A Analise o Garoto Selvagem
Por: marinalva.lim • 17/8/2023 • Artigo • 3.015 Palavras (13 Páginas) • 165 Visualizações
RESUMO
O documentário apontado trata de parte da vida de Genie Willey, assim denominada no documentário para segurança de seus dados. A garota nascida em Arcádia, na Califórnia, em 18 de abril de 1957, e se tornou muito conhecida em todo o mundo como “a criança selvagem”, tendo em vista que ficou presa num quarto sob total isolamento, sem ter contato humano, tendo somente a presença de seu pai e bem pouco dos demais familiares.
Quando ela foi encontrada, em 4 de novembro de 1970, já tinha treze anos de idade, e ainda vivendo na mesma casa onde nasceu. Genie não falava, emitia apenas sons parecidos como um bebê e ainda usava fraldas, e ainda apresentava bastante dificuldades motoras para se locomover e se alimentar, também não possuía hábitos de higiene portanto não havia para ela limitações de onde fazer suas necessidades fisiológicas, pois não tinha hábitos de higiene.
De acordo com o documentário “Genie: o segredo da criança selvagem” (1994), e conforme relatos de sua mãe, quando Genie nasceu, havia sido diagnosticada com uma leve deficiência intelectual, o que possivelmente teria dificuldades de aprendizagem e fala, e este diagnostico fez com que seu pai a isolasse de todos, o que claramente não justifica os sofridos durante 13 anos de vida e ter sido mantida presa num quarto. O pai dela foi acusado de abuso infantil e depois de preso suicidou – se antes de ser julgado.
A garota se tornou famosa, causando curiosidade em todas as esferas, desde a mídia em geral até a comunidade científica, que tinha interesses em estudar e entender sua situação. Ela foi acolhida pelo poder público dos Estados Unidas por volta de 04 (quatro) anos, onde foi submetida a estudos e testes com estudiosos, médicos e professores que pretendiam ajudar em seu desenvolvimento. As autoridades acreditavam que ela poderia ter chances de possuir capacidades normais para aprender a falar e assim se desenvolveria, como qualquer pessoa. Por este fato, uma equipe de pesquisadores foi incumbida de cuidar de sua reabilitação. Susan Curtiss, especialista em Linguística, foi uma das pesquisadoras que acompanhou o caso, ficando responsável pelo desenvolvimento de sua linguagem. Já o psicólogo James Kent ficou responsável pelo seu desenvolvimento emocional. O psiquiatra Jay Shirley, especialista em isolamento social, e sua equipe, fizeram exames e coletaram dados das ondas cerebrais de Genie para saber o quanto era saudável ela estava após ter vivenciado o longo período de isolamento. Os resultados apresentaram certos padrões anormais, o que poderia indicar que Genie já teria nascido com algum tipo de deficiência intelectual congênita ou que a sua cognição havia sofrido danos irreversíveis durante o isolamento.
Depois de muitos estudos, nenhuma das hipóteses foi comprovada, já que esses resultados indicavam as condições em que Genie se encontrava naquele momento. Depois de um ano de tratamento, Genie aprendeu aproximadamente cem palavras, apresentava ótimo desenvolvimento mental e físico e parecia ter potencial mais. Tinha vontade de aprender novas palavras e seus significados, demonstrava que estava recodificando seu mundo por meio das palavras.
Genie passou por uma primeira experiência em um lar adotivo com Jean Butler, sua professora no hospital, e, em seguida, foi morar com David Rigler – que passou a responder como seu psicólogo no lugar de Kent – e sua esposa, Marilyn, especialista em desenvolvimento humano, que se tornou sua nova professora. Ainda nessa época, Genie apresentava ataques de fúria em que se agredia, e, para direcionar essa raiva contida para o exterior, Marilyn a ensinou a bater portas e a chutar. Depois de um certo tempo de convívio afetuoso com os Rigler, ela passou a ser capaz de nomear sentimentos e determinar a intensidade em que os sentia. Curtiss continuou a acompanhando e percebeu que ela havia aumentado consideravelmente seu vocabulário e já era capaz de ler palavras simples e utilizar a linguagem para descrever eventos do passado.
Entretanto, apesar do desempenho e alguns avanços, os resultados esperados não foram alcançados, e os pesquisadores discordavam entre si. Havia relatos e rumores que ambos queriam se beneficiar com o projeto, que esta seria a preocupação maior. Após quase quatro anos de investimentos, o órgão do governo que financiou as pesquisas com Genie ficou descontente com a falta de direcionamento do caso e de resultados palpáveis e, em 1974, cancelou o financiamento do Caso Genie, alegando falta de dados científicos claros e significativos. Um ano após a perda do financiamento, os Rigler decidiram deixar de ser seus pais adotivos (GENIE, 1994). Diante disso, a maioria dos estudos de linguagem com Genie terminaram em 1975. E, em relação ao seu progresso, ela conseguiu desenvolver uma linguagem e se expressar por meio de um vocabulário simples, mas não foi capaz, ao final dos estudos, de juntar palavras de forma gramaticalmente correta.
A mãe de Genie foi inocentada por alegar que também sofria de abusos do marido, tentou cuidar da filha, mas não conseguiu ter êxito. Então ela processou a equipe de pesquisadores, alegando abuso de testes durante as pesquisas em detrimento do bem-estar da garota, levando-a para além de seus limites.
Após sair da tutela dos estudos, passou por orfanatos e lares adotivos, mas sofreu ainda mais agressões. Sua mãe conseguiu novamente sua guarda, porém não conseguiu se adaptar a rotina de Genie e acabou a entregando ao sistema de adoção. Na fase adulta, ela foi encaminhada para um lar com pessoas com deficiência.
Desta forma, por meio de uma revisão bibliográfica, esta resenha busca mostrar as contradições que envolvem o caso de Genie Wiley e as teorias de aprendizagem, com base nas abordagens teóricas do construtivismo, de Jean Piaget, e do socio interacionismo, de Lev Vygotsky, para tentar destacar os momentos/estágios de desenvolvimento/aprendizagem que estavam Genie Wiley e responder quais são os impactos social e cultural de Genie Wiley?
A ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA DE JEAN PIAGET
Jean Piaget (1896-1980) foi um importante biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço que desenvolveu uma das teorias do desenvolvimento cognitivo mais importantes e aceitas no mundo até hoje.
Segundo Rappaport: Ele considerou em seus estudos que “só o conhecimento possibilita ao homem um estado de equilíbrio interno que o capacita a adaptar-se ao meio ambiente” (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981a, p. 52).
Para Piaget o convívio com a realidade externa regula e ajuda o sujeito a se desenvolver por meio de estruturas lógicas, onde o individuo cria formas simples e ao mesmo tempo complexas. Ele menciona que é preciso haver um desequilíbrio para a formação de novo, que a partir do conflito são acionados mecanismos de assimilação, então o sujeito internamente recorre a esquemas formulados para entender e chega na acomodação onde ele muda e constrói novas ideias para resolver o conflito. Desta forma, a cada novo conflito, o sujeito chega ao estado de equilíbrio, efetuando a uma equilibração, sempre nova e crescendo.
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