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Avaliação Historiografia da Europa

Por:   •  6/6/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.357 Palavras (6 Páginas)  •  148 Visualizações

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Avaliação I – Mirella Nery

1)

Argumente sobre os processos históricos que constituem a formação e o desenvolvimento da historiografia na Europa, tomando como contexto histórico o pensamento na Grécia Antiga, na historiografia do século XIX e na primeira geração da Escola dos Annales.

No ocidente, o primeiro conceito de historiografia surgiu na Grécia. Entende-se então que historiografia é o ato de escrever a história, que pode ser representado de diferentes maneiras. Em se tratando do século XIX, temos a corrente historiográfica que mais se destacou na época, que foi a Escola dos Annales. O século XIX foi marcado por grandes descobertas, pelo evolucionismo, estudo da origem do mundo, pela necessidade do estudo da sociedade e seu desenvolvimento, surgindo assim o positivismo. Com isso, as ciências humanas foram desenvolvidas a partir do estabelecimento de metodologias, para que conferissem uma exatidão assim como acontecia nas ciências naturais. Imersos nesse sistema, Lucien Fevre e March Bloch fundam a revista dos Annales na França com um pensamento completamente diferente da historiografia na Europa vigente. Constituída por uma observação pobre, centrada em jogos de poder, com ênfase nos grandes políticos e nas grandes nações, o foco historiográfico na Europa excluía outros grupos de indivíduos, os quais eram deixados de lado ou até mesmo desconsiderado por alguns trabalhos. Era uma história de eventos bastante narrativa, na qual se exaltava a objetividade e a cronologia. No entanto, mesmo que arcaica, é essa a liderança que se tem hoje no ocidente dentro das ciências humanas e sociais. A historiografia construída no ocidente, dirigida pela Europa ocidental, foi erguida em cima de genocídios, epistemicídios, privilégios de cor, etnia, raça e religião, patriarcado, e ainda assim lidera as bases de estudo e pesquisa dentro das instituições ocidentais. A primeira geração da escola dos Annales surgiu como uma nova visão de mundo, do fazer histórico, se opondo às tradições da época. Norteou os estudos e fez parte de um pensamento que partia do ponto de que cada indivíduo era tão complexo na sua maneira de pensar, sentir e agir que não caberia mais resumir a história humana a jogos de poder dos grandes homens e nações, que era só um reflexo de algo muito maior e abrangente. Isso dificultaria o entendimento mínimo possível das sociedades e dos seres humanos segregados, os quais também são sujeitos na história. Ainda assim, os historiadores da escola dos Annales sofriam ainda com a marginalização, pois, tendo em vista a necessidade da historiografia construída na Europa – que apenas narrava os fatos tais como aconteceram baseando-se no historicismo alemão – isso exaltava o estudo através de documentos e fontes de arquivos. Ou seja, a maior parte da sociedade não produz esse tipo de fonte. Desse modo, seria impossível inteirar um estudo sobre essas camadas subalternizadas, sua cultura e suas particularidades, visto que não havia documentos oficiais e fontes de arquivos dessas pessoas. Contudo, mesmo com toda a dificuldade encontrada, a escola dos Annales conseguiu reformular um pensamento da época e fazer com que influenciasse alguns historiadores, embora a Europa em si tenha demorado a absorver a perspectiva dos Annales. Diferente do século XIX, é importante saber que os Annales entendiam a liberdade e a individualidade humana, e que isso não era antagônico ao determinismo das estruturas culturais, sociais, políticas, econômicas, e que era possível trabalhar entre condicionamento social e escolha individual sem que isso fosse contraditório. Logo, os Annales influenciaram de forma direta trabalhos na historiografia na Europa de modo que a fizesse produzir uma história-problema, com a construção de uma hipótese na pesquisa a ser respondida, diferente da história narrada. Sendo assim, a escola dos Annales iniciava uma guerra contra essa narrativa política tradicional advinda do século XIX da formação da historiografia na Europa, propondo uma história de todas as atividades humanas, e que também fosse interativa com outras áreas do conhecimento, como economia, geografia, antropologia, psicanálise, entre outras.

