A Educação e Sociologia Durkheim
Por: Alberto Magalhaes • 27/12/2018 • Resenha • 1.784 Palavras (8 Páginas) • 704 Visualizações
Relatório de Leitura
DURKHEIM, E. 1965. Educação e Sociologia. São Paulo: Edipro (Cap 1 – A educação, sua natureza e seu papel, p. 17 – 39)
Educação e Sociologia
As definições de educação: exame crítico
Durkheim abre o texto mostrando diferentes concepções que pensadores importantes deram a educação, como Stuart Mill, Kant e James Mill. No entanto, critica todas essas definições, pois tais eram idealistas, descoladas das suas realidades. E como o autor nos explica, a educação não pode ser descolada do seu espaço e de seu tempo. Indaga ele o que seria do Império Romano se ao invés de uma educação militar fosse uma educação individual. Neste exemplo deixa claro que ou a educação acompanha a demanda da sociedade ou ela se afasta da sociedade e a consequência disso, uma vez que supostamente fosse imposto uma educação sem diálogo com a sociedade, seria a ruína de tal sociedade. Neste sentido, alerta Durkheim aos pais que pretenderem educar os filhos com valores não permeados na sociedade criarão um problema de socialização para as suas crianças.
Dessa forma, incomodado com o que é a educação, Durkheim em um primeiro momento tenta definir os fins que ela deve ter e encontra que é o de educar as novas gerações. Porém, diz que se faz necessário realmente entender “no que consiste esta educação, a que tende, a quais necessidades humanas responde”. E para isso, conclui ser imprescindível a observação histórica.
Definição de educação
Em busca da definição de educação, julga Durkheim a necessidade de procurar os sistemas de educação que existiram e existem para que deles se extraia as características comuns e assim se possa chegar a definição pretendida. Ressalta que já tem em mãos a ideia que a educação pede a ação de adultos sobre uma nova geração, restando definir a natureza dessa ação.
Em seguida, explica que a educação tem um aspecto duplo. Isto é, ao mesmo tempo que é múltipla, também é uma. Múltipla, porque em toda sociedade há diversos tipos de educação. Explica que isso pode ser observado desde as sociedades que eram divididas por castas, até as dos países desenvolvidos de seu tempo que tinham classes sociais estabelecidas. Informa ele tal diferenciação de educação em uma mesma sociedade é importante para que se possa haver uma cooperação, isto é, que indivíduos tenham saberes diferentes para que se complementem. Enaltece que a exigência de especialização do trabalho que atingiu essas sociedades requer uma diferença de educação. Todavia, expressa o caráter uno que toda educação também deve ter. Com isso quer dizer que se deve ter uma base igual para todos, ou seja, ideias, sentimentos e práticas que todos de uma sociedade devam ter para que esta se mantenha uma homogenia. Deste modo, chega a alcançar a definição esperada:
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela sociedade política em seu conjunto e meio especial ao qual é especificamente destinada.
Consequência da definição precedente: caráter social da educação
Como consequência da definição precedente Durkheim faz alguns balanços. Primeiro, diz que a educação incide em uma socialização metódica da jovem geração. Depois, explica que em cada ser humano há dois seres: o ser individual e o ser social. O ser individual é composto de todos os estados mentais que se relacionam apenas com o próprio indivíduo. Já o ser social, é um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que expressam em cada indivíduo a sociedade que faz parte, como a religião, a moral, as tradições, as opiniões coletivas. Dessa maneira, explica que o propósito da educação é construir esse ser em cada indivíduo. Logo, diz que esse ser social não é concebido de forma natural no homem. Ao contrário, o homem não é propenso a submissão de uma autoridade política, a respeitar uma disciplina moral, a dedicar-se a um culto e sacrificar-se por honras, normas, etc. Mas, foi a sociedade que impôs a ele essa dependência. Entretanto, somente dessa forma o homem pode atingir o seu melhor, a sua humanidade, ao contrário, isolado da sociedade, não se desenvolveria, ficando em um estado animal.
Nesse sentido, Durkheim compreende que a nova geração aparece como uma folha em branco e por isso se faz preciso passar todos os valores da sociedade para ela a fim de que essa nova geração possa viver dentro da sociedade e assim, esta possa se manter. Isso, aponta ele, é a obra da educação: a geração adulta transmitir os valores sociais e morais para a nova geração. Diz assim, que a educação cria um novo ser, pois por estado natural o homem pouco se diferenciaria dos animais, agindo por instinto, como já apontado em cima. É a sociedade, explica, que projeta o homem para fora de si mesmo, que o obriga a levar em conta outros interesses que não os de si próprio, que ensina dominar as suas paixões, instintos, a acatar as leis, a se fazer por privar, sacrificar e subordinar as vontades pessoais para fins mais elevados. Assim, quanto mais o homem tem desenvolvido o domínio sobre os seus instintos mais desenvolvido ele é, e isso só é possível em sociedade. Somado a isso, o homem também deve a sociedade o conhecimento científico que tem. Isso porque, “a ciência é uma obra coletiva, já que supõe uma vasta cooperação de todos os sábios não somente de um mesmo tempo, mas de todas as épocas sucessivas da história”. Mesmo a linguagem o homem deve a sociedade, pois é através dela que ele a aprende e com ela todo um sistema de ideias herdadas de um trabalho de séculos. Mais que isso, sem a língua o ser humano não teria ideias gerais, pois a palavra tem o poder de fixa-las e com isso dar a conceitos a competência de serem manipulados pelo homem. Logo, a linguagem é algo social e sem ela o homem viveria na pura sensação.
Desta forma, vemos que o homem tem a capacidade de acumular conhecimentos sem fim, mas isso porque ele vive em sociedade (uma personalidade geral que dura mais que uma geração) que coopera e acumula tais conhecimentos ao longo da sua história. Sendo assim, o autor aclara que o antagonismo entre indivíduo e sociedade é inexistente e que a ação que esta exerce sobre ele por meio da educação não tem o propósito e o efeito de reprimi-lo, desnatura-lo, diminui-lo, ao contrário, o faz engrandecer e atingir o que ele tem de melhor, a sua humanidade. Para esse engrandecimento, diz que é preciso muito esforço e que o esforço voluntário é uma das características mais essenciais do homem.
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