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Os eleitos do cárcere: Etnografia sobre a violência e religião o sistema prisional gaúcho

Por:   •  22/2/2019  •  Resenha  •  1.228 Palavras (5 Páginas)  •  264 Visualizações

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UFAL – ICS

Claudia da Silva Leandro

Antropologia VI

BICCA, Alessandro. Os eleitos do cárcere: Etnografia sobre a violência e religião o sistema prisional gaúcho. Porto Alegre, 2005.

        A dissertação apresentada pelo Alessandro apresenta as interações sociais na PEJ (presídio estadual de Jacuí), focando na violência e a influencia que a organização religiosa Estrelas do Cárcere estabelece nesse presídio de Porto Alegre, tanto na esfera da violência como nas demais tensões sociais que se apresenta na conjuntura prisional. O autor começa dissecando a história da PEJ, remontando seu início, ate os dias atuais. Assim também recria a influencia da igreja Assembleia de Deus na criação da maior e mais organizada grupo religioso da PEJ, que se autodenominaram de Estrelas do Cárcere.

        Os membros do Estrela do Cárcere são evangélicos e estabelecem estreita ligação com as diretrizes hierárquicas da Assembleia de Deus. No entanto dentro da PEJ, só existe a figura de alguns postos na hierarquia da igreja Assembleia de Deus.

        Alessandro em seu trabalho usa da entrevista para estabelecer diálogo com os presos, e funcionários da PEJ, assim como observações para complementar sua pesquisa. Ele diz que para angariar confiança dos presos e dos funcionários foi muito mais fácil mostrar sua identidade verdadeira como sujeito que esta realizando uma pesquisa pela universidade de Porto Alegre, já que os presos desconfiam do assédio de jornalistas, ou outros profissionais com mais veemência do que antropólogos. Isso se deve segundo o autor que o dano que os presos consideram que estudos universitários podem causar são menores do que a de outros profissionais.

        O autor identifica a honra como fator preponderante para definir a segurança no presídio de cada preso, e de funcionários. Nessa lógica existe uma ética na prisão que tanto os funcionários como os prisioneiros utilizam, existe a ética dos detentos comuns, a dos funcionários da prisão, e a dos membros do Estrela do Cárcere. Todas essas normas se confundem dependendo da situação, no entanto são os elementos que orientam a vida no presídio de Porto Alegre. Os presos comuns, por exemplo estabelecem uma hierarquia tanto em qual grupo o sujeito está, como os crimes que cometeu que o colocaram na prisão, os assaltantes de banco e sequestradores ocupam o setor de mais prestigio, e os crimes sexuais são discriminados e considerados despidos de honra. O interessante é que essa norma também serve para os da Estrela do Cárcere, a diferença fundamental é que os “irmãos” (como se autodenominam e como o autor ira se referir aos da Estrela do Cárcere) não utilizam o homicídio e o estupro como forma de punição, além de a honra está ligado a quando o membro através da sua atitude cotidiana demonstra que está convertido completamente a palavra de Deus, evitando assim cometer novos delitos e se comprometer com os desígnios de Deus e seus lideres dentro da Estrela do Cárcere. Já os funcionários são considerados mais honrados e assim evitam transtornos para sua integridade física como para seu trabalho quando trata os presos como seus pares, e estabelece diálogos sinceros com estes, por exemplo, ao dizer que vai fazer tal coisa fazer mesmo, ou quando não puder realizar os pedidos dos presos negar e explica-los os motivos com sinceridade. Através dessas normas se estabelece a ascensão hierárquica dependendo de qual grupo o sujeito faz parte e como ele segue sua honra dependente de seu grupo. Essas normas regem as diferentes tensões sociais e servem para justificar e legitimar os atos de violência dependendo de qual grupo se faz parte.

        Nessa perspectiva o autor mostra como os “irmãos” são mais comportados, do que os outros prisioneiros, já que os que têm honra dentre os irmãos respeitam seu líder rigorosamente, nunca praticando qualquer ato de violência sem o consentimento da figura daquele que se chama pastor, o líder dos irmãos.

        Seguindo esse pensamento o autor utiliza o termo Habitus de Pierre Bourdieu para caracterizar os diferentes modos de conduta que cada grupo utiliza para manutenção da sua ética. No entanto as pressões, e tensões sociais que se entrelaçam dentre o mundo da PEJ mantêm os Habitus com fronteiras mais frágeis que demonstra o autor, já que ele aponta esses dilemas, que os irmãos são tentados constantemente pelos presos “comuns”, no entanto mantém seu habitus que me parece ser mais adequada quando se utiliza Goffman, pois o que parece existir é uma representação social para manutenção da integridade física individual. O autor conta casos de estupro daqueles que não conseguiram seguir a fachada de seu grupo, ou membros de grupos dentro da PEJ que migram para os irmãos. Esses casos demonstram que mais do que uma questão de crença, existe a necessidade de manutenção da integridade física e com isso todo um conjunto de normas e linhas de ação para utilizar Goffman que precisam ser traçadas para defesa da própria existência e honra, pois aqueles que são estuprados além da violência física, ainda tem que arcar com perda de capital simbólico, ou seja seu prestigio e consequentemente sua honra são abalados e diminuídos pelos membros dos grupos da PEJ.

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