2)

Explique o título Apologia da História ou o ofício do historiador de Marc Bloch utilizando Marcel Detienne, Maurice Halbwachs e Jacques Le Goff, considerando as discussões teóricas que envolvem o método histórico e a memória como fonte histórica.

O livro Apologia da História de Marc Bloch foi um marco na década de 40. Nessa obra Bloch explica quais são as principais tarefas de um historiador, apresentando o homem enquanto sujeito da sua história. O autor enaltece o rigor a ser cumprido do método científico pelos historiados e afirma o homem como principal sujeito da sua história, problematizando os contextos históricos criados na época. É importante lembrar que a obra foi escrita num período de crise, onde a História, como uma área do conhecimento, se deparava com o crescimento de outras como Economia, Sociologia, entre outras, e poderia estar perdendo relevância. Com isso, pode-se entender com a leitura de Apologia da História, a iniciativa do autor de elevar o significado do fazer histórico e de dizer e definir quais eram as particularidades do estudo e da pesquisa histórica, em face do momento de instabilidade em que a disciplina se encontrava. Marc Bloch deixa claro o rigor de seguir o método científico, mas também defende que a pesquisa deve ser entendida tanto pelos intelectuais, quanto pelas pessoas que não tem esse conhecimento acadêmico. Inserido num contexto de oposição ao historicismo e positivismo, Marc Bloch traz no seu livro a sua visão de se fazer crítica a fonte, e também uma visão humana da ciência, onde a humanidade é o principal cerne da história, o que dá a ela importância e relevância, com isso iniciando um apoio à interdisciplinaridade, em relação a psicanálise, antropologia, sociologia, entre outras. Todo esse conteúdo do livro de Marc Bloch é conferido e atualizado nas obras de outros autores que surgiram num momento após o de Marc Bloch e que são diretamente influenciados pela sua obra e sua crianção, bem como pela escola dos Annales. Jacques Le Goff aparece como editor da revista dos Annales afirmando e elevando a interdisciplinaridade já discutida anteriormente com Bloch, e trazendo o estudo da memória como alvo de sua pesquisa. Le Goff encontra-se num momento em que a sua pesquisa bebe do conhecimento produzido desde a primeira geração dos Annales, acrescentando e dando ênfase a importantes pontos que ainda não tinham sido colocados em pauta devidamente. Um deles é o fato de que a documentação primária escrita não é exclusiva, desde então não é a única que deve ser notada, valorizando assim as fontes orais e outras abordagens. Le Goff inicia uma necessidade de sistematizar a utilização dessas fontes, o que antes não era discutido pois não havia preocupação em fazê-la. Desse modo, traz também à tona o estudo da memória como fonte valiosa de pesquisa, sendo uma forma de reinvindicação política. O autor deixa claro também que a memória é um método histórico, bem como os métodos defendidos em momentos anteriores. Com isso, entende-se que memória se difere de lembrança ao sustentar o argumento de que só lembramos do que queremos, é algo tão somente individual, diferente da memória que pode ter variações, e por isso uns se posicionam e outros esquecem. A memória está presente num coletivo compartilhado. A partir disso, podemos pensar memória nos dias de hoje como elemento essencial para a sociedade diretamente baseando-se nos estudos de Le Goff, pois é por meio dela que podemos construir identidades coletivas e também individuais. Ainda com base em sua obra, sabemos que as memórias coletivas e individuais de cada indivíduo em seu grupo conversam entre si e interferem uma na outra, pois fazem parte do mesmo universo. A forma que essa memória é disseminada e cultivada de geração a geração é pela transmissão oral, se opondo às fontes tradicionais, mas também oficializada. Sendo assim, entende-se que a história cresce na memória – uma relação entre o passado e o presente para produzir um conhecimento no futuro – a qual vem para atuar de forma que esteja livre, e não silenciada. Dessa forma, é possível perceber que os autores se assemelham em diversos ângulos em suas pesquisas, pois participam de um mesmo movimento histórico, defendendo pontos parecidos, principalmente no momento em que mergulham em todas as disciplinas, mas para construir um conhecimento que ainda não esteja em nenhuma.

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