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O Teatro de Resistência

Por:   •  23/2/2021  •  Bibliografia  •  7.035 Palavras (29 Páginas)  •  146 Visualizações

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TEATRO DE RESISTÊNCIA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA: O GOVERNO MILITAR BRASILEIRO DE 1964

Guilherme Henrique Pereira da Silva

Jailson Araújo Carvalho

1 Caminhos no tempo

        Pensar sobre a história é uma via de mensuração do tempo e de tudo aquilo que foi vivido. É buscar na memória fatos ocorridos, narrações de grandes acontecimentos, imagens do cotidiano, enfim, aquilo que o ser humano registrou em escritos ou, em alguns casos, apenas nas lembranças.

        Nesse ínterim, a palavra “tempo” pode vir como àquilo que faz envelhecer as substâncias materiais, que logra a transformação do jovem no velho, do rígido no flexível. Aquilo que é responsável pelo ciclo da vida. É no tempo que se tem o nascimento, a vida e a morte; que se desenvolve a personalidade, o caráter e o modo como cada ser humano encara os desafios da vida. Definitivamente, o tempo está na história.

Immanuel Kant (1994, p. 70, 71), na obra intitulada Crítica da Razão Pura, assim esclarece sobre o tempo:

O tempo não é um conceito empírico que derive de uma experiência qualquer. Porque nem a simultaneidade nem a sucessão surgiriam na percepção se a representação do tempo não fosse o seu fundamento a priori. Só pressupondo-a podemos representar-nos que uma coisa existe num só e mesmo tempo (simultaneamente), ou em tempos diferentes (sucessivamente). O tempo não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal, mas uma forma pura da instituição sensível. Tempos diferentes são unicamente partes de um mesmo tempo. Ora, a representação que só pode dar-se através de um único objeto é uma intuição. E também não se poderia derivar de um conceito universal a proporção, segundo a qual, tempos diferentes não podem ser simultâneos. Esta proposição é sintética e não pode ser unicamente proveniente de conceitos. Está, portanto, imediatamente contida na intuição e na representação do tempo (grifo nosso).

Ao pensar no conceito “tempo”, conforme descrito por Kant, é possível refletir sobre o significado do tempo dentro da história. Por exemplo, para a sociedade em geral, o tempo nada mais é do que uma passagem entre períodos distintos (dia e noite; dias, meses, anos; horas, minutos, segundos). O tempo flui entre/por cada ser humano, sendo possível considerá-lo no modo como o pensamento é exteriorizado, pois, é no tempo e pelo tempo que o pensamento da humanidade se constrói e reverbera pelos séculos de vida humana.

De modo simplório, é possível afirmar que o tempo existe em três esferas, quais sejam: 1) O que passou – o passado, 2) O que vivemos – o presente; 3) O que buscamos – o futuro. Assim, tentar mensurar a passagem do tempo é algo subjetivo, uma vez que cada pessoa vive seu tempo único; ou seja, quando se está feliz, se sente o tempo passar depressa, como se ele voasse; e, nos momentos difíceis, tem-se a impressão de que o tempo se arrasta a passos lentos. Sob a ótica de Kant, o tempo é um arcabouço de conexão do sujeito com ele próprio e sua relação com o mundo.

Além disso, é no tempo que se percebe o processo de aprendizagem do ser humano. E por mais que o caminho entre este último e o conhecimento apresente diversas possibilidades, é a partir do ponto de vista de cada individuo que se dá tal processo. Vale notar que a significação existe eficazmente quando se é agente ativo do desenvolvimento cognitivo próprio.

Permanecer na passividade, ficar inerte e esperar que o desenvolvimento intelectual ocorra por invenção de outras pessoas é um risco que se corre. Assim, diante da complexidade e subjetividade de cada ser humano em seu construto educacional, ser um agente ativo que cria oportunidades para que uma real significação, no processo de ensino e aprendizagem, se dê com mais clareza, é algo imensurável.

Diante do exposto, as linhas que se seguem tiveram por base o tempo, a história, as artes e a vontade de proporcionar experimentações que oportunizassem a busca ativa pelo conhecimento. Nesse ínterim, em 2014, os autores deram início à vivência da temática em questão em uma escola de Ensino Médio na Região Administrativa do Recanto das Emas – RA XV, Distrito Federal, estando Jailson Araújo Carvalho na condição de professor e Guilherme Henrique Pereira da Silva na condição de estudante. A partir da vontade e do interesse na busca pela ampliação do conhecimento, decidiu-se pela união das ideias de ambos, transformando-as em um texto. Mais uma vez, constatou-se a necessidade de agir verdadeiramente para a confecção do presente escrito – quando se coloca na posição de alguém que busca caminhos para dar significado à aprendizagem, volta-se novamente à etimologia da palavra “ação”.

De fato, faz-se interessante explicar os processos históricos através das Artes Cênicas, sobretudo, via Teatro de Resistência – ponto das artes que pode ofertar várias possibilidades para se posicionar como agente ativo para cada estudante.

De conversas esporádicas, de encontros espontâneos e da vontade de produzir conteúdo de qualidade e aplicável à sala de aula, tanto para a História como para as Artes, nas linhas que se seguem se deu a união dos pensamentos dos autores. Nesse sentido, pensar a evolução histórica é pensar no ser humano, na tecnologia, na arte e em como os estudantes poderiam chegar mais perto do conhecimento com significação.

A partir daí, no presente texto, delimitou-se um ponto da História brasileira: o Governo Militar de 1964, onde se descreveu um breve histórico da formação governamental do país até o ano de 1964 – ponto de partida para a descrição e análise dos fatos via Teatro de Resistência.

2 Formação do Governo Brasileiro

           2.1. O Brasil e suas formas de governo

Ao discutir todo e qualquer tema atrelado ao conhecimento histórico, é impossível desassociar o que estará em questão das produções e contribuições humanas, confirmando, assim, as seguintes palavras de Bloch (2001, p. 54): “O objeto da História é por natureza o homem”. Logo, entende-se que nos palcos da história, o homem sempre atuará como autor, emissor e receptor dos fatos históricos, pois, a história somente se dá por meio das ações humanas no passado.

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