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A Estrutura dos Mitos

Por:   •  16/10/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.182 Palavras (9 Páginas)  •  386 Visualizações

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2. Explique o que Lévi-Strauss entende por estrutura e demonstre como ela aparece nos textos “A eficácia simbólica”, “A estrutura dos mitos” e “A noção de estrutura em etnologia”.  Utilize trechos dos referidos textos para corroborar sua demonstração.

A noção de estrutura em Lévi-Strauss dialoga com o conhecimento de outras áreas como a matemática, a biologia e a linguística (Saussuriana). Trata-se ainda de uma perspectiva universalista, propondo leis gerais acerca do entendimento do que seria o espírito humano.

“Quando falamos de estrutura social, consideramos sobretudo os aspectos formais dos fenômenos sociais, de modo que saímos do âmbito da descrição para considerar noções e categorias que não pertencem propriamente à etnologia, mas que ela gostaria de utilizar, a exemplo de outras disciplinas científicas que, já há tempos, tratam alguns de seus problemas como desejaríamos tratar dos nossos” (LÉVI-STRAUSS: 300).

Lévi-Strauss propõe compreender a infraestrutura da mente a fim de descobrir leis gerais acerca do pensamento tidas como inatas, uma estrutura do pensamento. Para chegar a essas estruturas busca-se nas experiências sensíveis, organizadas pelas categorias do pensamento os significados dos fenômenos sociais.

“O princípio fundamental é que a noção de estrutura social não remete à realidade empírica, e sim aos modelos construídos a partir dela. Fica assim aparente a diferença entre duas noções tão próximas que muitas vezes foram confundidas, isto é, estrutura social e relações sociais. As relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção de modelos que tornam manifesta a própria estrutura social, que jamais pode, portanto, ser reduzida ao conjunto das relações sociais observáveis em cada sociedade” (LÉVI-STRAUSS :301-302).

Para a constatação de tais modelos, este deve responder a quatro requisitos:

  1. Uma estrutura deve apresentar um caráter de sistema. Consiste em elementos tais que uma modificação de qualquer um deles acarreta em uma modificação de todos os demais.
  2. Todos os modelos pertencem a um grupo de transformações, cada uma das quais correspondendo a um modelo da mesma família, de modo que o conjunto dessas transformações constitui um grupo de modelos.
  3. As propriedades indicadas acima permitem prever de que modo reagirá o modelo em caso de modificação de um de seus elementos.
  4. O modelo deve ser de tal modo construído que seu funcionamento possa dar conta de todos os fatos observados.

Como na linguista, Lévi-Strauss encontra na língua (domínio extra-empírico) a estrutura de que depende a fala (domínio empírico). Desse modo é possível que analisemos o mito além do seu enredo fantástico, alcançando a estrutura permanente dessa narrativa.  

O mito também se define por um sistema temporal, que combina as propriedades dos dois outros. Um mito sempre se refere a eventos passados, “antes da criação do mundo” ou “nos primórdios”, em todo caso, “há muito tempo”. Mas o valor intrínseco atribuído ao mito provém do fato de os eventos que se supõe ocorrer num momento do tempo também formarem uma estrutura permanente, que se refere simultaneamente ao passado, ao presente e ao futuro.  (Lévi-Straus: 224).

O mito utilizado pelos Cuna para auxiliar no parto difícil, mostra que no pensamento mágico a homologia entre corpo e psiquismo é o que garante a eficácia simbólica através da narrativa mítica.

O interesse excepcional desse texto não está nesse  quadro formal, mas na descoberta (...) de que Mu-igala, ou seja, “o caminho de Muu”, e a morada de Muu não são, no pensamento indígena, um itinerário e uma morada míticos, mas que representam literalmente a vagina e o útero da mulher grávida, explorados pelo xamã e pelos nuchu, em cujas profundezas eles travam o combate de que saem vitoriosos (p. 203).

3. Para Leach, os Kachin apresentam uma variação estrutural em seu sistema social, representada  pelas  formas  gumlao  e  gumsa,  ao  passo  que  os  Chan  demonstram um  sistema  que  tende  à  estabilidade.  Explique  como  o  autor  compreende  e justifica tal oposição entre dinâmica e equilíbrio.

O livro em questão, Sistemas políticos da Alta Birmânia, faz um estudo sobre as populações Kachin e Chan que vivem no noroeste da Birmânia. O estudo parte de uma reinterpretação de dados etnográficos coletados sobre essas populações. Entre os chan habitantes dos vales ribeirinhos que cultivam arroz em campos irrigados a residência se dá em assentamentos permanentes possuindo uma forte ligação com a território de origem, desse modo “un labrador shan (chan) está ligado a su tierra; no puede fácilmente cambiar su lealtad de un jefe territorial a otro, como puede hacer un Kachin” (pp. 235). A primeira lealdade de um Chan é com a terra e não com um grupo de parentes. Estão organizados em classes estratificadas, sob o governo (möng) representado na figura de um príncipe absoluto (sahopa).

Os Kachin seriam uma espécie de conjunto cultural mais amplo, que de modo geral ocupavam as colinas onde cultivavam arroz através de produção itinerante (com derrubadas e queimadas) Formados por diversas formas de organização política, polarizadas em gumsa e gumlao, assim como por diversos dialeto.  Os sistemas gumsa e gumlao enquanto dois modelos distintos de organização política (tal qual modelos como o da monarquia e da república, aqui exemplificados enquanto modelos distintos e não enquanto comparativos ao sistema Kachin aqui mencionado) se diferenciam pela forma de organização hierárquica do primeiro, onde existiria a figura de um chefe membro de uma aristocracia hereditária, enquanto que entre os gumlao não existiriam diferenciações entre classes hierárquicas, nem a figura de um líder.

“la contraria teoría Kachin expresada por el término gumlao es, en su forma extrema, una especie de republicanismo anárquico. Cada indivíduo es tan bueno como su vecino, no existen diferencias de clases ni jefes; una teoría protestante, en contrataste con la católica. Y por supuesto, entre los gumlao, el faccionalismo es lo normal, constituyendo cada pequeña unidad local una entidade política propia” (LEACH: 73)

De acordo com Leach, os gumsa consideram os gumlao servos plebleu que se rebelaram contra seus legítimos donos e os gumlao, por sua vez, consideram os gumsa tiranos e esnobes. Entretanto, apesar de diametralmente opostos esses dois sistemas parecem estar em constante “conversão”, de gusma a gumlao e de gumlao a gusma (Leach. p.220).

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