A Crítica Do Conceito De Diversidade
Artigos Científicos: A Crítica Do Conceito De Diversidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lellafr • 9/11/2014 • 6.508 Palavras (27 Páginas) • 453 Visualizações
In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais... Recife: Observatório da
Realidade Organizacional : PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. 1 CD.
A Crítica do Conceito de Diversidade nas Organizações
Luís Guilherme Galeão-Silva
Mario Aquino Alves
Resumo
O “novo discurso” das relações de trabalho apresenta uma miragem para o
trabalhador: a diversidade na organização permite mais liberdade. Este artigo analisa a
ideologia da diversidade. Para isso apresenta o exemplo de um programa de diversidade de
uma multinacional no Brasil e artigos recentes sobre a diversidade nas organizações. Esses
dois tipos de discurso da diversidade são criticados a partir da Teoria Crítica, especialmente
os trabalhos sobre a ótica do trabalho de Marcuse. Busca-se criticar o discurso e a praxis da
diversidade (repletos de ideologia gerencial) em um pais com profundas desigualdades sociais
e poucas possibilidades de mobilidade social especialmente para as minorias. A idéia de
diversidade tem aparentemente o mérito de opor-se a estandardização da sociedade industrial.
Contudo, nas organizações a diversidade é uma falsa novidade. Ela não muda o valor das
pessoas, pois estas continuam a ser consideradas por meio da ótica da produção.
Abstract
The “new discourse” on the working relations in the contemporary companies
embraces a mirage for the worker: diversity can guarantee a larger freedom. This article has
the goal of analyzing the ideology of diversity. To achieve this goal, the article comprehends a
case study of the implementation of a diversity program in a great American multinational
installed in Brazil and analyzing recent articles on diversity in organizations. From the
theoretical view of the Critical Theory, especially the works of Marcuse, it intends to oppose
discourse and praxis of this type of affirmative action (embedded of managerial ideology) in a
country of profound social inequalities and of few opportunities of social mobility, especially
among minority groups. The idea of respecting diversity has - apparently -in itself a great
merit because it is an action in the opposite direction of the industrial society's
standardization. But diversity inside the organizations does not change the fact that the value
of people continues to be measured by their importance for the production.
Introdução
Um novo discurso vem emergindo nos últimos anos no mundo das organizações.
Trata-se do discurso da diversidade. Como apontam Nkomo e Cox (1996), o tema diversidade
é cada vez mais discutido a partir da constatação de que tanto nos EUA quanto em outros
países, o perfil da força de trabalho está se diversificando (Wentling e Palma-Rivas, 2000).
Esse movimento também é sentido na academia, com a publicação de alguns trabalhos
sobre o tema da diversidade no campo das organizações (Cox, 1993; Fine, 1986; Austin,
1997; Milliken e Martin, 1996; Barry e Bateman, 1996; Wise e Tschirhart, 2000; Linnehan e
Konrad, 1999; Carroll e Hannan, 2000; Schneider e Northcraft, 1999; Gilbert, Stead e
Ivanicevich, 1999; Pelled, Eisenhardt e Xin, 1999; Jehn, Northcraft e Neale, 1999). Por outro
lado, essa “diversidade” de estudos sobre diversidade revela também pouco rigor no
desenvolvimento do conceito.
A idéia de diversidade nos artigos na área de organizações se refere à variedade de
atributos de indivíduos e grupos. Por este conceito as organizações devem perceber as
qualidades dos seus consumidores e de seus empregados. Nota-se que a abrangência dessas
características vária de autor para autor. “As definições mais restritas enfatizam raça, etnia e
gênero”. (Nkomo e Cox, 1999 [1996], p. 334). Outras definições são muito mais amplas,
abrangendo mais elementos.
A diversidade inclui todos, não é algo que seja definido por raça ou gênero.
Estende-se à idade, história pessoal e corporativa, formação educacional,
função e personalidade. Inclui estilo de vida, preferência sexual, origem
geográfica, tempo de serviço na organização, status de privilégio ou de não
privilégio e administração ou não administração. (Thomas, citado em Nkomo e
Cox, 1999 [1996], p. 334-5).
Partindo dos quatros paradigmas sociológicos de análise organizacional (Burrel e
Morgan, 1979), percebe-se que os estudos de diversidade abrangem todos os quadrantes. No
quadrante da Sociologia Interpretativa estão os estudos que procuram compreender a
diversidade com um fenômeno produtor de múltiplos significados no interior das
organizações. No quadrante do Humanismo Radical encontram-se os estudos que pretendem
avaliar mais criticamente a diversidade nas organizações, avaliando processos como
estigmatização de pessoas e criação
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