A Cultura e Política
Por: d18m11a84 • 10/5/2017 • Dissertação • 2.591 Palavras (11 Páginas) • 428 Visualizações
Curso de Especialização em Cidadania, Direitos Humanos e Segurança Pública – 3ª Edição
Cultura e Política
Docente: José Airton Almeida Uchôa
Questões
1) Explique o significado da expressão “Você sabe com quem está falando”, tendo por referência as reflexões de Roberto da Matta sobre a existência de uma sociedade relacional no Brasil?
Nosso país, Brasil, tem uma grandeza e um potencial invejável, mas a nossa cultura é algo ainda mais surpreendente. A cultura, segundo o antropólogo e professor Roberto da Matta, é considerada “um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado”. Para ele, embora a cultura de cada povo tenha limitações de regras, suas possibilidades de manifestação em determinadas situações do cotidiano de uma sociedade são infinitas, pois podem evoluir com o tempo com a formação de um povo e as relações estabelecidas na construção de sua história.
A formação da sociedade brasileira é carregada de uma identidade, seja pela música, dança, comida, etc, acompanhada de uma relação complexa existente entre o Estado e a sociedade, a qual contribuiu para uma hierarquização da sociedade, pois, no Brasil, apesar de pregar uma igualdade, essa é cheia de contradições, devido o início de uma sociedade fundamentada na aristocracia, refletindo no comportamento da sociedade para cada situação, inclusive, na casa onde se adotam condutas diferentes das adotadas quando se vai para a rua. Criou-se uma ideia de troca de favores herdada das regras impostas em decorrência da escravidão e da aristocracia implantada na formação da sociedade brasileira, criando um sistema de troca de favores e a adoção de condutas diferenciadas para situações ocorridas em casa e na rua.
Na letra do hino nacional brasileiro existe um trecho que diz: “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido”, pena que esse sonho ficou intenso mesmo para uma maioria de brasileiros com poucos frutos colhidos pelo grande esforço de muito trabalho, pois a realidade ficou para uma minoria de brasileiros com uma vasta colheita dos frutos resultante do trabalho daquela maioria. Ora, enquanto a maioria é composta de dominados, a minoria é de dominantes sedentos por mais e mais riqueza e reconhecimento de grandeza. Os dominantes sempre foram sagazes e criaram estratégias ao longo do tempo para se manterem nessa cômoda condição, pois o que seria da autoestima daqueles sem toda a regalia que o poder lhes conferia pelo status que lhes eram atribuídos. Será mesmo que não dava para imaginar? Claro que sim, pois eles imaginaram tanto que resolveram não perder o que conquistaram pelas suas investidas protecionistas e, assim, continuaram a querer mais e mais poder, prestigio e uma população repleta de dominados para serem explorados.
Essa forma de valorização do homem pelo ter e não pelo ser, pode ser considerado um dos motivos que levaram a busca incessante pelo poder, afinal, quem pode mais, o gerente da loja ou o vendedor? O oficial da polícia ou o praça? E se não sou um “figurão”, mas sou influente, então posso conseguir prestígios e favores, afinal, “você sabe com quem está falando?” Esta frase é bem típica dos brasileiros em situações que possam vir a interferir em seus anseios, sendo bastante comum seu uso para atingir uma finalidade pretendida.
Eu mesmo já passei por uma situação parecida quando utilizei certa vez o serviço de transporte coletivo. Na época estava cursando o ensino médio e ao entrar no coletivo, no momento em que me dirigi ao cobrador e entreguei a minha carteira de estudante, o mesmo disse: “lá vem essa carniça”. Sem entender o que houve, indaguei ao cobrador sobre para quem estava direcionando aquele tratamento, então ele respondeu: “Vocês são um bando de carniça”. Foi então que fiz inconscientemente a pergunta: “Você sabe com quem está falando?” Claro que naquele momento, quando fiz a pergunta minha mente já tinha uma resposta formada, pois eu era o consumidor cheio de direitos pelo serviço que estava pagando e ele o empregado responsável pela prestação de um bom atendimento. Não que eu tivesse qualquer pessoa com influência em determinado setor público ou empresarial para usar na situação, mas sabia que com a denúncia feita na empresa o empregado seria reprimido pelo tratamento inadequado com o usuário do serviço prestado pela empresa. Querendo ou não, havia um sentimento de superioridade naquela situação.
Para Roberto da Matta, todos, internamente, possuem um “senador” dentro de si mesmo, se referindo a ideia de que buscamos impor uma cidadania sem isonomia, pois, geralmente, não queremos ser iguais, mas diferentes em relação aqueles que julgamos inferiores. A questão da aplicação da frase: “você sabe com quem está falando”, muito utilizada em nossa sociedade, é um reflexo de uma projeção da educação recebida em nossos lares, em nossa criação projetada para o espaço público. Queremos estar em situação de superioridade, causando uma institucionalização da desigualdade em nosso cotidiano.
2) Reflita sobre os preconceitos sócio culturais existentes na sociedade brasileira, tendo como parâmetro o texto Sobre o óbvio de Darcy Ribeiro.
Inicialmente, vamos procurar entender o que significa o óbvio? Ora, segundo o dicionário a palavra óbvio significa “aquilo que é evidente”, contudo nem tudo é o que parece ser no mundo da obviedade, e é esse cuidado que devemos ter ao analisar cada situação apresentada em nossa sociedade, envolvendo preconceitos sócio culturais.
Darcy Ribeiro, em seu texto intitulado “sobre o óbvio”, nos faz refletir como temos muitas vezes uma percepção inadequada de nós mesmos, afinal, formamos a sociedade e estamos nela inseridos. Às vezes, somos tachados de povinho quando comparados com outros povos de países desenvolvidos, como por exemplo os Estados Unidos.
E que significa preconceito? Preconceito é, segundo o dicionário, “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico”, isso significa aquela opinião que temos e transformamos em um conceito, sem entender o que realmente é aquilo que apresentamos, seja defendendo ou criticando. São várias as formas de preconceitos existentes, dentre as quais podemos destacar a religiosa, racial, étnica e, porque não, a social.
Mas esse preconceito, sobretudo de classe social, é reflexo do desejo de nossa elite social,
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