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A Sociedade e Natureza

Por:   •  4/4/2023  •  Resenha  •  1.835 Palavras (8 Páginas)  •  61 Visualizações

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Atividade 1

Sobre a viagem no texto a seguir

Este texto abordará três teorias trabalhadas na disciplina. Elas terão conexões importantes, visto que suas abordagens são bem atreladas entre si. São reflexões sobre conceito, crítica ao modelo econômico, exemplos da conjuntura atual e como mudar a crise civilizatória e ambiental. Ao final é feito um resumo dos pontos em comum das teorias abordadas.

Uma observação importante (de modo informal, professora) a discussão sobre Ecossocialismo não será abordada, visto a apresentação feita na disciplina, imaginei que eu precisaria me esforçar mais nas teorias apresentadas pelos amigos de turma. Espero que a senhora tenha uma ótima leitura.

O Bem Viver

O Buen Vivir ou Bem Viver é “uma oportunidade para construir outra sociedade, sustentada em uma convivência cidadã, em diversidade e harmonia com a Natureza, a partir dos conhecimentos de diversos povos culturais existentes no país e no mundo” (TORTOSA, 2011, p.12). As relações capitalistas do predomínio do valor de troca em detrimento do valor de uso promoveram a dicotomia entre natureza e ser humano, em outras palavras, a crise da humanidade e ecológica, como estudado por Michael Lowy no Ecossocialismo. Portanto, o Buen Vivir propõe uma nova (re)construção coletiva de vida em harmonia social com a natureza.

É uma crítica profunda as formas de desenvolvimento, patriarcado e colonialismo. Ao contrário de alguns pensamentos, o Bem Viver não é uma volta ao passado dos povos originários, mas sim uma busca em solucionar problemas atuais baseados em princípios indígenas - que interagiam respeitosamente com a natureza e em comunidade - desde a participação democrática ao respeito de opinião.

O Bem Viver também não é mais um desenvolvimento alternativo, como tantos existentes. Ele busca construir um sistema econômico sobre base comunitária, diferente da propagação ideológica do capitalismo e do socialismo, necessitando respeitar os ciclos ecológicos e a pluralidade.

Buen Vivir y Vivir Bien - Natureza como sujeito de direito?

Especialmente, latino-americano, a gênese do conceito Buen Vivir (sumak kawsay) e Vivir Bien (suma qamaña) terem alcançado níveis globais tem relação aos governos, equatoriano e boliviano, ao incluírem a Natureza em suas Constituições - direitos de La Madre Tierra - PachaMama (ALCÂNTARA et al., 2017). Contudo, apesar da forte relação de experiência e conhecimento indígena, as formas de desenvolvimento econômico na Bolívia, baseado na industrialização, retornaram a ideia de apropriação da natureza (ACOSTA, 2016)

Em contrapartida, o Equador não só determinou a natureza como sujeito de direito, como considerou o meio ambiente, seres vivos e ecossistemas, de valor único. Portanto, ao ter postura biocêntrica, antônimo de antropocêntrico, a política equatoriana pondera que todas as formas de vida são igualmente importantes. O Plan Nacional para el Buen Vivir (PNBV) considera “a atividade física, o ócio e a recreação como direitos do Bem Viver. A boa condição física e a possibilidade de desfrutar o tempo de ócio de qualidade são parte dos objetivos das políticas de saúde, inclusão social e cultura” (TORTOSA-MARTÍNEZ et al., 2014, p. 150).

Dessa forma, o Bem Viver é uma forma de vida fundamentada no viver bem com o outro, natureza e espírito, que é obtida através da educação, relações pessoais e ambiente (ALCÂNTARA; SAMPAIO, 2017)

Se tratando da ciência Latino-Americano – Una Epistemología del Sur

A explanação anterior remete a discussão da descentralização europeia. O saber local é importante para ter eficácia no atendimento das necessidades locais que, certamente, difere das características coloniais, patriarcal e capitalista imposta pelo universalismo europeu. Portanto, nesse tópico será discutido a proposta da Epistemologia do Sul e seus contextos.

A Epistemologia do Sul pode ser entendida como um apontamento não geográfico, e sim, à sobrevivência e existência de povos que sofrem com graves desigualdades e que são excluídas ou silenciadas (SANTOS; ARAÚJO; BAUMGARTEN, 2016). Ela tem a proposta de contrapor a política desenvolvimentista do Norte global e reparar os danos dos impactos historicamente causados pelo capitalismo (SANTOS; MENESES, 2009). Os autores Santos, Araújo e Baumgarten (2016, p. 17) ainda descrevem a Epistemologia do Sul:

[...] como uma proposta epistemológica subalterna, insurgente, resistente, alternativa contra um projeto de dominação capitalista, colonialista e patriarcal, que continua a ser hoje um paradigma hegemónico.

A teoria busca desconstruir a natureza na forma de objeto ou de Recurso Natural, uma concessão eurocêntrica. A Epistemologia do Sul considera a natureza um ser vivo e todos fazem parte dela, por isso o termo Terra Mãe (Pachamama) direcionado a Natureza. A Pachamama, termo também usado no Bem Viver, é de onde vem tudo, logo não pode ser agredida.

Santos (2006) materializa a ecologia do saber como interconhecimento. Ela reconhece a diversidade epistemológica (heterogeneidade) existente no mundo tornando a relação horizontal, em que há respeito em cada saber (pluralidade) com a intensão de combater os saberes silenciados, principalmente dos subalternizados. Dessa forma, seria possível alcançar a justiça cognitiva (conhecimento) global, a partir de um novo pensamento ou também chamado de pensamento pós-abissal.

Portanto, esta é uma tentativa de resgaste epistemológico das lutas por parte daqueles que sofreram/sofrem sistematicamente as injustiças do capitalismo, colonialismo e patriarcado. Os exemplos são inúmeros na política brasileira, entre eles o androcentrismo que desvaloriza os pensamentos e ideias de mulheres, além de ser o país que mais mata travestis e pessoas trans no mundo (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2021).

Em suma, a cultura eurocêntrica não respeita a biodiversidade tão pouco a diversidade cultural. A Epistemologia do Sul, é uma abordagem necessária para vincular, de forma harmoniosa, a cultura e natureza. Dessa forma, é possível construir o saber científico e tecnológico de respeito ecológico.

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