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RESENHA: VIDA E OBRA DE NISE DA SILVEIRA E A REFORMA PSIQUIATRICA.

Por:   •  1/12/2015  •  Resenha  •  4.576 Palavras (19 Páginas)  •  773 Visualizações

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            RESENHA: VIDA E OBRA DE NISE DA SILVEIRA E A REFORMA PSIQUIATRICA.

                                                                                                     

           Professor:  Wilson Buran

          Aluno(a):   Osmélia César / Novembro de 2015

Nise da Silveira nasceu em 1906, em Maceió. Estudou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde se graduou em 1926. Em 1927 com o falecimento do seu pai, a mãe mudou-se para a casa dos pais, e Nise, decidiu ir para o Rio de Janeiro. Em 1933, começou sua carreira em psiquiatria no hospital que na época era popularmente chamado de hospício da Praia Vermelha (hoje Hospital Pinel).

Nise morava em um quarto do hospital; e uma enfermeira, ao fazer a limpeza do quarto, encontrou livros marxistas na sua estante, e a denunciou, durante o Levante Comunista de 1935, no regime de ditadura de Getúlio Vargas. Nise era apenas simpatizante do comunismo, e embora não soubesse nada sobre a organização do movimento liderado por Júlio Prestes, ela foi presa durante um ano e quatro meses. Na prisão conheceu Olga Benário, Graciliano Ramos e outros participantes do movimento comunista, que se tornaram amigos seus. Ela diz ter aprendido grandes lições neste período.

Quando em liberdade, andava na semiclandestinidade, ao lado de seu marido, com receio de ser presa novamente. Só conseguiu voltar ao cargo de psiquiatra, em 1944, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. E, lá, pelo fato de se recusar a usar os métodos usuais da psiquiatria clássica, como eletrochoques, choque de insulina e utilização indiscriminada de medicação (que deixava, e deixa até hoje os pacientes num estado terrível de torpor- a chamada impregnação), foi transferida para um setor considerado "pouco nobre" do Centro Psiquiátrico, o lugar onde não havia médicos e que era cuidado por serventes: o departamento de Terapêutica Ocupacional, onde os próprios pacientes faziam serviços de limpeza, em lugar de terapia ocupacional, este fato representava uma boa economia para o hospital.

Nesse lugar discriminado pela direção do hospital, Nise começou sua grande revolução. Em 1946 fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR). A partir de muito estudo, e principalmente a partir de sua veia rebelde e criativa, criou um espaço onde os internos eram recebidos num ambiente de acolhimento e respeito. Abriu ateliês para vários tipos de atividades, como, música, pintura, modelagem, teatro, etc. e orientou os monitores que acompanhariam os pacientes no sentido de terem uma atitude de não interferência na sua produção. Apontava para a importância do contato afetivo para que aquelas pessoas, que passavam pelo grande sofrimento do rompimento com a realidade, do mergulho, sem proteção, nos abismos do inconsciente, pudessem tentar o caminho de volta para a superfície, a possibilidade de recuperar a autonomia perdida. Além da dor provocada pela doença mental, os pacientes sofriam com a discriminação no meio social e no próprio hospital. Um dos pintores do ateliê, que ainda conseguia expressar-se verbalmente, falava do sentimento de ser "etiquetado", e que por ser "etiquetado como esquisito, uma coisa assim" nunca mais conseguiria sair dali.

Nise percebeu e sentiu de forma severa, o quanto o ambiente hospitalar conspirava contra o que ele deveria promover: a cura. Imbuída de profunda compaixão pela dor e fragilidade daquelas pessoas, movida pelo desejo de compreender o que acontecia no seu mundo interno e de investigar os misteriosos meandros da psique humana, ela foi, com enorme disposição e paciência, investindo naquilo que ela acreditava.

Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, um acervo maravilhoso das pinturas, desenhos e esculturas dos frequentadores da STOR e, em 1956, criou, junto com alguns colaboradores, a Casa das Palmeiras. Tipo hospital dia. Esta última foi criada com o objetivo de dar suporte aos pacientes egressos do hospital. Havia, na época, uma alta porcentagem de reinternações (cerca de 70%); Nise sabia que as recaídas se davam pela dificuldade de reintegração dos ex-pacientes à vida familiar e na comunidade. Depois de surtos psicóticos, eles ficam ainda muito fragilizadss, necessitando de apoio para a reestruturação do "eu".

A Casa das Palmeiras, uma instituição independente de convênios, poderia ser o lugar em que este apoio poderia acontecer. Lá, Nise e seus amigos puderam criar um território livre em que os egressos do hospício podiam, recuperar a auto-estima e a autonomia, através de experiências cotidianas através de várias formas de expressão criativa e  com apoio dedicado de profissionais que se colocavam a seu lado com atitude de respeito, cuidado e não discriminação. Muito parecido com o que hoje é idealizado para o CAPS. As portas e janelas da Casa das Palmeiras são abertas, não há enfermeiros, a frequência é diária (cerca de 5 horas por dia). Os psiquiatras, psicólogos, artistas, monitores e estagiários não usam jaleco e se posicionam lado a lado ao paciente nas atividades, na hora do lanche, nas festas. Baseados em sólidos conhecimentos científicos, (principalmente da psicologia de Carl Gustav Jung, da terapia ocupacional e da antipsiquiatria) e da sua experiência no Centro Psiquiátrico Pedro II, Nise orientou o trabalho que foi desenvolvido na Casa das Palmeiras, focando na importância do contato afetivo e da expressão criativa visando a recuperação das pessoas. A Casa das Palmeiras ainda funciona (está em sua 3ª sede), e a maioria de seus pacientes não retornou ao Hospital Psiquiátrico.

O Museu continua existindo, graças à garra de Nise e dos que a auxiliam e dão continuidade ao trabalho, à Sociedade dos Amigos do Museu do Inconsciente (criada para isto), e à fama internacional conseguida pela divulgação das pesquisas lá realizadas e das obras que impressionam críticos de arte, artistas e pesquisadores do Brasil e do exterior. Por diversas vezes esteve a ponto de extinguir-se, em função da incompreensão de alguns psiquiatras que ocupavam postos de poder no Centro Psiquiátrico, por falta de verbas, por falta de incentivo por parte dos órgãos públicos por ele responsáveis.

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