Resumo de Sociologia e Educação – aula 9- A relação hegemonia
Por: Ana Vieira • 22/3/2017 • Resenha • 1.640 Palavras (7 Páginas) • 681 Visualizações
Resumo de Sociologia e Educação – aula 9- A relação hegemonia, ideologia e poder na educação 1
IDEOLOGIA - O significado moderno do termo ideologia originou-se no grupo de savant no período da Revolução Francesa, os savant eram os porta-vozes das ideias revolucionárias na França e o principal objetivo do grupo era a liberdade de pensamento e expressão. Os savant pretendiam cumprir dois propósitos: mostrar a relação entre história e pensamento e promover algumas ideias verdadeiras, que seriam verdadeiras em qualquer conjuntura histórica. Na verdade, os savant buscavam, através das ideias, transformar substancialmente a realidade, por isso se propuseram a fazer uma investigação sobre a relação história/pensamento.
Destutt de Tracy foi o primeiro teórico a usar a expressão “ideologia”. Ele preocupou-se com a elaboração de uma ciência sobre a origem e as leis de formação das ideias, queria explicar a relação entre o corpo humano e o meio ambiente, mostrando como esta relação constrói ideias. O principal objetivo dos ideólogos do século XVIII e início do século XIX era construir um mundo racional e, para tal, recorreram ao empirismo de John Locke, acreditando que as ideias derivavam das sensações. A ideologia nasce no interior de um materialismo que considera que as operações do intelecto humano são previsíveis como qualquer lei da Física.
Augusto Comte analisa a ideologia sob dois ângulos: primeiro como uma atividade filosófico-científica, que estuda a formação das ideias, observando as relações entre o corpo humano e o meio ambiente, por meio das sensações, e, segundo, como o conjunto de ideias de uma época. Podemos observar que a primeira concepção de Comte assemelha-se à visão de Destutt de Tracy, ou seja, ele concebe a ideologia como um conjunto de ideias que decorrem das sensações oriundas das relações entre a mente humana e o meio ambiente, defendendo uma visão empirista e materialista de conhecimento. Mas Augusto Comte não se preocupa com a relação história e pensamento, tal como pensavam os savant; em suas reflexões sobre ideologia não há conotação política.
Émile Durkheim também discute o conceito de ideologia, sua intenção é firmar a Sociologia como ciência, e para atingir tal propósito trata a ideologia como uma pré-noção. Durkheim coloca a ideologia no terreno da subjetividade, uma mera conjectura pessoal; logo, quem pretende fazer ciência não pode se fundamentar em ideologias. Sendo assim, o cientista social deve seguir três regras para não correr o risco de cair na ideologia: primeiro, tomar distância da sociedade que vai estudar; segundo, deve ir sempre dos fatos às ideias e não vice-versa; terceiro, deve usar conceitos precisos.
Hegel preocupar-se em discutir a relação entre as ideias e a história, entre o conhecimento e o mundo. Sua questão fundamental era a relação entre o real e o racional; Hegel quis romper com a separação entre o conhecimento das coisas realizado pelas categorias mentais e as coisas em si mesmas. Admite que o contexto social e histórico esteja sempre em transformação, procura superar a separação entre conhecimento/realidade, ideia/história. Assim, a razão dialética alcançava um conhecimento verdadeiramente universal, um momento representava a objetivação do espírito na história, outro momento representava a apropriação da história no espírito.
Marx, discípulo de Hegel, afirma que as transformações não são um processo fornecido à realidade pela consciência, mas a própria realidade é dialética, ou seja, se transforma. Afirma que a consciência dos homens é determinada pelas relações sociais. Esta discussão é muito importante para entender as reflexões de Marx sobre ideologia. Sendo assim, Marx conclui: “não é a consciência que determina a vida, mas é a vida que determina a consciência”. Marx diz que devemos considerar a historicidade de nossa consciência e das ideias, mostrando que as produções da consciência estão vinculadas, mesmo que indiretamente, à produção material. Essa proposição básica era uma resposta ao Idealismo alemão, principalmente a Hegel, que via o pensar conceitual como a verdadeira essência do ser humano. Para tornar-se forte, esse conjunto de ideias cria mecanismos de convencimento e inversão da realidade, e através desses mecanismos cria uma consciência que não corresponde à realidade histórica. Marx nos revela que as formas de consciência e, consequentemente, as ideologias são veículos epistemológico importantes para que conheçamos a realidade histórica, por isso não podemos definir a ideologia simplesmente como falsa consciência.
Gramsci seguirá esta interpretação do pensamento marxista, ou seja, não considerará a ideologia como falsa consciência. Para Gramsci o conjunto da estrutura com a superestrutura forma um bloco histórico, que representa a síntese de relações sociais e históricas. No interior dessa síntese produzimos ideias, valores e normas para atuar na prática social. Gramsci acreditava que uma ideologia pode contribuir para a consolidação ou transformação de uma estrutura, e ela não pode ser encarada simplesmente como “falsa consciência”. Enquanto modo de conhecer a realidade, a ideologia tem uma participação ativa e efetiva numa formação social, apresentando eficácia na explicação ou ocultamento de uma determinada realidade. De acordo com a inserção social, produzem-se ideologias diferentes, por isso cada classe social constrói uma concepção específica de mundo, porque as condições concretas de vida são profundamente diferentes. Assim, a especificidade de cada classe e a relação entre classes diferentes, numa mesma realidade social, é o ambiente onde se constroem as ideologias.
A ideologia dominante elabora os fundamentos e os objetivos de como manter e expandir o seu domínio, enquanto as classes dominadas, dependendo das condições objetivas, podem elaborar concepções que questionam os fundamentos e objetivos traçados pela classe dominante para manter o seu domínio numa determinada realidade social. De acordo com Gramsci, sempre escolhemos uma concepção de mundo para orientar a nossa ação. Essa escolha não é um fato puramente intelectual, mas algo complexo, que implica uma opção política.
Para Althusser, a ideologia é um nível importante à vida das formações sociais e, em todo contexto histórico, a ideologia tem um papel a desempenhar, porque as relações ideológicas ocultam as relações reais de uma formação social, mas a ideologia não deve ser vista como uma mera ilusão. Na verdade, a ideologia é uma relação vivida entre os homens e o seu mundo. A função social da ideologia não é possibilitar um conhecimento verdadeiro da estrutura social, mas inserir os sujeitos nas suas atividades práticas que sustentam a estrutura social. A ideologia tem três funções: coesão, inversão e mistificação. Para explicar os mecanismos de reprodução na sociedade, Althusser cria dois conceitos: Aparelhos Repressivos do Estado (ARE) e Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE). Ele acreditava que a burguesia precisava de mecanismos para assegurar a estabilidade e a continuação da dominação. As escolas, as igrejas, os meios de informação (jornais, revistas, rádios, canais de televisão etc.), a família, a cultura etc. são Aparelhos Ideológicos do Estado. Estes aparelhos têm como função submeter às classes sociais dominadas ao poder da classe dominante. Observe que a concepção de ideologia de Althusser difere daquela defendida por Gramsci. De acordo com Althusser, a ideologia oculta as relações reais de uma formação social, por isso não possibilita o conhecimento da realidade. Enquanto em Gramsci a ideologia não deve ser julgada de acordo com o critério de verdade ou falsidade, porque de acordo com a sua origem de classe, ela pode ocultar ou desvelar uma determinada realidade, pois a ideologia é uma forma de conhecimento do mundo que nasce no embate de diferentes classes sociais.
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