Um dia de Fúria

[pic 1]

Estados Unidos. A década? 1990. Final da Guerra Fria. Introdução do neoliberalismo. Mudanças tecnológicas ocorrendo pelo mundo. Expectativa da população do sucesso do “American Way of Life”. “Se dedique ao seu país que você será bem-sucedido”. É nesse contexto, que Foster, personagem principal do filme “Um Dia de Fúria”, se localiza. Muitos, influenciados pelo juízo de valor, o chamam de psicopata. Porém, é necessário avaliá-lo de outro modo para entender suas ações: com base na imaginação sociológica (MILLS, C. W.).

        Foster, atribui o seu desemprego a uma questão pessoal, não possuindo uma qualidade de espírito para entender que, na verdade, se tratava de uma questão pública: confirmada no começo do filme com a mulher na rádio dizendo “A taxa de desemprego hoje está maior do que ontem”. O avanço da tecnologia e o fim da Guerra Fria, fazem de Foster

um obsoleto em sua profissão – no filme mostra que seus objetos de trabalho ainda eram compassos, réguas e transferidores -, mesmo após dedicar a vida ao seu país; a ruína de sua família acaba com o sonho do “American Dream”; os seus valores foram arruinados, e ele não identificou a questão pública presente, levando-o a agir da maneira que agiu.

        Junto à imaginação sociológica, é necessário utilizar a sociologia compreensiva para analisar as ações sociais do homem baseado em suas causas (ARON, Raymond). Foster é movido por diferentes ações sociais durante o filme: a ação racional voltada a um objetivo quando ele age pensando no benefício que a sua filha receberá caso o policial atire nele; a ação tradicional quando Foster aprende a atirar uma bazuca com uma criança, mostrando a cultura enraizada da posse de armas nos Estados Unidos; a ação racional voltada a um valor no contexto em que Foster nega compartilhar dos valores nazistas, colocando um limite entre o seu valor e o valor nazista; a ação emotiva é a mais recorrente, mostrando que Foster atuando por impulso (evidências da não percepção do contexto de mudança da sociedade).

        Foster também tem dificuldade de sincronizar seus princípios com a ascese da sociedade naquele momento: a ascese utilitária (WEBER, Max). Ao entrar no campo de golfe e na mansão do cirurgião plástico, a ascese utilitária é percebida pois o resultado do trabalho foi gasto com “futilidades”. Percebe-se, portanto, a sua falha: incapacidade de se identificar como um tipo ideal da época – desemprego, obsolescência e desespero -, o que o leva a realizar tais atitudes resultando em sua morte.

REFERÊNCIAS:

Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993). Direção de Joel Schumacher, Roteiro: Ebbe Roe Smith. EUA/França. Gênero: Drama/policial/suspense. Distribuição: Warner Bros. Colorido, 113 min.

 

Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo, Companhia das Letras, 2004. pp. 141-167

 

ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento sociológico. 5ª. Ed. São Paulo, Martins Fontes, 1999.pp. 447-523

 

MILLS, C. W. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil