado no processo de construção do ator durante o espetáculo.
A metodologia empregada é um estudo de caso, baseado em entrevistas, revisão bibliográfica e coleta de material artístico com gravação do espetáculo a qual será muito importante na análise e discussão do assunto. Conclui-se com este estudo que o corpo do ator no espetáculo Espécie é a essência central do espetáculo goiano promovendo uma nova forma de compreensão do teatro contemporâneo e o uso de elementos característicos para a sua realização.
Dividido em três etapas: este artigo traz uma análise sobre o processo do trabalho do ator a partir da metodologia das ações físicas de Stanislavski com algumas nuances no teatro pobre de Grotowski e a biomecânica de Meyerhold para fundamentar o tema deste estudo; na segunda etapa abordaremos recortes do espetáculo Espécie com um olhar diferenciado às possibilidades alcançadas através de entrevistas coletadas; na terceira e última etapa trouxemos como pano de fundo o teatro físico e o corpo do ator como meio, instigando assim tal como o espetáculo Espécie novas formas de ver o mundo.
O PROCESSO DE TRABALHO DO ATOR A PARTIR DA METODOLOGIA DE STANISLAVSKI, GROTOWSKI & MEYERHOLD
Stanislavski sistematizou os seus trabalhos com as ações físicas resgatando o ator como objeto dos seus estudos no início do século XX, instaura a necessidade de sistematizar o trabalho do ator. “É um sistema que deve ser estudado parte por parte e depois fundido num todo, para que se compreendam os seus fundamentos” (STANISLAVSKI, 2016, p. 384).
As ações físicas nascem da emoção e da criação de sentimentos internos do ator no decorrer do processo de construção do personagem. Stanislavski propunha a criação das ações físicas para a representação da vida real, trazendo à tona o naturalismo e o estado interior da criação artística.
A visão de Stanislavski fala sobre o trabalho do ator que define o fazer teatral trazendo o si mesmo para a cena, permitindo explorar o enredo para a construção de um papel a cada ação em busca do naturalismo do ator antes do ensaio. Por outro lado, rompendo com as estruturas do teatro naturalista, a proposta de Meyerhold considera o movimento como um acontecimento em forma das leis da arte, para ele o papel da conscientização do movimento cênico é mais importante do que o de qualquer outro elemento no teatro.
A conscientização do movimento do corpo pode apontar, inicialmente, para o aspecto do indivíduo. Por outro lado, é possível refletir também como a consciência do corpo e do gesto pode atingir um campo dilatado, envolvendo uma esfera social. O direcionamento desta discussão abre um caminho para a observação sobre as possíveis reflexões de Meyerhold a respeito da conscientização do movimento do corpo do ator. Afinal, a técnica da biomecânica teatral de Meyerhold, maior legado deixado pelo encenador, é pautada em uma proposta de reabilitação do gesto teatral, a partir de sua consciência e forma de condução no teatro de sua época. (MARTINS, 2018, p. 147).
O antinaturalista pulveriza todo o acontecimento cênico do ponto de vista da criação teatral um ator que ao contrário do que se pensa ao resumir as suas técnicas numa estrutura dramática as ideias construtivistas latentes na época, é dotado de recursos que evocam para um teatro que privilegia o seu trabalho de pesquisa e criação no teatro, em que o corpo não é visto como instrumento, mas com um único elemento vivo, ora a consciência corporal do ator em si mesmo. “Quando tomamos conhecimento e refletimos acerca das dedicadas pesquisas de Meyerhold sobre o corpo do ator, percebemos que, não por acaso, o encenador se debruçou sobre as peculiaridades do gesto na cena teatral”. (MARTINS, 2018, p. 147). Destaca ainda que embora Meyerhold seguiu um caminho completamente diferente de Stanislavski, no seu teatro existem muitos fragmentos do teatro naturalista.
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