Estudantes indígenas universidade federal
Por: Letícia Zat Vargas • 26/4/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 1.504 Palavras (7 Páginas) • 258 Visualizações
Estudantes indígenas na UFRGS: Uma reflexão sobre a pluralidade das vivências acadêmicas.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul passou a receber alunos indígenas a partir do ano de 2008 quando ingressaram dez alunos, um em cada curso de graduação diferente. Cursos escolhidos pela UFRGS juntamente com representantes indígenas. No primeiro semestre de 2014 somavam-se ao todo 34 alunos indígenas nessa universidade.
A ideia de pesquisar sobre esses estudantes dentro da UFRGS iniciou nesse semestre, mas o interesse por esse assunto vem desde o ano de 2013, quando passei a morar na Casa do Estudante Universitário da UFRGS (CEU-UFRGS) e pela primeira vez tive um contato mais direto com parte desses dos alunos, que como eu, também eram moradores da CEU.
No mês de outubro de 2013 fui convidada a trabalhar como monitora de informática do Laboratório de Informática Indígena da CEU, o simples fato de eles terem um laboratório separado dos demais moradores me deixou intrigada e me motivou a aceitar a vaga. Tempo depois fui entender o porquê desse laboratório existir. Muitos alunos indígenas não estavam acostumados ao uso dos computadores e se sentiam constrangidos pelos demais moradores da CEU que utilizavam o laboratório geral.
Lembro como se fosse hoje o dia em que fui apresentada aos alunos como nova monitora do laboratório deles. Eles estavam em uns quinze ou vinte alunos, sentados em um círculo. Todos me olhavam em silêncio, com um olhar quase descrente. E eu, que sempre fui absurdamente falante, paralisei. Não consegui dizer nada além do meu nome e do curso em que estava matriculada. Sai da reunião me sentindo a pior pessoa do mundo e tentando explicar pra mim mesma o que havia acontecido na sala 13 do segundo andar da Casa do Estudante. Para minha felicidade minutos depois um dos alunos bate em minha porta e me convida para participar do almoço que estava sendo preparado na cozinha coletiva, e eu prontamente aceitei.
Quando subimos à cozinha o clima já era outro. Todos falantes, rindo e brincando. Nos copos circulava uma caipirinha. Numa panela grande estava sendo preparada uma galinhada, onde cada um deles havia contribuído com um pedaço de carne ou um pouco de arroz. E na frigideira era preparada uma espécie de pão sem fermento que quando ficava pronto era repartido entre todos até que o prato principal ficasse pronto.
Nesse almoço pude me apresentar e conhecer um pouco de cada um deles.
No decorrer dos meses minha cabeça borbulhava com mil ideias que na minha visão eram essências para a questão dos indígenas dentro da Universidade.
Entre essas ideias surgiu a Oficina de Informática que seria realizada em módulos, com encontros uma vez por semana e o aluno poderia participar dos módulos que tivesse interesse. Para minha decepção durante as três primeiras semanas ninguém apareceu. Então resolvi investir na divulgação, passando de quarto em quarto e fixando cartazes pela CEU.
Se passaram mais algumas semanas finalmente tive minha primeira aluna. Durou apenas um encontro, na semana seguinte ela não apareceu.
Nesse instante começou a minha reflexão sobre o que era realmente necessidades desses alunos e o que nós, no caso as pessoas que trabalham diretamente com eles, como por exemplo a administração da CEU e o Programa de Ações Afirmativas, acreditamos ser as necessidades deles. Mesmo depois dessas reflexões insisti em seguir com algumas das ideias.
Já no ano início de 2014 quando inicie a disciplina de Introdução à Pesquisa Social, não tive dúvidas quanto ao assunto que gostaria de desenvolver no decorrer do curso e comecei a ler a respeito. Nesse segundo semestre na disciplina de Pesquisa Qualitativa surgiu a oportunidade de passar para o papel tudo o que me inquietava.
Eis que escrevi um trabalho mostrando a evolução das cotas para estudantes indígenas desde o seu início em 2008. Como problema de pesquisa trouxe as seguintes perguntas:
Qual é a atual situação do aluno indígena dentro da universidade? Quais são os desafios que esses alunos enfrentam? O que poderia ser feito com o objetivo de melhorar a relação universidade- estudante indígena? E o objetivo geral era ouvir o que os estudantes indígenas da UFRGS têm a nos dizer sobre suas vivências dentro da Universidade e saber o que eles acreditam que necessite de mudanças. Para a realização dessa pesquisa foram utilizadas técnicas de observação participante e entrevistas. Essas entrevistas foram semiestruturadas e realizadas com 5 alunos indígenas matriculados na UFRGS. Visto que não houve tempo para realizar todas as 35 entrevistas sugeridas na primeira versão do projeto.
Além disso o projeto trazia uma forte crítica ao fato de serem apenas dez vagas por ano em 10 cursos diferentes, sendo que a UFRGS disponibiliza de graduação em setenta cursos diferentes. Crítica essa que foi repensada em várias conversas com os estudantes. Conversas essas que aconteciam em encontros inesperados pelos halls e pelas sacadas da CEU.
Havia criado muita expectativa em relação as respostas das entrevistas, realmente pensei que dessas entrevistas sairiam as respostas para os meus questionamentos. O que na realidade não aconteceu.
As respostas que eu buscava e muitas vezes a reformulação dessas perguntas surgiam em um bate-papo descompromissado na sacada enquanto fumávamos um cigarro, ou em uma sexta-feira qualquer bebendo uma cerveja para encerrar a semana.
Foi nessas conversas que percebi o quanto minha crítica era equivocada e quanto se distanciava da visão que os próprios alunos
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