Pesquisa Sobre Congado
Por: Igor Matos • 21/10/2019 • Relatório de pesquisa • 1.632 Palavras (7 Páginas) • 92 Visualizações
O tema escolhido para o projeto de pesquisa foi o congado, também conhecido como congo, ou congada que é uma manifestação cultural presente em várias regiões do Brasil, principalmente em Minas Gerais. Ele é representado através de danças e cantos, onde sua celebração é feita com instrumentos como: pandeiro, cavaquinho, cuíca, tamboril. Essas expressões folclóricas foram criadas a partir da mistura de elementos africanos e portugueses. O foco dentro das representações religiosas, gira em torno da história de Nossa Senhora do Rosário, a vida de São Benedito e da resistência de Carlos Magno contra as invasões mouras.
“Congado”, vem do termo congo (congar), que significa dançar. Os escravos da África, mais especificamente do país Congo, celebravam os reis congos. Quando foram escravizados e trazidos pelos portugueses para o Brasil, muitos traços africanos ficaram marcados na nossa cultura. Esse surgimento pode ser explicado a partir da lenda do Chico-Rei:
Galanga era habitante de Congo e junto com sua família tinha sido capturado e trazido em navios negreiros para dentro do território brasileiro, para servir como escravo em uma mina em Vila Rica (durante o percurso, sua mulher e sua filha são lançadas no mar, como forma de oferenda). Depois de muito trabalho, ele consegue conquistar sua liberdade e de seu filho, Muzinga (a tradição diz que ele escondia ouro em pó em seus cabelos e no final do expediente lavava sua cabeça nas pias da igreja, com a ajuda dos religiosos). Ele continuou a trabalhar incessantemente, até conquistar a alforria dos outros escravos. Esses libertos, passaram a chamá-lo de “rei”. Galanga juntamente com outros escravos, se uniram para construir uma igreja para louvar as santas: Efigênia e Nossa senhora do Rosário dos pretos, como demonstração de devoção.
As interpretações criadas para explicar o surgimento dos congos sofrem alterações dependendo da fonte, mas giram sempre na figura de “Chico rei”, que mesmo sem ter comprovação histórica da sua existência, se tornou um símbolo de fé para o povo negro.
Podemos relacionar com a obra de Pierre Clastres “O Etnocidio”, com o processo de escravatura vivida pelos negros africanos, onde é explicitado o fenômeno de aculturação de um certo povo, onde se impõe uma outra cultura dita mais avançada ou certa, acarretando na morte dessa cultura para preservação do povo, é dito como uma forma de salvação.
O foco principal do nosso trabalho é a festa do congado, no estado de Minas Gerais. Pretendemos explicar como é o processo de preparação para essa grande festança durante o ano; quais as simbologias que encontramos ao estudar a história do congo; o motivo pelo qual essas santas, em específico, foram escolhidas para serem homenageadas. Também seria tratado, como as pessoas que não participam da celebração a enxergam e como essas manifestações culturais se mantém, com os ataques etnocidas por qual passaram. A festa em Uberlândia, é considerada um patrimônio imaterial importantíssimo e a entidade religiosa mais antiga da cidade, com mais de 140 anos de existência.
O motivo da escolha desse tema para o trabalho final de antropologia, está relacionado a preservação da simbologia dos congados para nossa cultura, para nossa história. Os congos representam a resistência do povo negro. A população que historicamente é perseguida, explorada e morta, comprova o poder de sua cultura e suas influências no mundo. As congadas superam a ideia de que elas são apenas uma festa. Elas são a prova viva de que o povo ainda resiste, que o mesmo com a tentativa de imposição cultural, os negros tem sua identidade, tem suas raízes formadas e isso é impossível de aniquilar.
Sistema hierárquico dentro do ritual do congo
O ritual do congado começa com o erguimento do mastro. Geralmente são dois, onde um fica na porta da igreja e outro na casa do festeiro. Já no período da manhã, se é conduzido a coroa (reinado) da casa dos reis até o altar, que seria na igreja. No caminho, os vassalos que também são considerados figurantes do movimento, dançam, cantam e as vezes fazem embaixadas. Dos ternos que se tem, apenas os congos e marujos são aptos a fazer as embaixadas. Cada terno se caracteriza pelas cores das suas vestes, acessórios, ritmos das músicas, instrumentos, pelo modo que dançam e pela sequência das apresentações durante o evento, evidenciando a hierarquia das guardas. Geralmente o primeiro capitão, apresenta o tema do canto e logo após vem o coro respondendo. Já o segundo capitão vem com um bastão e pito comandando a execução dos instrumentais, como se fosse um maestro.
Durante o trajeto, o terno de congo se desloca na a frente do Moçambique. Esse tem a função de oferecer guarda as coroas, como um policial, armado de espada, para os reis e rainhas. Os tocadores de maracanãs e caixas se apresentam pulando com os instrumentos alternando entre ajoelhar e pular. O terno Moçambique também conhecido como “congo de coroa” é guarda real, são esses os que se responsabilizam por levas as imagens dos santos, como também o casal real durante a procissão e no fim da festa, além de que devem levantar o mastro na porta da igreja para dar início ao ritual do congado. A coroa representa a realeza, como também simboliza a Nossa Senhora e oferece a quem a usar, autoridade para conduzir os reis e santos. Os catopés, ficam com o dever de alegrar o ambiente, oferecendo boa música e divertindo o povo com cantos irônicos.
Existem também os cavaleiros de São Jorge que exercem uma função decorativa, apenas visual de ostentação e grandeza. Incorporados ao cortejo na rua, seguem o catopé. Em sequência vêm a guarda dos marujos que desempenham a histórica função de rememorar a longa e dolorosa travessia marítima da África para o Brasil. Os caboclinhos, tapuios, caiapós, botocudos, penachos, tupiniquins, ou ainda caboclos, possuem atribuição de arte, fantasia e exibição. Já o vilão é formado por um pelotão de guerreiros, por isso que sua responsabilidade maior no conjunto é a de dar segurança. Quando parado, seus figurantes exibem habilidades de acrobacia.
Durante o cortejo, o primeiro capitão anda o tempo todo se certificando se tudo está correndo bem com todo o terno, além de também "puxar" as músicas. O segundo capitão geralmente é responsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscais protegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha do terno geralmente segue a frente, junto à bandeireira, que normalmente é composto por meninas jovemns que carrega a bandeira, mas também transita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha da bandeira auxilia as bandeireiras e também são responsáveis pelas crianças. No Marinheirão, existe a função de capitão das crianças, geralmente as mães, que podem carregar as crianças no colo. Os fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, na organização dos dançadores. São os imediatos do capitão, geralmente também impunham um bastão e trazem um apito. As funções de presidente, tesoureiro e secretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelos próprios capitães, madrinhas e fiscais. Os soldados são os tocadores e dançadores. As bandeireiras ou andorinhas conduzem os estandartes e suas fitas fazendo coreografias.
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