O Departamento de Filosofia e Ciências Humanas
Por: Vanessa Prates • 5/6/2017 • Trabalho acadêmico • 3.131 Palavras (13 Páginas) • 413 Visualizações
Universidade Estadual do Sudoeste Da Bahia - UESB[pic 1]
Colegiado do Curso de Direito
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH
Disciplina: Antropologia Jurídica
Docente: Lucas Pereira Carwile
Discente: Vanessa Prates Raimundo
FICHAMENTO: O QUE É ETNOCENTRISMO
Referência: ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. (Coleção: Primeiros Passos; 124) ISBN: 85-11-01124-2
PENSANDO EM PARTIR
Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; [...] uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que [...] empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. [...] O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta num considerável reforço da identidade do “nosso” grupo. [...] (p. 5)
Cumprindo seu objetivo Everaldo Rocha inicia seu livro descrevendo de forma objetiva o que é etnocentrismo. Deste modo, etnocentrismo se apresenta como uma forma de pensar sobre cultura do outro, vendo a própria cultura como única e certa. É olhar a diferença como errada e pejorativizá-la. Há um embate nesse momento, pois essa outra cultura totalmente diversa sobrevive ao lado da cultura do eu, e é muito bem vivida por seus indivíduos. E esse sentimento de estranheza se apresenta como natural, pois está intrínseco na nossa sociedade. Então quando olhamos o outro, ficamos pasmos com outra forma de viver tão correta quanto a nossa. Esse choque, claramente visto no “descobrimento” da América, como o livro mostra, perdura até hoje. A sociedade moderna ainda tem dificuldade em aceitar e respeitar culturas diferentes.
[...] O etnocentrismo não é propriedade, [...] de uma única sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos. [...] O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”. [...] o “outro” e sua cultura, da qual falamos na nossa sociedade, é apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como bem entendemos (p. 6 - 7)
Esse olhar etnocêntrico pode aparecer em ambas as culturas, usando como exemplo as navegações do século XVI, há um sentimento de estranheza e superioridade sentido pelo português ao se deparar com as sociedades indígenas, e os índios também podem ter apresentado esse mesmo sentimento. A grande diferença, que hoje nos fez falar português e não tupi, foi toda a violência e o extermínio sobre a cultura indígena. Há, nesse encontro e em muitos outros, um julgamento, uma condenação da cultura do outro, baseado nas tradições, costumes, ações e consciência da cultura do “eu”. Isto acarreta que o que enxergamos no outro é apenas a imagem que foi formulada por nós mesmos, e não a representação ideal daquela sociedade. Essa imagem pode ser moldada para um fim, normalmente de interesse das classes dominantes.
[...] existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é a de relativização. Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando. Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. [...] Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença. [...] (p. 9)
A relativização é aqui dada como uma solução para essa visão etnocêntrica, tentando se encaixar dentro daquela cultura para a partir dali, olhar para ela mesma. Ter talvez, um pouco de empatia no olhar, para analisar toda a vivência daquela cultura e compreende-la de dentro pra fora.
PRIMEIROS MOVIMENTOS
[...] O primeiro destes pensamentos, ocorridos na Antropologia e que procuram explicar a diferença, é conhecido como Evolucionismo. A noção de evolução é um marco fundamental para o pensamento antropológico. [...] a diferença que se travestia em espanto e perplexidade, nos séculos XV e XVI, encontra, nos séculos XVIII e XIX, uma nova explicação: o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. [...] Evolução, no seu sentido mais amplo, equivale a desenvolvimento.[...] evolucionismo social [...] passa ser o novo modelo explicador da diferença entre o “eu” e o “outro”. O resultado disso, é claro, vai ser a permanência do etnocentrismo agora traduzido na sociedade do “eu” como o estágio mais adiantado e a sociedade do “outro” como o estágio mais atrasado. [...] (p. 11 - 12)
Dando seguimento, haverá um questionamento do porquê existem sociedades com culturas tão diferentes. O evolucionismo cultural, que foi trazido por Rocha de uma forma muito sintetizada, sem que prejudicasse a compreensão, irá explicar e ainda reforçar esse etnocentrismo. Os evolucionistas dizem que as sociedades do outro são diferentes porque são primitivas, rudimentares, atrasadas e pouco desenvolvidas, isto comparado com a sociedade do eu. Essas sociedades atrasadas chegariam um dia a se desenvolver, era só questão de tempo. Nisso, todas as sociedades percorreriam o mesmo caminho até chegarem ao ápice do desenvolvimento. Essa evolução seria acarretada pelas invenções e aperfeiçoamentos de ferramentas, máquinas, instituições e da própria sociedade.
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