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Os Arrumadores de Automoveis (Lisboa)

Por:   •  12/7/2021  •  Trabalho acadêmico  •  3.953 Palavras (16 Páginas)  •  140 Visualizações

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Arrumadores de Automóveis em Lisboa

ARRUMADORES DE AUTOMÓVEIS EM LISBOA

Métodos e técnicas de Investigação Compreensiva Ano Lectivo 2013/14

Módulo B – Pesquisa de Terreno

Ana Maria Abreu (40949)

Ana Wittenburg (41541)

Maria de Jesus Rodrigues (35171)

Michelle Zeferino (42288)

Rafael Gouveia (42309)

Teresa Silva (39792)

Turma A


Índice

Introdução        3

Ver de perto o “arrumador de automóveis”        3

Percurso  Metodológico        4

Diário de campo        5

Bibliográficas        12


Introdução

No âmbito de um trabalho anteriormente realizado, onde foi abordada a temática dos arrumadores de automóveis em Lisboa, efectuámos um conjunto de entrevistas semi-directivas com vista a perceber de que forma um grupo de indivíduos, que o cidadão comum tende a ver como marginais, consegue construir e fazer prevalecer uma identidade social.

A análise das entrevistas sugere a existência de dinâmicas distintas, tanto no que respeita á relação entre os arrumadores como na relação com os automobilistas, que são determinadas pelo tipo de ligação que o arrumador estabelece com o espaço onde se desenrola a ação. Em zonas habituais - onde “arrumam” com frequência, quase sempre diariamente e durante os dias de semana – os arrumadores procuram exercer um controle sobre as atitudes, tanto individuais como do grupo, no sentido de gerar consenso por parte do exogrupo, sejam os clientes, a polícia ou os frequentadores da zona. Em zonas esporádicas – onde arrumam aos fins-de-semana ou em acontecimentos especiais como jogos de futebol - a atitude é mais individualista e não visa defender a posição perante o exogrupo, podendo mesmo existir retaliações, sob a forma de danos na viatura, quando o automobilista recusa pagar o serviço.

O presente trabalho vai no sentido confirmar – ou infirmar – a existência das diferentes dinâmicas sugeridas pelas entrevistas de clarificar o seu papel na dimensão relacional da identidade social, conforme definido por Taifel

Ver de perto o “arrumador de automóveis”

Como novo city user, “que vem da periferia social para participar, espacial e relacionalmente, no centro – e, nessa medida, ser também seu construtor” (Fernandes, Araújo, 2012), o arrumador de automóveis parece encontrar, precisamente por via dessa vertente relacional, a forma de construção de uma identidade que lhe garante um espaço na dinâmica urbana. Dado que, como já foi referido, as entrevistas realizadas apontarem no sentido da existência de distintas dinâmicas relacionais, ideia parcialmente confirmada por Fernandes e Araújo (2012), que tinham concluído que “os próprios arrumadores foram constatando que era mais eficaz, porque mais rentável, uma abordagem pautada pela cordialidade, desincentivando deste modo tanto neles como nos colegas de ofício atitudes que possam gerar desconfiança ou receio no automobilista”, entendemos explorar de forma mais aprofundada a dimensão valorativa da identidade social.

Dado que a identidade social está associada ao conhecimento da pertença a um grupo social e ao significado emocional e avaliativo dessa pertença (Tajfel, 1972), faz sentido que exista, da parte dos indivíduos, a necessidade de gerar uma discriminação positiva, tendo em vista o reconhecimento e a aceitação. Desta forma, no caso particular dos arrumadores de automóveis, entende-se que procurem desenvolver, por via da interação com o exogrupo, um conjunto de valores e atitudes valorativos do auto-grupo, como forma de contrariar as representações sobre eles construídas.

Procuram assim inverter o seu posicionamento desfavorável na estrutura social apresentando-se da forma sob a qual querem ser aceites, pois “quando um individuo representa um papel exige implicitamente dos seus espectadores que levem a sério a impressão que neles procura suscitar” (Goffman, 1959:29). Neste sentido, procurar-se-á compreender os significados que os arrumadores atribuem às suas ações.

Percurso  Metodológico

A opção pela pesquisa de terreno justifica-se, neste caso concreto, pela convicção de que a observação, no seu contexto, das práticas diárias dos arrumadores de automóveis permitirá construir uma narrativa mais clara acerca das dinâmicas desta identidade social.

Captar os significados das ações dos indivíduos só é verdadeiramente possível se nos conseguirmos aproximar o suficiente para olhar da mesma perspectiva que o actor. Nesse sentido, a observação participante afigura-se como o método mais adequado para analisar as dinâmicas relacionais presentes no dia-a-dia dos arrumadores, na medida em que “é o envolvimento que despe o investigador do seu conhecimento cultural próprio, enquanto veste o do grupo investigado” (Iturra:149). Ainda que possamos questionar até onde vai a objectividade do investigador, facilmente se compreende que quanto maior o envolvimento na realidade dos observados mais proveitosa se torna a interação com estes e a leitura das dinâmicas do campo em análise. Tendo sempre o investigador a preocupação de que a sua forma de participar não condicione a realidade em análise, sob pena de enviesar os resultados da observação.

Conforme pudemos percecionar a partir das entrevistas, as diferenças entre as diversas zonas de estacionamento traduzem-se essencialmente na regularidade ou irregularidade de uso do espaço e na diferença entre dias de semana e fins-de-semana. Tendo estabelecido que os momentos de observação se dividem entre zonas habituais e zonas esporádicas, identificámos, para cada um dos casos, os parques que de mais fácil acesso para os investigadores e que, simultaneamente, reúnam condições de segurança e permitam observar os arrumadores sem os constranger.  A duração e a frequência das observações, estando condicionadas pela disponibilidade de horário dos investigadores, reduz-se a um período de quatro por cada uma das zonas de observação definidas.

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