Licenciatura em Ciências Sociais
Por: FSestudante • 5/4/2025 • Trabalho acadêmico • 933 Palavras (4 Páginas) • 31 Visualizações
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UNIDADE CURRICULAR: Etnografias
CÓDIGO: 41101
DOCENTE: Lúcio Sousa
A preencher pelo estudante
NOME:
N.º DE ESTUDANTE:
CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais
DATA DE ENTREGA: 07/11/2023
TRABALHO / RESOLUÇÃO:
1. A antropóloga Damásio[1] encetou uma pesquisa sobre o envelhecimento na cidade natal da avó materna. Durante a pesquisa, a autora deparou-se com constatações para as quais a sua formação antes de partir para campo, não a tinha preparado, pois uma pesquisa com parentes e “em casa” despoletou-lhe distintas emoções: “o conforto, o desconforto e a surpresa” (Damásio, 2020, p.3). O maior confronto que travou foi com o seu duplo papel e a alteridade, ser parente antes mesmo de ser pesquisadora, algo que interiorizou já em campo, destacando Damásio (2020, p.12) “a minha posicionalidade em campo tornava esse movimento difícil. Eu era a neta, a filha, a sobrinha, mas também era a pesquisadora e a fotógrafa.”
A evolução da Antropologia foi fortemente conduzida para a obtenção de conhecimento e interação in locu do âmago social, exatamente o que sucedera com a autora, o fundamento e direcionamento da pesquisa fez-lhe concluir que as suas anotações de campo se revestiam de laços de parentesco, “um diário sobre histórias de família” (Damásio, 2020, p.11) e escrever sobre parentes era como estar em dois planos díspares, se conhecia as “suas” histórias ancestrais, enquanto pesquisadora estava também incumbida de narrar inconfidências do seio familiar, constatando Damásio (2020, p.13): “diziam respeito a mim. Não havia, como percebi, uma forma de me retirar do texto” e não ser atingida, sendo este um dos principais papéis dos antropólogos “ser atingidos pelo Outro” (Uriarte 2014, in Sousa 2019, p. 16).
2. As autoras Damásio (2020)[2] e Rodrigues (2012)[3] foram responsáveis pela elaboração de etnografias de temas distintos, a primeira elegeu o envelhecimento da população, a segunda abordou o que é ser um laowai (estrangeiro) explorando diferentes dinâmicas: ser “estrageiro” no país onde se pretende estudar a população e ser “estrangeiro” no país de origem sob a perspetiva da comunidade estudada. Ambas sustentaram as pesquisas de forma distinta e delas retiraram elações acerca do modo como se despoleta e encerra a produção etnográfica e como o processo pode ser instigado tanto pelo tema escolhido como pela condução da pesquisa no terreno.
Damásio não tinha vontade de iniciar um trabalho de campo na terra natal da avó, nem fazer-se acompanhar dela, sob pena de perder o foco da pesquisa, mas durante o tempo que esteve “reunida” com a família e comunidade, que já a “conhecia” e lhe reconheceram “as origens”, esta corroborou que a pesquisa fê-la conhecer histórias da família, e consequentemente, a tomar as parentes como interlocutores, “ou melhor, parentes-interlocutoras” (Damásio, 2020, p.1); a deparar-se com “histórias que também são minhas, compõe a minha trajetória como indivíduo” (Damásio, 2020, p.3) e a arcar com a responsabilidade de cuidar da avó durante o campo, o que na verdade era o cerne do estudo, as incumbências do envelhecimento populacional. Posto isto, surgiram-lhe questões pessoais e éticas, como a narração das histórias das parentes, tendo de estimar os benefícios e consequências dessa narração. A pesquisadora inferiu ainda a vantagem das interlocutoras serem da família, pois conversava e interagia com outra dinâmica, pois não lhe era negada a interação, embora nem sempre fácil. Segundo Damásio (2020) através do seu conhecimento de antropologia, do processo etnográfico e das teorias, ela conseguiu mediar e deambular no meio dos seus papéis sociais, ser parente e pesquisadora, por vezes em simultâneo; por vezes na narração dos fenómenos experienciados em campo; no cimentar de teorias ancestrais e na formulação de novas, sugerindo que a pesquisa em torno da família “sempre foi tema” (Damásio, 2020, p.28) na esfera antropológica e elevando a importância dos costumes e da cultura da família na produção etnográfica.
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