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A Reconstrução Da Realidade: métodos Qualitativos E Quantitativos

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Por:   •  26/4/2014  •  1.886 Palavras (8 Páginas)  •  531 Visualizações

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A reconstrução da realidade: métodos qualitativos e quantitativos.

A sociologia recebe, destarte, a incumbência de ousar ser impura sem deixar de ser ela mesma: ciência da sociedade que não hesita em perturbar o severo rigor do método com os ruídos da crítica, do entrelaçamento com outras ciências e das exigências normativas.

(Cohn, Gabriel. Apresentação à edição brasileira: a sociologia como ciência impura. In: Theodor Adorno. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora UNESP, 2008. p. 34).

É com o mundo moderno que a Sociologia nasce e desenvolve-se. Destarte, as principais épocas e transformações são refletidas por meio dela. Na gênese das ciências sociais, no século XIX, uma das grandes preocupações dos pensadores à época era neutralizar o máximo possível os interesses políticos e éticos do analista, de forma a atingir a realidade objetiva ou a verdade. De acordo com Pires (2008), “as ciências sociais são um produto do mundo moderno e seu desenvolvimento se insere no contexto de um processo evolutivo de especialização e de autonomização do saber ocidental” (PIRES, 2008, p.46).

É, sobretudo, a partir do século XVI que começa a delinear uma distinção entre o campo de um saber que veio a se chamar ciência e o dos outros saberes quando se buscou desenvolver um conhecimento secular, sistemático do real e válido empiricamente. Portanto, em um primeiro momento, a distinção se vinculava à separação da ciência da não-ciência, muito embora, essa distinção, inicialmente, não possuísse conotação pejorativa, nem hierárquica (PIRES, 2008).

Entretanto, já no século XVIII, o sucesso das ciências da natureza deu a ela o título de modelo ideal da ciência. Enquanto isso as ciências sociais nasceram no interior de um domínio que se denominou filosofia ou letras. Contudo, ainda nesse mesmo século, se assiste a emergência de um saber social vinculado a uma exigência metodológica a fim de obter um caráter de ciência. E será somente no século seguinte que as ciências sociais nascerão como ciência.

Porém, desde seu nascedouro, as ciências sociais têm seu reconhecimento de forma ambígua. Se por um lado, desmembrada da filosofia e das letras fazia-se mister atender à exigência metodológica segundo, preferencialmente, o modelo de ciência vigente para que pudesse obter um conhecimento objetivo - descobrir a verdade do mundo social, de outro lado, do ponto de vista histórico, as ciências sociais e, em especial a sociologia, devido suas diversas origens e objetos, geraram debates que tangenciaram tanto o plano epistemológico, quanto o metodológico e que perduram até hoje.

Assim, no plano epistemológico a discussão ligava-se às estratégias de conhecimento a serem adotadas, ou seja, posição, ponto de vista, atitude do pesquisador para se produzir um conhecimento objetivo (PIRES, 2008). E, dessa discussão resultaram três grandes tradições, com variações significativas, que inspiraram e influíram de algum modo o pensamento e a conduta do presente nessas áreas de saber: o olhar do exterior, na qual se pretende uma neutralidade científica - valorizada por Comte e Durkheim; o olhar do interior, prende-se às tradições interpretativas de Max Weber e cuja tradição estabelece uma rígida fronteira entre o cientista, homem do saber e o político, homem de ação comprometido com as questões práticas da vida.

E, por último, o olhar de baixo que deu um passo a mais ao estabelecer uma ligação entre teoria e prática, ciência e interesse de classe. É a tradição marxista do materialismo dialético. Aqui, tem-se uma concepção de um sujeito ativo que constrói os seus próprios esquemas de observação, verificação e transformação da realidade. Logo, o estudo da sociedade deve se situar pelas relações sociais de produção. Isto porque, o conjunto dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade e, o modo de produção da vida material, condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual de maneira geral (PIRES, 2008).

Com efeito, com vistas a explicar e compreender o mundo social pode-se dizer que existe um relacionamento constante entre a teoria e a pesquisa social, isto porque, os dados não são coletados, mas sim, produzidos. A questão então não é somente o que se produz, mas como o faz. E, é nessa perspectiva que se colocam as discussões metodológicas cujo debate recaiu sobre a natureza dos dados. Duas visões principais das ciências sociais somar-se-iam às estratégias epistemológicas na busca da objetividade: (i) baseado no primado dos números, o quantitativo significaria a matematização sobre o saber social a fim de que esse pudesse ter uma abordagem científica e; (ii) priorizando os dados primários, para reduzir a parte do viés introduzida pelo pesquisador; esta segunda visão atribuía uma maior importância aos dados qualitativos e à pesquisa histórica (PIRES, 2008).

De acordo com Pires, é no prolongamento dessas duas visões sobre a natureza dos dados que alguns pesquisadores chegaram a opor o qualitativo e o quantitativo. Ora, diz ele, “essa oposição me parecia mais ideológica e política do que metodológica, pois não há oposição verdadeira entre a natureza dos dados e a ambição de evidenciar a verdade e de adquirir um conhecimento sistemático do real por meio da pesquisa empírica” (PIRES, 2008, p.49).

Contudo, uma observação se faz pertinente: a realidade social não é nem qualitativa e nem quantitativa. Isto porque, segundo Tarrés (2004), são os valores, as definições e convenções implícitas nos pressupostos paradigmáticos, nas perspectivas teóricas ou ainda nas maneiras de se encarar o conhecimento do social que, em última instância, definem a opção entre o qualitativo ou quantitativo. Afinal, discute Spink (2000), a pesquisa é uma prática social cruzada por questões de poder que têm como consequência a hierarquização de categorias e a cristalização da diferença (SPINK, 2000).

Pires (2008) propõe uma metodologia geral para as ciências sociais, um paradigma mais aberto e flexível, o que não significa que resulte em um relativismo. Segundo ele, é preciso primeiro reconhecer a complexidade de estabelecer critérios de cientificidade, haja vista que alguns critérios, considerados antes como determinantes, decorrem, na realidade da ideologia científica. Esse entrelaçamento da ideologia cientifica com a prática da pesquisa, segundo Pires (2008), nos impede de estar absolutamente seguros das grandes características da ciência, bem como distinguir categoricamente o que depende da falsa consciência, ou, ao contrário, da verdade. Para evitar tal risco, Pires (2008) propõe que o metodologista deve expor seu trabalho

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