A relação entre Marx e Bourdieu
Por: brugavino • 22/1/2017 • Ensaio • 1.541 Palavras (7 Páginas) • 1.858 Visualizações
Marx e Bourdieu: uma relação paradoxal
Pierre Félix Bourdieu foi um sociólogo francês muito importante, considerado por muitos como o mais importante dos sociólogos contemporâneos e até mesmo chegando a ser comparado com Marx, Weber e Durkheim. Bourdieu não se posiciona como seguidor de nenhum desses três autores clássicos e inclusive nega ser marxista. Mas, não dá para deixar de notar a grande aproximação da teoria de Bourdieu com a teoria de Marx, principalmente se tratando da responsabilidade para com a realidade, a proposta de uma teoria fundamentada na prática, umas práxis.
Campos sociais, capital e habitus: entendendo os principais conceitos de Bourdieu
É possível construir um paralelo entre o espaço social e o estilo de vida dos agentes, e esta relação se dá a partir do conceito de habitus.
Para Bourdieu, as posições sociais ocupadas pelos agentes no espaço social são determinadas a partir da quantidade de capital e da forma como este capital se manifesta pelos agentes. Tem-se como formas de capital que servem como alavancas sociais (capazes de muito rapidamente fazerem mudanças nas posições sociais dos agentes) os capitais econômicos e culturais. Desta forma, Bourdieu propõe uma cartografia social bi-dimencional, com quatro quadrantes, que o ajuda a estruturar melhor as diferenciações presentes entre os agentes sociais.
A primeira questão a se entender é que existem relações objetivas que determinam as posições sociais dos indivíduos e que não são dedutíveis a partir das representações simbólicas que estes apresentam, mas as condicionam e são construídas por elas. “Essas relações objetivas são as relações entre as posições ocupadas nas distribuições dos recursos(...)”(BOURDIEU, 2004, p. 154)
Tais posições sociais são construídas a partir de atributos que estes sujeitos apresentam, de acordo com a maior ou menor presença de capital cultural e de capital econômico.
“Assim, os agentes estão distribuídos no espaço social global, na primeira dimensao de acordo com o volume global de capital que eles possuem sob diferentes espécies, e, na segunda dimensão, de acordo com a estrutura de seu capital, isto é, de acordo com o peso relativo das diferentes espécies de capital, econômico e cultural, no volume total de seu capital.” (IDEM, IBDEM)
O espaço social é uma construção cartográfica que leva em consideração o capital global do sujeito e a composição desse capital nos diversos tipos de capital, em especial o capital economico e o capital cultural. Quanto mais próximos os sujeitos nessa cartografia do espaço social significa que possuem capital global semelhante com uma distribuição também semelhante de capital economico e cultural. Desta forma, quanto mais próximos os sujeitos, maior a chance de manifestarem interesses, habilidades, hábitos e visões de mundo em comum.
Este sistema de esquemas de percepção do mundo que se constrói na e pela posição social do indivíduo se denomina habitus, que ao mesmo tempo forja práticas como avalia e qualifica as percepções sobre a prática.
Portanto o habitus exprime a posição social do sujeito. Por um lado ele estrutura e organiza o conjunto de práticas desse sujeito de acordo com sua posição social e por outro lado é um sistema de percepção e valoração das práticas sociais. É assim que um sujeito de determinada posição social constrói o “costume” de tomar vinho tinto e aprecia este costume como próprio de sua posição social, valorizando seus pares que também o fazem e desvalorizando outros indivíduos de outras posições sociais que por ventura façam o mesmo.
Para compreender a noção de campo que Bourdieu constrói em sua obra é preciso compreender que o autor entende que o conjunto das representações sociais está constantemente em disputa, em luta, em transformação.
Os campos são as arenas no espaço social onde se dão essas disputas.
As visões e divisões – e as visões das divisões – estão em disputa no espaço social – mesmo que sejam produto deste mesmo espaço. O poder de teoria, o poder simbólico, consiste exatamente em conseguir legitimar uma determinada forma de divisão do espaço social, com determinadas palavras, conceitos e relações. Essas divisões do espaço social constróem visões acerca da própria divisão e é exatamente este processo é que cria as bases da legitimidade da própria divisão do espaço social, pois os indivíduos que operam nesse espaço o fazem a partir de construções simbólicas estruturadas por dentro de tais divisões do espaço social.
Portanto, no mesmo espaço social existem diversos campos que se diferenciam e que lutam e interagem entre si, tendo também lutas em seu interior; que são legitimadas pela luta simbólica.
“As relações objetivas de poder tendem a se reproduzir nas relações de poder simbólico. Na luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais exatamente, pelo monopólio da nominação legítima, os agentes investem o capital simbólico que adquiriram nas lutas anteriores” (...).
(IDEM, 163)
Por sua vez, o conceito bourdesiano de habitus tem a ver com a posição dos indivíduos no espaço social. Por um lado ele estrutura e organiza o conjunto de práticas desse sujeito de acordo com sua posição social e por outro lado é um sistema de percepção e valoração das práticas sociais.
É através do habitus que os sujeitos conseguem visualizar o espaço social, construindo um mundo social que parece evidente, um mundo de senso comum.
“Assim, as representações dos agentes variam segundo sua posição (e os interesses que estão associados a ela) e segundo seu habitus como sistema de esquemas de percepção e apreciação, como estruturas congnitivas e avaliatórias que eles adquirem através da experiência durável de uma posição do mundo social.”
(IDEM, 158)
A aproximação pelo compromisso com a realidade e a crítica à tradição hegeliana
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