A Colonização e Quilombos
Por: Vitor Ferreira • 8/7/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 1.011 Palavras (5 Páginas) • 927 Visualizações
Resumo capítulo 1 – COLONIZAÇÃO, QUILOMBOS, modos e significados de Antônio Bispo dos Santos
Inicialmente é relevante a contextualização sobre o autor da obra em análise, se trata de Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, piauiense, lavrador, e morador do Quilombo de Saco/Curtume. Nêgo bispo representa a resistência do povo Quilombola por meio de seu ativismo político e militância na luta pela terra.
Ao tempo que escreveu COLONIZAÇÃO, QUILOMBOS, modos e significados era membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOC/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Além de ter sido presidente do sindicato de trabalhadoras e trabalhadores na Agricultura no Estado do Piauí (FETAG/PI).
O autor possui ensino fundamental completo e faz parte da primeira geração da família da sua mãe que teve acesso à alfabetização, teve sua formação por conta dos mestres de ofícios de seu Quilombo e atualmente vive sob a confluência do saber tradicional e do saber acadêmico.
No que se refere ao Brasil e ao processo de formação cultural que coexistem neste território, Nêgo Bispo aponta a noção de cosmovisão monoteísta, advinda da cultura eurocolonizadora; cosmovisão politeísta, com origem no que intitula como afropindoramicos, sendo estes os contra-colonizadores; demais cosmovisões dos povos que também coexistem no mesmo país.
Nêgo Bispo elabora etnografia de dentro pra fora, evidenciando o processo de invisibilização dos povos tradicionais e como o choque entre o direito orgânico e direito sintético se põem dispõem dentro do cenário brasileiro, por meio do contraste entre a cosmovisão eurocolonizadora e a cosmovisão afropindoramicos.
Uma primeira consideração acerca do livro é a utilização do termo afropindoramicos que se dá pelo fato de que dos colonos, no processo de colonização, não guardarem a relevância das autodenominações, que refletem a identidade dos demais povos com que se relacionavam, tais sejam os povos originais brasileiros, ao nomeá-los de índios, ou o povo africano, nomeando-nos de escravos. Dessa forma, encontraram um caminho mais facilitado para estabelecerem as relações de abuso advindos dessa relação, coisificando e desumanizando os indivíduos não europeus.
O autor enriquece o texto demonstrando o fundamento das práxis dos eurocolonizadores identificando as normas religiosas as quais regiam as relações europeizadas. Dentro de uma realidade em que a religião exercia papel de controle social, têm-se as bulas papais do Papa Nicolau V de 08 de janeiro de 1455 que concede ao rei de Portugal livre e ampla licença para invadir, perseguir capturar, derrotar e submeter a escravidão perpétua os pagãos.
Traz à luz do conhecimento por meio de tais informações que o processo de colonização vem sendo omitido e minimizado da formação curricular escolar, não evidenciando a realidade dos fatos e os reflexos que o rastro histórico trouxe para a atualidade para os povos afropindoramicos, sendo estes tratados tão somente como índios e escravos, atropelando suas autodenominações e identidades, o que reforça o processo de coisificação e desumanização de tais povos.
Contribui com a argumentação do autor a Bula papal do Papa Pio V de 1567, destinada aos judeus, que são monoteístas e de religião do mesmo ramo que a cristã, prevendo prazo de 3 (três) meses para deixarem suas terras e tornarem-se servos da Igreja Católica Romana, sujeitando-se a servidão perpétua. Evidencia neste caso que a Bula papal se destina, diferentemente a Bula Papal do Papa Nicolau V, que os judeus sejam servos da própria Igreja e não escravos dos reis e senhores como previa a bula papal destinada aos pagãos politeístas.
A utilização da Bíblia para melhor dialogar com os fundamentos da cosmovisão eurocolonizadora é fato notável do processo descrito, para tanto o autor evidencia que, por meio dos textos bíblicos se considera o trabalho como castigo, além do amaldiçoamento dos frutos da terra, além de ser utilizado para desterritorializar e aterrorizar, surgindo para este caso a noção de cosmofobia.
Adentrando sua argumentação sobre a cosmovisão eurocolonizadora evidencia por meio da carta de Pero Vaz de Caminha a tentativa do colonizador, ao encontrar o povo pindorâmico, de acusar o povo de improdutivo e atrasado, afirma o autor que não viram o povo e sim o próprio reflexo.
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