Seminário de Comunicação e Cultura
Por: MarinaBrondani26 • 17/6/2016 • Resenha • 2.087 Palavras (9 Páginas) • 331 Visualizações
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Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação
Disciplina: Seminário de Comunicação e Cultura
Professora: Nilda Jacks
Aluna: Marina da Fontoura Brondani
O Quinze e suas representações
O livro O Quinze é um romance regional que acontece no Ceará, em 1915 (por isso nome do livro). O contexto da época era uma das grandes secas em que habitava a região, história dividida em dois planos, conta a trajetória da família de Chico Bento, fugitivos da seca, a história de amor entre Vicente e Conceição. As regiões em que acontecem as narrativas são Quixadá, microrregião do sertão do Ceará e Fortaleza, a capital, e São Paulo quando a família de Bento resolve partir no final do livro. O livro traz personagens como o sertanejo humilde, porém, em contraste com a professora Conceição, uma moça estudada e culta.
Vicente, rapaz humilde, mesmo com oportunidades proporcionadas pelo pai para estudar, e então mudar de vida, decidiu ser vaqueiro e administrador da fazenda que o pai deixara a ele. Mesmo dono das terras, Vicente sempre foi muito gentil com seus empregados e muito educado, e diante disso, recebeu apoio dos seus funcionários no período da seca.
Conceição, uma mulher de personalidade forte, com atitudes feministas, não se interessava em casar, e sua avó, Dona Inácia não concordava com as atitudes vanguardistas da neta. Por conta da seca, Dona Inácia, foi a Fortaleza para visitar sua neta e, sempre se queixava de saudade de Quixadá, onde residia e estavam todos seus empregados e animais da fazenda.
O romance de Vicente e Conceição torna-se uma tortura para ambos, já que nenhum dos dois tem coragem de admitir a paixão um pelo outro. O futuro acaba delineando a vida dos dois, uma vez que ela vai à Fortaleza com a vó e ele fica no sertão. Conceição cria em sua cabeça que Vicente está com outra pessoa, e ao ficar magoada com ele, o trata mal quando o encontra. Desse modo, ele acredita que ela nunca o amou de verdade, por não entender o real motivo do seu comportamento indiferente.
No segundo plano está a narrativa da família de Chico Bento, pobre, trabalhador e vaqueiro da fazenda de Dona Maroca, também na região de Quixadá. A caminhada de Chico começa quando a dona da fazenda manda soltar os gados por conta da seca, logo, não haveria mais emprego a ele. Bento tinha cinco filhos: Josias morreu no trajeto entre Quixadá e Fortaleza por comer uma mandioca crua. Pedro desaparece, com possíveis sinais de ter fugido da vida que levara. Caçula, Manuel foi entregue a madrinha de Conceição em Fortaleza, e outros dois filhos que não têm seus nomes mencionados na narrativa.
Cordulina, mulher de Chico Bento representa a submissão ao marido e o sofrimento de uma vida tão sofrida. A jornada dessa família aparece como ponto principal da narrativa, pois, a seca, afeta diretamente e é a razão pela qual todos se vêem forçados a deixar sua casa, sua vida no sertão. O caminho é tão escaldante, e difícil que a família “perde” três filhos. A trajetória foi toda feita a pé e na lomba de um burro, só tinham levado para comer rapadura e farinha que acabara e fizera a família chorar de fome. Chico Bento ao avistar um cabra no caminho, não pensou duas vezes e a matou para dar o que comer aos seus. O dono da cabra vê cena, tira o animal das mãos de chico e apenas oferece as tripas para alimentar a família de Chico.
Foi Luís Bezerra delegado de Acarape, compadre de Chico Bento e Cordulina, quem conseguiu as passagens para a família chegar a Fortaleza. Ao chegar a Fortaleza, Chico Bento e família dirigiram-se para o “Campo de Concentração” no qual Conceição oferecia ajuda aos retirantes vítimas da seca, mas não possuíam estrutura alguma para fazê-lo. O governo não fornecia alimento o suficiente, nem ao menos havia abrigos para receber os retirantes.
A partir da pequena introdução do romance acima, pode-se perceber que o atuante principal no romance é o contexto em que ela está. Em 1915 aconteceu uma das piores secas do Ceará já vista na época e, desse modo, as famílias mais pobres, especialmente aqueles que eram vaqueiros, foram obrigadas procurar um lugar para sobreviver diante da situação e do desemprego.
Foi direto a um caritó, ao canto da sala da frente, e tirou de sob uma lamparina, cuja luz enegrecera a parede com uma projeção comprida de fumaça, uma carta dobrada. E como quem vai reler uma sentença que executou, para se livrar da responsabilidade e do remorso, ele penosamente mais uma vez decifrou a letra do administrador, sobrinho de dona Maroca:„Minha tia resolveu que não chovendo até o dia de São José, você abra as porteiras e solte o gado. É melhor sofrer logo o prejuízo do que andar gastando dinheiro à toa em rama e caroço, pra não ter resultado. Você pode tomar um rumo ou, se quiser, fique nas Aroeiras, mas sem serviço da fazenda. Sem mais, do compadre amigo...‟. (QUEIROZ, 2004, p. 25)
A autora ainda coloca Chico Bento, desempregado e com uma família inteira para alimentar, frente ao desastre da seca de manter-se na terra. Traz a tona uma realidade, de o nordeste à mercê da boa vontade do Estado e entregue aos caprichos dos grandes proprietários de terra e detentores do poder da região.
Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar. Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse. Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha... (QUEIROZ, 2004, p. 31)
Na época em que o livro foi publicado, a autora denuncia com o seu livro a disparidade sócio-econômica brasileira da região Nordeste em relação ao Sul e Sudeste do país. Ela chama a atenção sobre a realidade nordestina na época que até hoje tem vestígios.
Duramente Chico Bento trabalhou todo o dia no serviço da barragem. Só de longe parava para tomar fôlego, sentindo o pobre peito cansado e os músculos vadios. E o almoço, ao meio – dia, onde, junto ao pirão, um naco de carne cheiroso emergia, mal o soergueu e animou. Já era tão antiga, tão bem instalada a sua fome, para fugir assim, diante do primeiro prato de feijão, da primeira lasca de carne!... E até lhe amargou o gosto daquela carne, lembrando-se de que Cordulina, a essa hora, engolia talvez um triste resto de farinha, e junto dela, devorada a magra ração, os meninos choravam...(QUEIROZ, 2004, p. 106 – 107).
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