A Sociedade Moderna Como um Bom Instrumento
Por: willvrms • 7/7/2016 • Trabalho acadêmico • 1.669 Palavras (7 Páginas) • 402 Visualizações
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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais
Departamento de Sociologia
Prof. Bruno Hoffman
Disciplina: Introdução à Sociologia
Autor: William V. Rosales
Estudo Dirigido 4
28/06/2016
ENUNCIADO ESTUDO DIRIGIDO 4
"As instituições modernas diferem de todas as formas anteriores de ordem social quanto ao seu dinamismo, ao grau em que interferem com hábitos e costumes tradicionais, e a seu impacto global. No entanto, essas não são apenas transformações em extensão: a modernidade altera radicalmente a natureza da vida social cotidiana e afeta os aspectos mais pessoais de nossa existência. A modernidade deve ser entendida num nível institucional; mas as transformações introduzidas pelas instituições modernas se entrelaçam de maneira direta com a vida individual e, portanto, com o eu." (GIDDENS, 2002, p. 9, grifo nosso).
Com base nos textos lidos na unidade IV, escreva um texto dissertativo que 1) discuta as ideias sobre a vida cotidiana na modernidade. Procure abordar as relações entre a consciência dos indivíduos e as condições sociais da vida moderna.
A SOCIEDADE MODERNA COMO UM BOM INSTRUMENTO
Citando Simmel (1976, p. 11), “Os problemas mais graves da vida moderna derivam da tentativa do indivíduo de preservar a autonomia e individualidade de sua existência em face às esmagadoras forças sociais, à herança histórica, à cultura externa e à técnica de vida”. Com o passar dos séculos e o princípio da Idade Moderna surge uma maior especialização do trabalhador e maior dependência de outros indivíduos, seja na produção intelectual ou material. Atualmente esta característica se expressa de forma exacerbada principalmente na produção material e econômica, haja vista a Divisão Internacional do Trabalho e o processo bem consolidado de globalização nos mais diversos setores da sociedade. Em paralelo com as dependências econômico-sociais ente os indivíduos, a gama de possibilidades de relacionamentos jamais esteve tão ampliada e facilitada dadas as mais diversas redes sociais e possibilidades metropolitanas.
Esta gama de vivências, porém, não vêm de forma gratuita. Parafraseando Bauman (2003), a felicidade requer segurança e liberdade; segurança sem liberdade é escravidão, enquanto liberdade sem segurança é particular ao caos e a cada vez que se obtém um dos dois, deixa-se o outro escapar. Não que não haja equilíbrio, mas ao ganhar pouco de um, perde-se algo do outro. Essa relação ponderal entre ambos não é algo que pode ser previsto como por vidência, mas percebe-se tendência ao progressivo ganho de liberdade na sociedade moderna, ainda que este possa estar atrelado ao poder econômico. Tomando como axioma a paráfrase do livro “Amor Líquido” de Bauman, a sociedade moderna caminha em direção à uma crescente liberdade, e, portanto, insegurança institucional.
A falta de segurança citada não se trata de um conceito midiático referente à violência ou risco material, mas à uma vulnerabilidade psicológica, facilmente percebida no aumento de uso de fármacos antidepressivos[1], na ampliação expressiva do número de suicídios ao redor do mundo[2], ou nos distúrbios e desequilíbrios cada vez mais frequentes entre aqueles que embrenham-se na vida citadina, e que, ainda que exerçam a característica reflexiva da sociedade moderna em relação ao rumo que tomam, por vezes não encontram alternativas à parte do frenesi metropolitano.
Essa mudança perceptível no comportamento dos indivíduos frente à sociedade não é isolada, como visto, da psique do homem moderno. Segundo Simmel (1976, p.12), “A base psicológica do tipo metropolitano de individualidade consiste na intensificação dos estímulos nervosos, que resulta da alteração brusca e ininterrupta entre estímulos exteriores e interiores.”. Esta afirmação evidencia como as condições sociais de intensos estímulos não só intelectuais, mas audiovisuais e por vezes emocionais chegam a tocar o íntimo dos receptores tendendo a alterar a forma do homem de ser e se relacionar.
Em outro trecho Simmel faz alusão à exatidão calculista na vida prática moderna criada pela economia do dinheiro, citando a concepção das ciências naturais da tentativa de compreender o mundo por uma série de leis e correlações matemáticas. Essa relação calculista somada ao fragmento em que o autor diz entender o ódio de Nietzsche e Ruskin pela vida moderna, tendo suas naturezas descoberto valor da vida a sós e à parte da teia social, pode indicar que, ainda do afloramento das liberdades individuais e subjetivas no homem moderno, não estão estas livres de regras do capital ou do rigor das normas sociais presentes na metrópole.
Analisando alguns dos textos de Bauman, Norbert, Giddens, Simmel, Marx e Goffman acerca da modernidade, do indivíduo e da sociedade como um todo, chega-se a uma série de pensamentos não exatamente conflitantes, mas que dialogam entre si com diferentes formas de pensar o mundo moderno. Ao mesmo tempo que extrai-se de “ O Fenômeno Urbano” e dos dados correlatos acerca da pisque do homem moderno a percepção da vida metropolitana, em certa medida, gerando problemas e aprisionando-o, Giddens deixa claro em “As consequências da modernidade” que com a Idade Moderna surgiram também processos de abertura para as relações interpessoais de forma mais verdadeira, assim como a ampliação da possibilidade de expressar socialmente a identidade do indivíduo. A concepção segunda parece ser algo em desacordo com o evidenciado pelo descrédito dado por Nietzsche à vida moderna, quando figura que a amplitude da vida humana não pode ser reduzida à precisão da vida metropolitana.
Ainda desenvolvendo o escrito por Giddens no livro citado, acreditando que a extensão das possibilidades de vida contemporâneas faz dos indivíduos menos determinados à formas de comportamento e vivências pré-determinadas, faz necessário trazer a concepção de que a sociedade não simplesmente é, mas constrói-se em cada ação social, em cada perpetuação dos sistemas abstratos, aceitação dos sistemas peritos, ou mais hodiernamente, nas escolhas do consumo. Tendo em vista essa reorganização social constante, faz-se útil relembrar uma citação de autor desconhecido, “Um bom instrumento nas mãos de um mau homem torna-se um mau instrumento, enquanto um mau instrumento nas mãos de um bom homem, tende a tornar-se um bom instrumento”. Pode-se adaptá-la ao contexto considerando como mau instrumento uma sociedade que não busca trabalhar o autoconhecimento, a visão do indivíduo como parte construtora e constituinte da comunidade e da natureza, em contraposição ao comportamento normótico[3] do atarefado homem metropolitano, ou uma série de outras consciências individuais que comumente são esquecidas ou depositadas em terceiros. Ainda, dado este macro mau instrumento, não pode-se negar a existência dos pequenos bons instrumentos e do homem bom, execrando-se desta definição a concepção moralista e tipificada, atentando-se ao sentido, ainda que de dificílima definição, do homem que busca compreender-se e autoavaliar-se dia após dia, buscando incessantemente não só conhecer-se, mas compreender o possível do complexo trânsito social à fim de poder mover-se no contra fluxo ou no fluxo global, à depender do objeto analisado.
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