O objeto de arte e a estética da impermanência
Por: Ludmilla Moriani • 28/11/2015 • Trabalho acadêmico • 638 Palavras (3 Páginas) • 760 Visualizações
A relação entre o tempo e os trabalhos de arte efêmeros é uma das características da arte contemporânea. Rosenberg expõe no texto um pensamento de Edgar Alan Poe que ilustra bem esta questão, quando:
Ao definir um poema por seu efeito psicológico no leitor, Poe introduziu o tempo na crítica da arte. “Todas as emoções são, por uma necessidade psíquica, transitórias”. (...) E meia hora “no máximo” é o limite “daquele grau de emoção que faria um poema merecer esse nome”. (ROSENBERG, Objeto ansioso, pg. 89).
Assim, o autor nos mostra que um poema é efêmero, de modo que a impermanência está aí, na não duração do seu efeito, ou experiência estética.
Também podemos entender como um fator de mutação. Pode-se, por exemplo, citar a pintura “chuva, vapor e velocidade”, de Turner, onde o artista representou a velocidade, a desmaterialização do objeto físico por meio da desestruturação. Deste modo a arte se apresenta por meio de objetos que se desfazem. Ou podemos citar a performance, que tem início e fim, diferentemente da somente representação de Turner, que nesse sentido deixa de ser “objeto ansioso”. A performance é um objeto ansioso, ou uma poética impermanente, pois tem uma duração específica para iniciar e terminar. O trabalho se desfaz ao passo que o artista à encerra. Resta, porém, dizer que o registro documental não poderá ser levado em conta, pois a experiência estética não poderá ser revivida pelo espectador. Rosenberg também expõe um pensamento de Duchamp quanto a isso, quando:
Marcel Duchamp propôs um limite comparável de tempo para as pinturas, mas, em vez de considerar a capacidade de “emoção” do público, refletiu sobre quanto tempo pode durar o poder estimulante da obra. (...) Duchamp afirmou que uma pintura possui um “aroma ou exalação” estética que persiste durante vinte ou trinta anos. (ROSENBERG, Objeto ansioso, pg. 89).
Deste modo, a noção contemporânea de arte trabalha com a impermanência, ou aquilo que tende a se deteriorar, ou se degenerar, seja pelo fato de um trabalho temporário, que se instala e depois é retirado, ou a partir de um trabalho que se desgasta com o tempo, até o seu completo desaparecimento. Assim, a arte contemporânea lida com a degeneração, a desintegração dos gêneros tradicionais, como a assemblage, o happining, a instalação, a performance, etc. Rosenberg expõe esta questão, quando diz:
A estética da impermanência enfatiza a obra de arte como um intervalo na vida tanto do artista quanto do espectador. (...) Uma arte que se deteriora de modo mais ou menos visível é a resposta do século XX ao estetismo congelado de Dorian Gray. (ROSENBERG, Objeto ansioso, pg. 93).
Portanto, o tempo como agente transformador sobre a ação do objeto de arte, de modo que a arte contemporânea se apresente para a vida, ao passo que a arte moderna a representava, apenas.
Nesse sentido, o objeto ansioso pode ser entendido como a incerteza de sua duração ou existência, pois a natureza contemporânea é a própria insegurança, pois quebra o gênero do “clássico na arte”. Desta forma, o objeto não é mais importante, mas a experiência que poderá propiciar. Ou seja, na contemporaneidade fica muito difícil analisar um trabalho pelo material. Ao invés disso, será necessário, para entendê-lo, fazer a análise do trabalho enquanto experiência
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