Problemas de investigação sociológica
Por: Ana Maria Abreu • 4/3/2017 • Ensaio • 2.615 Palavras (11 Páginas) • 168 Visualizações
Enquadramento Teórico
As sociedades existem porque existem indivíduos e, para que a vida quotidiana se processe com regularidade foram estabelecidas normas, regras, mecanismos de controlo social e sanções para os que não procedam de acordo com o comportamento expectável.
As instituições totais, como todas as instituições, condicionam, afectam e relacionam-se entre si, e, entre o indivíduo, do mesmo modo que o indivíduo condiciona, afecta e se relaciona com a sociedade e com as instituições em que está inserido. Por instituições totais, entende Giddens …” instituições que impõem aos seus residentes uma existência forçadamente regulamentada e em completo isolamento do mundo exterior”( Giddens, Anthony, “Sociologia”, pág. 1240). Estas instituições são uma criação humana relativamente recente na história da Humanidade, a emergência do enclausuramento dá-se com a passagem do regime económico próprio do mercantilismo para o regime económico capitalista/liberal, com o significativo crescimento demográfico e as significativas alterações nas relações de poder. Como nos diz Norbert Elias, no seu livro “ A Sociedade dos Indivíduos”, “ …o facto de se atribuir um valor mais elevado àquilo que distingue as pessoas umas das outras, ou seja à sua identidade do Eu, do que àquilo que elas têm em comum, ou seja à sua identidade do Nós, é uma característica da estrutura das sociedades mais evoluídas dos nossos tempos.”( pág. 178). Esta consciência do Eu e do Nós, esta percepção, está inculcada de tal forma no indivíduo que, sem se dar conta, ele mesmo encontra-se constrangido nos seus modos de agir e pensar e, portanto interage normativamente. Mas, há os que agem em desacordo com as normas, regras e valores que regem, ordenam e mantêm a sociedade coesa.
Para os que infringem, desrespeitam as normas, que manifestam comportamentos desviantes e insubordinação, as formas de controlo, de sanção são, como consequência dos seus actos, a exclusão.
As sanções, segundo Thomas Luckmann e Peter Berger, podem ser positivas e negativas, são formas de controlo social, e, nos casos das instituições totais, da forma como Goffman as retrata, são locais de fechamento, que funcionam como
barreiras às relações sociais e ao mundo exterior.
As instituições totais, segundo Goffman, funcionam de forma organizada e burocrática.
O contacto do individuo com outros é mediado e definido através de normas e regras e, de acordo com a instituição onde está inserido.
Os indivíduos institucionalizados, sofrem processos de desfiguração do Eu civil, de “mortificação”, de redução e profanação.
Nos processos de interacção face-a-face, pode-se adquirir capacidade preditiva (Mead) face às expectativas para com o outro, mas nestas instituições tais processos são inexistentes, porque os contactos face-a-face não se processam. Como refere Goffman, o estigma, interfere nas relações sociais, sobretudo entre indivíduos que não partilhem da mesma “diferença”. Assim, ao institucionalizar-se um indivíduo que partilhe de alguma forma o “desvio” com outros semelhantes, protege-se a sociedade do indivíduo, o indivíduo da sociedade e, através da institucionalização, pretende-se uma nova socialização que torne apto o indivíduo à sua re-integração na sociedade.
Goffman dá a sua definição de instituição total como sendo, “ um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada” (pág. 11).
Para Goffman, as instituições totais podem ser agrupadas:
1º -instituições criada para cuidar de pessoas que são incapazes e inofensivas (lares para cegos, órfãos, idosos ou indigentes);
2º -instituições para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si mesmas, sendo vistas como ameaças à comunidade, ainda que de forma não-intencional (sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais ou leprosários),
3º -instituições criadas com o fim de proteger a comunidade contra perigos intencionais (cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerra, campos de concentração);
4º -instituições criadas com o fim de realizar de modo mais adequado as tarefas de trabalho (quartéis, escolas internas, navios, campos de trabalho ou colónias);
5º -instituições criadas com o objectivo de refugiar determinadas pessoas do mundo, ou como locais de instrução religiosa (como abadias ou mosteiros).
Segundo o autor, o que as diferencia é o grau de intensidade que cada uma revela segundo os objectivos a que se destina.
Nas nossas sociedades os indivíduos interagem em todos os espaços destinados à socialização e com todos os outros agentes, nas instituições totais existem regras e normas racionais, horários, normas de conduta e, até poderá eventualmente existir uma uniformização do vestuário.
As instituições totais são organizações que isolam grupos de indivíduos do resto da sociedade, com o objectivo de manipular as suas consciências. O edificado apresenta-se com normalidades reconhecíveis, muros altos, gradeamentos electrificados, torres de vigilância, entradas e saídas controladas. Verifica-se o isolamento total do exterior, do mundo, da sociedade.
Distinguem-se através de três características:
1ºdistinção entre o pessoal que trabalha na instituição e os que estão internados; a sua função é o despojamento da própria personalidade; controle das actividades – privação de intimidade;
2º uniformização nas actividades e, por vezes até do vestuário;
3º práticas de actividades diárias, programadas em simultâneo, de modo a evitar a iniciativa própria.
A conduta dos trabalhadores destas instituições para com os internados é rígida, de modo a acentuarem a sua reprovação aos actos por eles cometidos, sentem-se superiores. Existe uma clara distância social entre os dois grupos, existe uma contínua mediação entre ambos.
O autor sublinha que este processo garante dois mundos antagónicos, desenvolve “ dois mundos sociais e culturais diferentes, que caminham juntos com pontos de contacto oficial, mas com pouca interpenetração”.(pág.20). Apesar de partilharem o mesmo espaço e com alguma interacção, as relações de poder são claras e inequívocas, de modo a que cada um saiba exactamente o lugar que lhe pertence. As relações familiares do institucionalizado são afectadas duplamente, face ao próprio e face aos familiares.
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